Na última segunda-feira, 24 de novembro, o portal Brasil 247 publicou uma coluna intitulada “A mídia brasileira é quem infecta a alma do país com o mal do bolsonarismo”, assinada pelo jornalista Tiago Barbosa. O artigo se volta a justificar a perseguição política a Jair Bolsonaro, apontando-o não como uma figura com popularidade real, fruto do processo político no País, mas como figura puramente artificial impulsionada pela imprensa capitalista. Vejamos:
“A lei reprovou. A Justiça condenou. As urnas já repeliram. Democracia e humanidade enjeitam – por asco e sobrevivência. Do Brasil e do mundo.”
Vale destacar, de início, a farsa das colocações do colunista. O que significa dizer que as urnas repeliram determinada figura, quando ela foi a segunda pessoa mais votada no Brasil, com mais de 50 milhões de votos no primeiro turno e mais de 58 milhões de votos no segundo turno das últimas eleições? O argumento é utilizado puramente com o objetivo de falsear que Bolsonaro sofre uma perseguição política cujo expoente é o Judiciário.
Da mesma forma, o teor do julgamento não é discutido, mas o autor apresenta que “a lei reprovou”. De fato, analisado à luz da legislação brasileira, o julgamento de Jair Bolsonaro é que estaria reprovado, não fosse a ilegalidade da ação de juízes cuja prioridade é a conveniência política, e não a lei. Continuemos:
“Mas há um setor imune à urgência civilizatória de repugnar a vocação nefasta de Jair Bolsonaro e o balaio de ideologias putrefatas.
A mídia corporativa brasileira – ecossistema moldado para abastecer, normalizar, legitimar e amplificar a figura tóxica e a seita alienada. […]
Nada abala a missão autoconferida pela mídia de propugnar o extremismo como legítimo e apto a disputar o poder e corroer o destino do Brasil.
A imprensa naturaliza o chorume do bolsonarismo e valida artificialmente expoentes para influir na política pelo ódio e pela degradação social.”
Aqui vale notar o seguinte: o autor não se refere exclusivamente a Jair Bolsonaro. Na realidade, o que fica claro é que ele se refere às alternativas a Bolsonaro impulsionadas pela imprensa capitalista. Ora, mas essa mesma imprensa persegue Jair Bolsonaro. No entanto, o autor é incapaz de expressar o porquê, e começa a traçar um falso quadro político.
A prisão de Bolsonaro é levada adiante da mesma forma que as prisões da Lava Jato e do Mensalão, com um julgamento absolutamente ilegal, propalado pela imprensa em conjunto com os agentes do aparato repressivo do Estado, em particular do Judiciário. Simultaneamente, essa imprensa, que serve ao imperialismo, busca criar uma alternativa a Jair Bolsonaro, que possui alguma base popular. Uma alternativa, de fato, artificial, mas que precisa ser apresentada como uma continuidade, em algum nível, de Jair Bolsonaro, para que se valide como opção eleitoral e abocanhe seus eleitores. Nada mais é isso que o interesse do imperialismo, seguindo:
“A adaptação é frequente na forma e no conteúdo para reciclar a ojeriza à esquerda e renovar o vínculo antigo com o agente dessa campanha pelo retrocesso – Bolsonaro.
A imprensa tolerou o tributo à tortura no voto do golpe em Dilma, equiparou a um professor na eleição, escalou apresentadores para enxergar virtudes na personificação do fascismo.”
A ojeriza à esquerda é a base fundamental da política do imperialismo. Para levar adiante uma maior exploração da economia nacional, é imperioso retirar os setores populares de qualquer esfera de governo. A população, afinal, não deve poder interferir no processo de espoliação dos recursos do Brasil. Assim como a esquerda, Bolsonaro possui relativa popularidade, portanto deve responder a sua base, tornando-o inviável para levar adiante o programa do imperialismo no nível em que a crise econômica exige sua aplicação.
