O artigo Netanyahu, o derrotado pela paz, assinado por Oliveiros Marques e publicado pelo Brasil 247, é um panfleto em defesa da política cínica do imperialismo.
Assim Marques começa o seu texto:
“O grande derrotado pelo acordo de paz em Gaza não é o Hamas, nem tampouco o povo palestino, que paga há décadas o preço mais alto de uma guerra que nunca escolheu. O verdadeiro derrotado chama-se Benjamin Netanyahu – o primeiro-ministro israelense que construiu toda a sua carreira política sobre o discurso do ódio, da força, da invencibilidade militar e da promessa de “segurança total” para Israel.”
O articulista está certo em dizer que Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e o povo palestino não saíram derrotados da guerra. Mas será que o articulista acerta quem de fato foi derrotado e quem é o grande vencedor?
Netaniahu não é o grande derrotado, e sim o sionismo. De fato, o primeiro-ministro israelense saiu desmoralizado da guerra, após prometer “exterminar” o Hamas e acabar sendo obrigado a negociar com o grupo que chamou de “terrorista”. No entanto, o problema não se resume, como Marques faz crer, a uma política equivocada de um governante tresloucado. O grande derrotado foi o sionismo, pois a guerra colocou a própria existência do Estado de “Israel” em xeque.
Não foi apenas o discurso agressivo e fascistoide de Netaniahu foi derrotado. O envio de armas por parte dos países do mundo, a existência de uma “Autoridade Palestina” que reprime palestinos, a propaganda mentirosa do Hasbará: todo o aparato sionista foi duramente afetado pela guerra. Esta derrota, por seu turno, é muito mais profunda e muito mais importante que a derrota do político que conduziu “Israel” durante os dois anos de genocídio.
Apresentar Netaniahu como o grande derrotado não é um expediente inocente. É um recurso que visa proteger o sionismo de sua destruição inevitável.
O autor segue, então, dizendo que:
“O acordo, ao contrário do que dizem seus aliados, não é uma rendição de Israel. É um reconhecimento de que a força tem limites. Que tanques e mísseis não resolvem o que exige política, empatia e coragem moral.”
Aqui, o autor não apenas tenta salvar o sionismo decadente e odiado por todo o planeta, mas o próprio imperialismo. Sim, o acordo é uma rendição de “Israel”. Em que outra circunstância uma força nazista, capaz de matar mais de 20 mil crianças, iria cessar uma guerra se não fosse porque foi rendida? Os governantes de “Israel” não foram “convencidos”. A extrema direita que sonha com a “Grande Israel” não foi “convencida”. O parlamento que aprovou a anexação da Cisjordânia não foi “convencido”. Os colonos que que vêm roubando terras há sete décadas não foram “convencidos”.
“Israel” se rendeu porque não suportava mais a guerra. Nada menos que 20 mil soldados israelenses foram perdidos durante a guerra contra a Resistência. O Hamas, segundo informações do próprio governo norte-americano, conseguiu recrutar tantos combatentes quanto foram mortos na luta. Enquanto isso, a entidade sionista se viu obrigada a usar de violência para recrutar seus soldados, entrando em choque até mesmo com os judeus ultra-ortodoxos, que constituem uma parte significativa de sua população.
Tanques e mísseis jamais serão parados com “empatia”. Acaso Marques esqueceu quem está por trás do genocídio? Quem é que o financiou a cada momento? Que é que forneceu cobertura política? Quem impediu que “Israel” fosse sancionado internacionalmente? Quem é que colocou seus serviços de inteligência à disposição para perseguir, censurar e assassinar inimigos do sionismo?
A resposta para tudo isso é uma só: o imperialismo. Aquela mesma força que despejou as únicas bombas atômicas que já foram atiradas contra seres humanos na história da humanidade. A mesma força que promoveu a esmagadora maioria de golpes de Estado que o mundo já viu.
Se foi “a paz” que se impôs, essa “paz” teria sido Donald Trump, Emmanuel Macron e os demais líderes imperialistas que pressionaram Netaniahu. E não o povo palestino, por meio de sua Resistência, que impôs a paz a Netaniahu.
Essa concepção não apenas é um ultraje ao povo palestino, como também desarma os oprimidos para o próximo período de lutas. Cada vez mais acuado, o imperialismo agirá com cada vez mais violência. E não bastarão discursos para impedir que essa onda se desenvolva.




