Antônio Carlos Silva

Professor de Matemática. Fundador do PCO, integra a sua Executiva Nacional. Atuou na fundação do Coletivo de Negros João Cândido. Liderou a criação e coordenação dos Comitês de Luta contra o golpe e pela liberdade de Lula. Secretário Sindical Nacional do PCO, coordena a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, da CUT.

Coluna

O 1º de Maio e a nova etapa da crise e do golpismo

Reagir ao cerco da direita e à contraofensiva do imperialismo com uma política própria dos trabalhadores, rompendo com a frente com a burguesia golpista

A crise histórica do capitalismo se desenvolve a uma enorme velocidade e vai assumindo cada vez mais feições de guerras e golpes, promovendo uma polarização política cada vez maior e inevitável. Ela leva a um enfrentamento cada vez mais intenso dos setores mais poderosos do capitalismo não apenas com a classe trabalhadora e os povos oprimidos de todo o mundo, mas também a intensas lutas internas contra os setores mais débeis da própria burguesia.

Ao mesmo tempo em que os setores mais poderosos do imperialismo seguem com sua contraofensiva e ameaçam o mundo até mesmo com uma terceira guerra mundial — como fica evidente nos planos de centenas de bilhões de dólares para o rearmamento da Europa e nas ameaças dos “democratas” de usarem armas nucleares contra a Rússia — intensifica-se a guerra comercial, as ameaças contra a soberania de muitos países e a perseguição judicial e policial a adversários do imperialismo “democrático”, como se viu nos últimos dias na França, contra a popular líder da extrema-direita, Marine Le Pen, e no tribunal de exceção contra o reacionário ex-presidente Jair Bolsonaro, no Brasil, dentre outros.

O agravamento da crise aprofunda no Brasil as características reacionárias do regime político, que se intensificaram com o golpe de Estado que, em 2016, derrubou a presidenta Dilma Rousseff e, em 2018, levou Lula à cadeia por 580 dias, para promover um enorme retrocesso nas condições de vida do povo trabalhador.

Os mesmos setores que comandaram toda essa operação e que seguem à frente do Judiciário, do Congresso Nacional, das Forças Armadas, dos bancos, da venal imprensa capitalista etc., e que não têm apoio popular para sua política neoliberal, pró-imperialista, de deixar o povo morrer de fome para satisfazer os vorazes apetites dos banqueiros e outros tubarões capitalistas, preparam uma nova ofensiva.

Não querem Lula, nem Bolsonaro — candidatos que têm apoio popular e apoio de setores importantes da débil burguesia nacional — e, por isso, não podem impor uma política de terra arrasada contra a economia nacional, pretendida por esses setores totalmente submissos ao imperialismo. Querem uma “saída” semelhante ao governo Milei, na Argentina, ou ao de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, com uma política de ataques profundos contra os explorados, repressão, privatizações, devastação da economia etc.

Contra a política ilusória de setores da esquerda — de que estamos diante de uma luta do “bem x mal”, “democracia x fascismo” etc., na qual a burguesia golpista de ontem e de hoje estaria do lado dos interesses populares —, o que temos pela frente é cada vez mais um violento enfrentamento desses setores, capachos do imperialismo, contra os interesses populares, contra os direitos democráticos da população e contra suas condições de vida.

Para executar essa política, eles precisam continuar contando com o apoio da esquerda parlamentar e da burocracia sindical, com a covardia e a capitulação dessa esquerda que facilitaram todas as ações dos golpistas nas etapas anteriores.

A divisão das organizações dos trabalhadores, como se vê na questão do 1º de Maio — em que os pelegos das “centrais” apoiadas pelos patrões (Força Sindical, UGT etc.) resolveram chamar um “ato” com sorteio de automóveis pagos pelos patrões — é parte dessa operação. Mostra o sindicalismo pelego já se posicionando — novamente — para apoiar uma nova etapa do golpe que está a caminho.

O ativismo classista da esquerda precisa abrir os olhos e arregaçar as mangas para trabalhar por uma perspectiva própria diante da situação. Uma alternativa dos trabalhadores; de ruptura com a frente golpista, que levante um programa próprio dos trabalhadores diante da situação, por meio dos meios de luta próprios da classe trabalhadora.

Para começar, e de imediato, é preciso convocar um 1º de Maio de Luta, em São Paulo, maior cidade do País, contra a farsa da Força Sindical e Cia.

Reagir ao cerco da direita e à contraofensiva do imperialismo com uma política própria dos trabalhadores, rompendo com a frente com a burguesia golpista e com a subordinação ao imperialismo.

O contrário disso significa abrir caminho para uma nova etapa de enormes retrocessos, que pode custar muito caro para a imensa maioria do povo brasileiro.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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