Apesar de citar a eleição de 2018, o colunista se esquece de que até cerca de 10 dias para aquelas eleições, a burguesia ainda tentava desesperadamente emplacar seu candidato favorito, Geraldo Alckmin, do PSDB. Foi a incapacidade de fazê-lo, pela dissolução política da direita tradicional, que a burguesia foi forçada a apoiar Jair Bolsonaro, o tempo todo buscando controlá-lo, realizando diversas exigências, o que ocorreu ao longo de seu governo, como com a divisão entre ministros ideológicos (bolsonaristas), e técnicos (neoliberais). O colunista suprime essa diferença, e passa a afirmar que a máquina de imprensa que condena Bolsonaro está a defendê-lo (!). Mesmo evidentes manobras para controlar Bolsonaro são interpretadas erroneamente:
“Cada recuo ínfimo na truculência no governo era abençoado com tentativas de humanizar as monstruosidades – “mudou o tom”, celebrava o noticiário.”
Ora, mas isso é um exemplo não de apoio, mas da pressão da imprensa pró-imperialista sobre Bolsonaro para que adotasse seu programa. Criticá-lo veementemente quando se afasta do pretendido, e elogiar quando se aproxima. É uma demonstração de que, em primeiro lugar, a política de Jair Bolsonaro não era e não é a mesma política que a do imperialismo, e em segundo lugar, uma demonstração do motivo pelo qual foi retirado do pleito do ano que vem, ao menos até o momento. Novamente uma inversão:
“Bolsonaro é condenado – e a mídia ataca o tribunal e o processo.
Bolsonaro está na iminência da pena – e a mídia amiga recomenda a regalia do lar.
A docilidade contínua difundiu como aceitáveis tanto a figura como o imaginário de Bolsonaro e ajudou a envenenar fração da opinião pública com princípios nefastos e incivilidades.”
Por que a imprensa ataca moderadamente o tribunal? É evidente, a burguesia pode falhar em emplacar um substituto no ano que vem, logo, é preciso manter a opção Bolsonaro ao alcance, e a anulação do processo é um meio para isso. De outra forma, a condenação ilegal do político e a perseguição geram grande descontentamento entre sua base, são fator de crise política no País. Ou seja, a imprensa busca controlar os excessos do STF para evitar detonar a crise política. O plano é retirar Bolsonaro da eleição para lançar a terceira via, não disparar uma mobilização bolsonarista contra o STF. E isso se dá pelo apoio popular que tem Bolsonaro.
Temos uma nova inversão, pois o apoio do político é real, não é um fator produzido pela imprensa capitalista, mas um sintoma da decomposição, portanto da rejeição popular ao regime político, o qual é criticado frontalmente por Jair Bolsonaro, ainda que de maneira demagógica. E a adesão de uma política impopular pelo próprio colunista é mascarada com a passagem anterior, levando a um chamado à perseguição política:
“Bolsonaro pertence ao lixo da história – não à democracia. É caso de polícia – não política.”
Tiago Barbosa, sem conseguir apresentar uma política alternativa, mais popular para disputar o eleitorado com o bolsonarismo, precisa portanto convocar a repressão estatal contra Bolsonaro. O problema, é óbvio, é que Tiago Barbosa não controla esse aparato repressivo. Sendo assim, está de fato seguindo a política do imperialismo, ou seja, a política do golpe da terceira via para as eleições do ano que vem, e agora se revolta pois foi levado a acreditar que estava levando adiante um programa para emplacar novamente Lula na presidência. Como ingênuo, caiu na arapuca armada pelo imperialismo, que já dispara sobre o governo, minando seu outro adversário no campo eleitoral, e lançando seus próprios candidatos. A incompreensão do autor é evidente:
“Se séria, humana e democrática, legaria Bolsonaro ao esquecimento para sanear a convivência por um Brasil menos injusto, mais pacífico e coletivo.”
Ele apresenta a imprensa controlada pelo imperialismo como podendo ser democrática. Ignora assim de maneira cabal os interesses que regem tais veículos, uma ignorância da própria base de funcionamento da sociedade.
E agora? A terceira via, a imprensa capitalista, o STF, não combaterá seu próprio golpe. O que fará a esquerda?





