Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

O Cortiço: 135 anos de um romance revolucionário

Obra de Aluísio Azevedo é a expressão do processo revolucionário do Brasil pós Proclamação da República

Há 135 anos, em 1890, Aluísio Azevedo (1857-1913) publicava sua principal obra, o romance O Cortiço. Considerado a obra-prima do movimento literário naturalista no Brasil, o livro não foi o fundador desse movimento. O romance O Mulato, também de Azevedo e publicado em 1881, é considerado o inaugurador do Naturalismo no Brasil.

A edição 55 do Dossiê Causa Operária, da segunda metade de fevereiro, trará um artigo especial sobre o romance, um dos mais importantes da literatura brasileira. O Cortiço foi publicado um ano após a Proclamação da República e dois após a Abolição, portanto, o romance retrata um Brasil que passava por tais transformações revolucionárias. O próprio Azevedo era um abolicionista convicto e em seus romances faz uma denúncia social da situação das classes subalternas e a da hipocrisia da burguesia.

Por meio das teses naturalistas vigentes entre os intelectuais da época, Azevedo procura não apenas mostrar a sociedade brasileira, como compreendê-la. É a busca, tão presente entre a intelectualidade, da chamada “identidade nacional”, tema que será constante entre todos os movimentos intelectuais até as vanguardas modernas do Século XX. Sua preocupação é não apenas com a chamada identidade nacional, mas com a própria formação da sociedade brasileira.

O autor de O Cortiço volta-se para as camadas baixas da sociedade numa Rio de Janeiro em lento processo de modernização e urbanização. Otto Maria Carpeaux, em sua História da literatura Ocidental, afirma que Aluísio Azevedo, ainda que tenha “os defeitos dos naturalistas menores e seja pouco original” se comparado aos grandes expoentes internacionais dessa corrente, seus “romances sugerem até hoje a impressão de ‘cheio de vida’; e o mérito de ter descoberto a vida baixa na capital brasileira dá valor permanente a romances que já se transformaram em documento de sociologia histórica.”

Apesar do esforço em apresentar teses científicas, não podemos exigir do autor o máximo rigor científico e devemos analisar o livro como obra de arte. Não como um tratado sociológico, mas como um “documento sociológico”, conforme destaca Carpeaux. Trata-se, antes de mais nada, de um romance, de uma obra artística, e como tal deve ser analisada. Mas não há dúvida que o esforço intelectual, por si só, representa uma evolução importante no desenvolvimento intelectual no Brasil.

O naturalismo brasileiro está ligado ao processo revolucionário da crise do Segundo Império, que resultaria na abolição da escravidão em 1888 e na Proclamação da República em 1889, que se radicaliza nos anos seguintes. As ideias materialistas e positivistas, que vinham dos movimentos revolucionários europeus, se tornaram a cobertura ideológica para os ideais republicanos e abolicionistas que unificaram a intelectualidade brasileira e importantes setores das forças armadas, aumentando cada vez mais o apoio entre a população. Essa efervescência é o que vai resultar na abolição e na Proclamação, ambas, parte do mesmo movimento revolucionário contra a dominação do Segundo Império, já a essa altura uma instituição totalmente reacionária e um obstáculo ao desenvolvimento do País.

A crise do regime político do Segundo Império assume enormes proporções e se transforma em um movimento revolucionário. Tal movimento de rejeição ao regime político se expressou no terreno das artes, na forma de uma ruptura com as correntes estabelecidas.

A obra de Azevedo é revolucionária como arte e expressava o processo revolucionário da época. Prova disso é a grande popularidade de O Cortiço entre os contemporâneos do escritor.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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