Palestina

O cessar-fogo é parte de uma triste história?

O jornal Página 13, da Articulação de Esquerda do PT, publicou um artigo que ataca a vitória do Hamas e da resistência palestina em Gaza

O jornal Página 13, pertencente à tendência Articulação de Esquerda, do Partido dos Trabalhadores (PT), publicou, no dia 21 de janeiro, um texto de balanço do cessar-fogo entre “Israel” e o Hamas. A matéria, assinada por Tiago Prado, segue a conclusão infantil da maioria da esquerda brasileira, que não consegue enxergar – ou não quer admitir – a vitória esmagadora da resistência, em especial do Hamas, contra a entidade que ocupa as terras palestinas.

Em primeiro lugar, gostaríamos de pedir ao leitor que tiver curiosidade por ler o artigo publicado no jornal petista, para que substitua “mundo” por “o PT”, já que Tiago Prado se utiliza da generalização de todo o planeta terra para dizer que ninguém faz nada pela Palestina e só passou os últimos 15 meses observando o genocídio israelense sobre Gaza. Se trata, claro, de uma acusação mentirosa, já que muitos foram os ativistas e militantes em todo o mundo que se solidarizaram e lutaram pela causa palestina, incluindo, aqui no Brasil, o PCO. Já o PT – com raras exceções, como a de Breno Altman e José Genoino, que participaram da campanha pela Palestina – realmente assistiu em silêncio ao genocídio em Gaza. Na ocasião do ato contra a presença dos membros do G20 no Rio de Janeiro, os quais enviaram armas para “Israel” massacrar mulheres, crianças e idosos em Gaza, o governo federal fez questão de impedir que a manifestação acontecesse de verdade.

Todo o texto de Prado é um lamento pelo cessar-fogo. Como observamos no trecho a seguir:

“Gaza, um pedaço de terra cercado por muros físicos e ideológicos, vive mais um episódio de sua interminável tragédia. O tão celebrado cessar-fogo entre Hamas e Israel trouxe manchetes otimistas para líderes mundiais, mas para quem vive em Gaza, o acordo é uma pausa para contar os mortos e reunir os pedaços do que um dia foi chamado de lar.”

O que, exatamente, Tiago Prado propõe ao invés de um cessar-fogo? Se o cessar-fogo é tão ruim e somente mais uma etapa de dor para os palestinos, o que deveria ser feito em seu lugar? Seria melhor que “Israel” continuasse com os bombardeios em larga escala? Que os militares israelenses continuassem na Faixa de Gaza?

Afirmações como a do parágrafo acima não fazem sentido nenhum. Em todos os momentos da humanidade, sempre que uma força de ocupação abandona o território ocupado, é motivo de comemoração para as pessoas que sofreram com a ocupação.

“A troca de reféns trouxe alívio para poucos. Três israelenses foram libertados, junto com 95 palestinos [grifo nosso], muitos deles presos sem julgamento. Mas, enquanto os holofotes focam nessas trocas, ninguém parece lembrar que Gaza precisa de mais do que isso. Precisa de dignidade, de paz real e de um mundo que se importe mais com pessoas do que com acordos que só perpetuam o ciclo de violência.”

Talvez fosse necessário que o autor estudasse melhor a história de seu próprio país, já que a libertação de presos políticos na ditadura após sequestros como o do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick libertou apenas 15 presos políticos. Ainda assim, foi uma vitória do povo contra a ditadura e, mesmo que os holofotes focassem nisso enquanto a vida do restante da população ainda estivesse sob as botas dos militares, foi uma grande vitória. A liberdade daqueles que lutam é parte importante da luta de libertação de todos os povos.

Novamente, Prado fala sobre a necessidade de um “mundo que se importe mais com as pessoas do que com acordos que só perpetuam o ciclo de violência”. Novamente fica a dúvida: seria melhor que o acordo não existisse? Que “Israel” continuasse bombardeando o tempo todo as mulheres, crianças e idosos palestinos? É assim, preferindo o bombardeio contra crianças, que o autor demonstra a importância que dá aos palestinos?

Muito interessante é o trecho a seguir: “a reconstrução não é só física; é psicológica e humana. Mas como se reerguer quando tudo ao redor – do solo aos sonhos – foi pulverizado?”.

Para o autor do texto, não existe mais Faixa de Gaza. Tudo foi “pulverizado”. No entanto, quando olhamos as imagens que nos chegam do lugar, vemos milhares de militantes da resistência palestina, em especial militantes do Hamas, organizando a reconstrução de todo o local, o recebimento de ajuda humanitária, os próximos passos do acordo de cessar-fogo e muito mais que só não nos é possível ver por conta da censura nas redes sociais.

Apesar do genocídio, a Palestina e seu povo saem fortalecidos. Um dos exércitos mais bem armados do mundo, se utilizando da ajuda dos países mais ricos do planeta, não conseguiu vencer um povo que vive em um campo de concentração a céu aberto. Esse povo, muito menos armado, conseguiu sobreviver e impor os termos do cessar-fogo à potência militar em questão, mesmo após 85 mil toneladas de bombas despejadas sobre suas cabeças, a maior quantidade já utilizada de bombas na história e o equivalente a seis bombas atômicas como as de Hiroxima.

O acordo de cessar-fogo, ao contrário do que vem sendo apresentado, foi a admissão por parte de “Israel” de que não conseguiria continuar atacando Gaza, já que a resistência acabou com suas forças na região. A vitória do povo palestino com o cessar-fogo se junta a outras vitórias como a liquidação dos governos imperialistas de Joe Biden, de Trudeau, de Olaf Scholz, fora o governo de Macron, que só não caiu ainda por conta de um golpe contra a população francesa.

Além disso, o próprio governo de Netaniahu está em xeque, já que muitos membros de seu governo estão abandonando o barco.

As críticas feitas ao acordo escondem o medo de alguns setores da esquerda em relação à luta. Acreditam que a ação do Hamas e de toda a resistência palestina no dia 7 de outubro de 2023 não valeu a pena devido ao genocídio perpetrado por “Israel”. No entanto, a Palestina nunca esteve tão perto de sua libertação e o que aconteceu após a lendária Operação Dilúvio de Al-Aqsa, para além das vitórias imediatas dos palestinos, mostrou aos oprimidos de todo o mundo que sempre é possível vencer o imperialismo.

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