Oriente Médio

O apoio de ‘Israel’ a milícias drusas na Síria

Apoio sionista está ajudando a redefinir fronteiras do país estraçalhado pelo imperialismo

MintPress – Quando o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, exigiu que o exército sírio se retirasse do sul do país, usando a situação da minoria drusa como pretexto, ele estava baseando-se em um plano de décadas para dividir a Síria. Após cooptar líderes de milícias drusas, “Israel” planeja acabar com o Estado sírio como o conhecemos.

“Exigimos a completa desmilitarização do sul da Síria, nas províncias de Quneitra, Daraa e Suwayda, das forças do novo regime. Da mesma forma, não toleraremos qualquer ameaça à comunidade drusa no sul da Síria”, anunciou Netaniahu no domingo. Suas declarações foram denunciadas pelo presidente do novo governo de transição sírio, Ahmed al-Shara’a (também conhecido pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Julani), que também lidera o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), antigo braço da Al-Qaeda na Síria.

Nas primeiras 24 horas após a queda do ex-presidente sírio Bashar al-Assad, o exército israelense descartou o tratado de desengajamento de 1974 com Damasco. Em seguida, ocupou mais territórios sírios e lançou a maior campanha aérea de sua história, destruindo as forças armadas do país. Em resposta, a nova liderança síria inicialmente tentou estender um ramo de oliveira a “Israel”, chegando a cogitar a normalização com Tel Aviv.

Em vez de responder positivamente às propostas de Damasco, “Israel” começou a desenvolver um plano para explorar a situação de dois grupos minoritários sírios: os curdos e os drusos. As regiões onde esses grupos vivem são estratégicas para a implementação de um esquema que visa expandir o controle de facto de “Israel” para além do rio Eufrates.

Após a “Operação Verdadeira Promessa” — ataque iraniano com mísseis balísticos e drones contra “Israel”, em retaliação ao bombardeio israelense contra a embaixada do Irã em Damasco — o ministro da Defesa israelense, Joave Galante, declarou que havia surgido uma oportunidade para formar uma nova aliança estratégica “contra essa grave ameaça do Irã”. As palavras de Galante foram amplamente interpretadas como um apelo para a criação de uma frente conjunta com regimes árabes e movimentos curdos contra o Irã.

Em novembro passado, o ministro das Relações Exteriores de “Israel”, Gideon Sa’ar, deixou claro que a prioridade de Tel Aviv deveria ser apoiar as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos e que controlam o nordeste da Síria. A imprensa israelense relatou que as FDS teriam solicitado formalmente ajuda a “Israel”. As FDS são apoiadas há muito tempo pelos Estados Unidos, funcionando como um proxy para garantir o controle de Washington sobre os campos de petróleo e as terras agrícolas férteis da Síria.

Pouco se sabe, no entanto, sobre os laços entre “Israel” e as FDS. Um ex-oficial sênior do governo sírio deposto afirmou, sob condição de anonimato, ao MintPress News, que “Israel” transferiu ativos militares — como drones — para o nordeste da Síria já em 2017. Segundo ele, o objetivo era lançar operações contra grupos de milícias iraquianas e forças da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC).

Por outro lado, a estratégia de alavancar grupos separatistas drusos no sudoeste da Síria foi uma operação muito mais complexa, que só começou a ganhar forma a partir de 2020.

 Conspirações Ganhando Vida

Está bem documentado que “Israel” forneceu financiamento direto, além de apoio médico e militar, a pelo menos uma dúzia de grupos da oposição síria desde 2013, com o objetivo de promover uma mudança de regime no país. Um desses grupos militantes foi o violentíssimo HTS, liderado atualmente pelo presidente sírio Ahmed al-Shara’a. Na época, pouco se falava sobre o recrutamento de agentes drusos por parte de “Israel”.

A população drusa está concentrada no sul da Síria, no Líbano e no norte da Palestina ocupada, cada comunidade seguindo uma trajetória histórica distinta. Durante o Mandato Britânico na Palestina, os drusos palestinos se alinharam ao movimento sionista — uma posição que adotaram firmemente durante a Revolta Árabe de 1936-39. Em contraste, os drusos na Síria e no Líbano seguiram caminhos políticos e sociais muito diferentes.

Em 1925, Sultan al-Atrash, um importante líder druso na Síria, liderou a Grande Revolta Síria contra o domínio colonial francês, tornando-se um símbolo de resistência no mundo árabe. Enquanto os drusos na Palestina mais tarde se aliaram ao Estado israelense — servindo em seu exército e identificando-se como israelenses —, aqueles nos Montes Golã ocupados assumiram uma postura oposta. Quando “Israel” anexou os Montes Golã sírios em 1981, a maioria da população drusa rejeitou a cidadania israelense, mantendo sua lealdade à Síria.

Durante a guerra na Síria, os drusos, em sua maioria, apoiaram o governo sírio, que historicamente os protegeu contra grupos como o ISIS e a Al-Qaeda. Isso representou um desafio para “Israel”, que há tempos buscava estabelecer uma “zona de amortecimento” dentro da Síria.

Em fevereiro de 2013, “Israel” propôs a criação de uma zona desmilitarizada que se estenderia por dez milhas dentro do território sírio, com o objetivo de garantir terras estratégicas que havia falhado em capturar na guerra de 1973 contra o governo de Hafez al-Assad. Ainda naquele ano, outras duas zonas de amortecimento foram elaboradas em coordenação com a Jordânia e os Estados Unidos. Uma se estendia do sul de Damasco até a fronteira jordaniana, enquanto a outra cobria a área entre Daraa e a província drusa de Suwayda.

