Polêmica

O cinismo da imprensa burguesa: ‘Israel não comete genocídio’

A imprensa burguesa brasileira reproduz matéria de jornal sionista que acoberta os crimes de "Israel"

O jornal Folha de São Paulo mostrou a disposição da imprensa burguesa em defender os crimes de “Israel” na coluna publicada na última quarta-feira (26), escrita por Benny Morris, com o título “Israel não comete genocídio em Gaza, mas pode estar a caminho”. O articulista publicou originalmente a coluna no jornal israelense Haaretz. O cinismo e a desfaçatez contidos já no título da matéria impressionam, mas seu conteúdo demonstra que não há limites para as mentiras da burguesia quando o assunto é justificar a matança promovida pelo imperialismo.

O primeiro parágrafo da matéria já coloca de forma explícita o problema: “Israel não está cometendo genocídio em Gaza. O procurador em Haia e todos os professores eruditos, de Omer Bartov para baixo, que falam sobre genocídio, estão errados. O governo não tem política de genocídio, não há decisão dos líderes israelenses de cometer genocídio, não há intenção deliberada de exterminar os palestinos e não há ordens vindas do governo para o Exército, ou dos chefes do Exército para as fileiras operacionais para assassinar os palestinos. Muitos deles foram mortos, mas isso não é política”, diz o articulista publicado pelo jornal burguês.

Para desmentir uma colocação tão cínica e criminosa não é necessário muito, basta apresentar os números: desde o princípio da crise, são mais de 50 mil palestinos martirizados, e destes, cerca de 17,5 mil são crianças. Nos últimos anos, os bombardeios de ‘Israel’ se tornaram a principal causa de mortalidade infantil no mundo. Em um momento do conflito, calculava-se que morria uma criança cada 10 minutos em Gaza.

Além dessa questão, há o problema da infraestrutura de Gaza, que foi totalmente devastada pelos sionistas. Em análise realizada em janeiro deste ano pela Universidade de Oregon, dos EUA, estima-se que 60% dos edifícios de Gaza foram destruídos pela ação criminosa israelense. Isso inclui hospitais, escolas, universidades, residências, etc. Trata-se de uma política deliberada de destruição de toda uma cidade, um processo evidentemente genocida.

Dizer que não há uma política genocida ou que não há decisão dos “líderes israelenses” de cometer genocídio são mentiras descaradas. São inúmeras as declarações de políticos israelenses, principalmente aqueles do partido de Netaniahu, mostrando a sua disposição para matar todos os palestinos. No começo de toda a crise, a deputada israelense, Tally Gotliv, chegou a defender a utilização de bombas atômicas contra os palestinos.

O colunista, no entanto, afirma que “o genocídio pode estar próximo. Israel pode estar a caminho, já profundamente envolvido no ciclo que leva ao assassinato em massa, moldando os corações e mentes do público”. Sua afirmação é uma verdadeira ameaça contra os palestinos que seguem vivos e lutando na Faixa de Gaza.

Outro interessante aspecto político revelado pelo texto de Morris é o posicionamento dos supostos sionistas “de esquerda”, como a publicação para a qual ele escreve originalmente, o Haaretz. Ele faz uma suposta crítica à posição de Netaniahu e da extrema-direita israelense, o que acaba por enganar alguns desavisados: “Muitas pessoas do campo religioso sionista e outros partidários ferozes de Binyamin Netanyahu declaram abertamente seu desejo de arrasar Nablus (a bíblica Shechem, como é chamada em hebraico), Jenin e outras aldeias árabes. Não muito tempo atrás, no funeral de duas mulheres do assentamento de Kedumim, na Cisjordânia, assassinadas em um ataque terrorista, os palestrantes pediram a destruição de cidades e aldeias palestinas”.

Veja a manipulação por ele empregada: primeiramente, ele procura criticar Netaniahu e seus partidários, chamando-os de “religiosos” e de “ferozes”, pelo fato de estes declararem abertamente seu desejo de arrasar terras árabes (embora, ele mesmo tenha dito anteriormente que não há diretriz do governo israelense no sentido de cometer genocídio contra os palestinos). Aparentemente, para ele seria melhor que o genocídio fosse cometido sem declarações. No entanto, ele dá uma justificativa moral para essa posição, afirmando pedidos por destruição também teriam se dado durante o funeral de duas colonas (ou seja, membros de uma mílicia de extrema-direita).

Sua crítica, nesse sentido, é totalmente vazia. Não se trata de uma condenação do morticínio cometido por Netaniahu, mas de uma crítica ao seu discurso e a outros discursos semelhantes (embora ele insinue que seja perdoável pois acontecem no calor de acontecimentos como o funeral de duas israelenses). É totalmente descabido e até um pouco ridículo – enquanto os sionistas choramingam duas mulheres mortas em funerais confortáveis, os palestinos estão amargando uma guerra violentíssima em seu território, que já está quase todo destruído pela ação criminosa do sionismo.

Mais abaixo, o autor tem a coragem de procurar justificar toda a matança criminosa do sionismo, interpretando que os verdadeiros genocidas seriam, na verdade, os próprios palestinos. Ele afirma que há um “processo paralelo de desumanização dos judeus que se desenvolveu entre nossos vizinhos muçulmanos palestinos”. O que significa, na prática, que os palestinos estão errados em sentirem ódio daquelas pessoas que assassinaram seus familiares – eles deveriam aceitar os crimes contra eles de cabeça baixa.

Ele reforça, citando um trecho da carta fundadora do Hamas, de 1988: “A carta do (…) diz que os judeus devem ser perseguidos e mortos, e que as pedras e árvores atrás das quais o judeu pode se esconder são obrigadas a cooperar e a informar os perseguidores que o judeu está se escondendo ali”. Ele segue, dizendo que esse pensamento é “genocida”.

O argumento não convence ninguém. Então, o governo israelense mata 50 mil pessoas e não comete genocídio, mas um trecho do texto de fundação do Hamas, que já está inclusive proscrito pois eles lançaram outro texto em 2017 com outras considerações políticas, seria uma expressão de um pensamento genocida.

O trecho destacado é proveniente do Corão, e procura retratar uma espécie de profecia do fim dos tempos, dizendo que isso ocorrerá quando o mundo inteiro estiver ao lado dos muçulmanos. Não é uma questão de genocídio contra os judeus.

E mesmo que fosse assim, o Hamas é um partido que surgiu em meio à luta dos palestinos contra os ocupantes sionistas, não se pode tecer um julgamento moral se eles veem a necessidade de acabar com os sionistas para conquistarem sua libertação.

Ele também classifica a espetacular ação da Resistência Palestina do 7 de outubro, como um “massacre em massa de judeus”. Além disso, afirma que a ação “não poupou crianças nem idosos”, sem mencionar algo que já foi admitido pelo próprio Haaretz: a maior parte dos judeus mortos no 7 de outubro foram assassinados pelo próprio exército israelense. Ele ainda diz que o “horror” dos atos cometidos pelos combatentes “só pode ser entendido como uma expressão do ódio que ferve do Alcorão e da derivada carta do Hamas”, o que é absurdo. O horror, que não foi tanto assim, é uma reação muito justa e correta de um povo oprimido por décadas pela máquina de matanças do imperialismo.

O sionismo, seja ele de direita ou de “esquerda”, é uma ideologia fascista e supremacista. É preciso combatê-la com todas as forças e não ter nenhuma vacilação quanto a isso. É preciso apoiar o Hamas sem reservas e sair às ruas em defesa dos palestinos e contra os sionistas cínicos e genocidas.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.