Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo publicada nessa segunda-feira (13), o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) rasgou elogios a seu correligionário, o golpista Geraldo Alckmin. Siqueira, além de defender a manutenção de Alckmin (PSB) como vice-presidente em uma eventual chapa de reeleição do presidente Lula (PT) em 2026, ainda caracterizou o ex-tucano como “trabalhador e leal”.
“Não há vice melhor para Lula do que Alckmin”, disse.
Os elogios a Alckmin aparecem em um momento importante da situação política nacional. Em primeiro lugar, cumpre destacar o uso do termo “leal” para se referir ao ex-tucano. Diante do histórico recente do golpe de 2016, tanto o PSB quanto o PT sabem muito bem o risco que se corre quando o vice-presidente não é alguém leal. Mas a necessidade de Siqueira afirmar isso publicamente, longe de passar alguma segurança, já indicam, na verdade, que há alguma pressão para que essa “lealdade” seja quebrada.
O que complica ainda mais é que nem Alckmin, nem o PSB são conhecidos por sua “lealdade”. O primeiro foi, por anos, um dos principais quadros do partido mais nefasto do Brasil, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Durante esse período, Alckmin, o “leal”, reprimiu brutalmente as manifestações de 2013, defendeu a prisão ilegal do hoje presidente Lula e ainda culpou o petista por ter sido alvo de um atentado a tiros.
A mudança de um tucano neoliberal golpista para um “socialista”, por sua vez, ocorreu da noite para o dia. Bastou que Alckmin ficasse sem espaço no PSDB e enxergasse na envergadura da figura de Lula uma oportunidade para se reciclar politicamente, que ele mudou de legenda e de ideologia como quem muda de roupa.
Já o PSB é um partido especialista em trair o Partido dos Trabalhadores (PT). Em 2014, seu cacique-mor à época, Eduardo Campos, rompeu com o partido e lançou candidatura própria, em um esforço para consumar um golpe de Estado em curso, que consistia na derrota eleitoral do PT. Em 2016, seguindo a mesma política golpista, o partido votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, consumando o golpe de Estado.
O perigo de Alckmin e do PSB, contudo, vai muito além do passado criminoso. Ambos são a ala direita da chamada “frente ampla”. Isto é, são os setores da burguesia que se infiltraram no governo para impedir que este dê uma guinada à esquerda.
Em uma das principais crises que o terceiro mandato de Lula teve, quando o presidente, corretamente, equiparou os crimes de “Israel” àqueles praticados pela Alemanha Nazista, Carlos Siqueira saiu em defesa de “Israel”. Agora, da mesma forma, contrariando a política oficial da Presidência da República, que enviou uma representação diplomática, Alckmin saiu ao ataque contra a Venezuela.
Nessa sexta-feira (10), o vice-presidente classificou como “lamentável” a posse de Nicolás Maduro como presidente do país.“A democracia é civilizatória e precisa ser fortalecida, as ditaduras suprimem a liberdade”, disse o homem que, assim como o PSB, participou do golpe de 2016.
O ataque ao governo de Maduro acaba servindo como mais um elemento de pressão contra o governo Lula, que já está bastante pressionado por seus inimigos externos. Alckmin e o PSB, portanto, ao invés de fortalecer o governo, estão tornando-o ainda mais vulnerável às investidas da grande imprensa, do grande capital, da extrema direita e das forças armadas.
Convém lembrar, por fim, que o presidente Lula tem dado demonstrações de debilidade física. Durante sua última internação, até mesmo supostos apoiadores defenderam que Alckmin assumisse temporariamente a função de presidente da República.
Na medida em que cresce a pressão sobre o governo, refletindo a contraofensiva do imperialismo sobre toda a América Latina, crescem os perigos contra a esquerda, a presidência da República e a própria vida do presidente. Alckmin é um desses perigos.