Para reforçar essas zonas, foi sugerido que os EUA posicionassem uma força de 20.000 soldados em alerta na Jordânia como garantia de segurança. Ao mesmo tempo, “Israel” seguiu uma estratégia dupla — apoiando grupos sectários militantes que atacavam comunidades minoritárias sírias, enquanto simultaneamente tentava cultivar alianças com facções drusas sírias. O objetivo era formar uma aliança protetora contra os mesmos grupos que “Israel” estava secretamente apoiando.

Em 2015, enquanto “Israel” apoiava a Frente al-Nusra (atual Hay’at Tahrir al-Sham, ou HTS), o grupo realizou um massacre de 20 civis drusos. Esse massacre foi usado como justificativa para mais uma tentativa israelense de estabelecer uma zona de amortecimento, com autoridades argumentando que isso era necessário para impedir um “genocídio em massa” contra os drusos sírios. No entanto, a proposta não avançou.

Apesar disso, “Israel” não abandonou seus esforços para conquistar os drusos. Mesmo quando a guerra síria começou a arrefecer em 2018, a aproximação israelense continuou. Enquanto isso, os drusos sofreram uma série de ataques devastadores, incluindo um massacre realizado pelo ISIS em Suwayda, em julho de 2018, que deixou mais de 200 mortos.]

A Conspiração para Apoiar Separatistas Drusos

Em 2019, o governo Trump aprovou as sanções da Lei César, que entraram em vigor no ano seguinte, causando um golpe devastador na já frágil economia da Síria. À medida que a crise financeira do país se aprofundava, “Israel” e os EUA viram uma oportunidade para explorar as crescentes tensões entre Damasco e os drusos sírios.

Em junho de 2020, o impacto das sanções já era sentido no país. O valor da libra síria despencou, agravando ainda mais a crise econômica. Nesse contexto, começaram a surgir protestos, inicialmente pequenos, mas crescendo em escala e intensidade a cada ano.

Em 7 de julho de 2021, surgiu um grupo separatista druso conhecido como Partido Liwa Sírio, que rapidamente estabeleceu laços com Washington através da província de al-Tanf, uma área ocupada pelos EUA a oeste de Suwayda. A ascensão do grupo representou uma mudança significativa na dinâmica de poder da região, alinhando-se aos interesses norte-americanos, apesar da oposição dentro da própria comunidade drusa.

O Partido Liwa Sírio manteve vínculos diretos com uma milícia sectária drusa chamada “Força de Contraterrorismo”, que declarou publicamente que sua principal missão era “conter a facilitação do regime às milícias iranianas, principalmente o Hezbollah libanês”.

Em 2022, à medida que os protestos antigoverno em Suwayda aumentavam, “Israel” passou a desempenhar um papel mais ativo na definição do rumo político da região. O xeque Mowafaq Tarif, líder da comunidade drusa em “Israel”, foi enviado a Moscou para defender a federalização da Síria, um movimento alinhado com os interesses israelenses de enfraquecer Damasco.

Em setembro de 2023, os protestos eclodiram novamente, mas desta vez a imprensa corporativa ocidental os enquadrou como manifestações lideradas por mulheres, amplificando sua visibilidade global. No mesmo mês, o Congresso dos EUA aprovou medidas para reforçar ainda mais as sanções devastadoras contra a Síria, aprofundando a crise econômica do país.

Após a queda do ex-presidente Bashar al-Assad, um grupo autodenominado Conselho Militar Interino emergiu em Suwayda, liderado por Tareq al-Shoufi. No mesmo dia em que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netaniahu exigiu a retirada de todas as forças do exército sírio do sul da Síria, al-Shoufi anunciou a formação do Conselho Militar de Suwayda (CMS).

O CMS, uma coalizão de milícias separatistas drusas, rapidamente se alinhou a “Israel”. Seu líder, o comandante al-Shoufi, recebeu abertamente a promessa de Netaniahu de “proteger” os drusos sírios. No entanto, o conselho não representa a maioria da população drusa da Síria, muitos dos quais mantiveram diálogo com Damasco.

Líderes drusos proeminentes, incluindo Hikmat al-Hajeri, líder espiritual da comunidade drusa na Síria, denunciaram o CMS, chamando-o de ilegítimo e rejeitando sua autoridade. Apesar das tentativas ocidentais e israelenses de fragmentar a comunidade, setores significativos da liderança drusa na Síria continuam a rejeitar a interferência estrangeira em seus assuntos internos.

Apesar das questões de legitimidade, os esforços israelenses para criar um Estado druso no sul da Síria continuam. Já há planos em andamento para oferecer salários de aproximadamente 100 dólares por dia aos drusos sírios, a fim de auxiliá-los na construção de infraestrutura de assentamentos ilegais nas Colinas de Golã ocupadas. Essa estratégia segue o modelo da política da “Boa Cerca” dos anos 1980, que “Israel” usou para garantir uma posição no sul do Líbano através do uso de forças locais, na época compostas predominantemente por milícias cristãs.

Tanques israelenses continuam a avançar cada vez mais no território sírio, com alguns até mesmo exibindo a bandeira nacional drusa. Enquanto isso, ataques aéreos israelenses bombardeiam alvos por todo o país impunemente, desestabilizando ainda mais uma nação já à beira da fragmentação.

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