Editorial

O dispositivo da ditadura

Arbitrariedades do Supremo Tribunal Federal (STF) servem não apenas como inspiração, mas como norma para todos os tribunais do País

Na última semana, uma cidadã comum foi processada por fazer críticas à primeira-dama do estado do Mato Grosso em um aplicativo de mensagens. As críticas, em tom de fofoca, sequer foram enviadas diretamente à primeira-dama, mas sim a pessoas do círculo de convívio da crítica.

Apenas por ter enviado esta mensagem, a cidadã recebeu a pena de três meses de prisão, que foi revertida para pagamento de três salários mínimos, e mais R$4.000 de indenização à primeira-dama, esposa do governador Mauro Mendes. O conteúdo sequer contém um xingamento – o que, de qualquer modo, não seria crime. É repleto de frases como “eu nunca vi uma primeira-dama se intrometer em assuntos de governo que não são da alçada dela” e comparações com primeiras-damas anteriores.

A repressão brutal a uma cidadã comum que criticou, em particular, a primeira-dama de um estado é a demonstração de que o ataque à liberdade de expressão já se tornou uma norma generalizada. Já é grave no momento em que uma organização política, como o Partido da Causa Operária (PCO), é censurado pelas críticas políticas que faz ao crime monstruoso que o chamado Estado de “Israel” está fazendo na Faixa de Gaza. Mas a situação atinge um novo patamar quando casos banais se tornam também alvo de condenações absurdas.

Entre a censura aos partidos políticos e a censura ao cidadão comum, há duas questões decisivas que permitem a sua transmissão. A primeira é de natureza puramente política. Os setores mais organizados são perseguidos e a censura se estabelece, os setores mais avulsos terão menos condições de impor qualquer resistência. A segunda é de natureza jurídica. O que o Supremo Tribunal Federal (STF), que é o artífice dos atentados contra os direitos democráticos, estabelece como norma deve ser, obrigatoriamente, seguido pelos tribunais inferiores.

O regime jurídico brasileiro, portanto, contém um dispositivo que, ao ser acionado, permite transformar o regime político em uma ditadura. Basta que o STF aja de maneira arbitrária que o conjunto dos tribunais o farão.

É por isso que o STF foi eleito pelo imperialismo como a sua mais importante instituição para levar adiante o fechamento do regime. E é por isso que o dever de qualquer organização de esquerda no momento é denunciar a ditadura que está sendo posta em marcha pelo Supremo.

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