Em 29 de novembro de 2023, as Brigadas Al-Qassam publicaram uma nota, informando “a morte de três sionistas detidos como resultado de bombardeios sionistas anteriores na Faixa de Gaza: Shiri Silverman Bibas, Kfir Bibas, Ariel Bibas”. Era revelado, então, que a maior parte da família da militar de origem argentina Shiri Bibas morrera. Os restos mortais dos três membros da família foram entregues pelo Hamas a “Israel” na última quinta-feira (20), gerando uma comoção em alguma medida natural, dado a idade de Ariel e Kfir, que tinham apenas quatro anos o primeiro e dez meses o segundo. O que a onda de comoção pelas mortes do bebê e da criança omitiu, porém, foi a responsabilidade por este crime bárbaro.
“Podemos confirmar que o bebê Kfir Bibas, de apenas 10 meses de idade, e seu irmão mais velho Ariel, de quatro anos, foram brutalmente assassinados por terroristas enquanto eram mantidos como reféns em Gaza, no mais tardar em novembro de 2023. Essas duas crianças inocentes foram tomadas como reféns vivas, juntamente com sua mãe, Shiri, em sua casa em 7 de outubro de 2023”, disse o porta-voz das forças de ocupação, Contra-Almirante Daniel Hagari, em uma declaração televisionada. O que diz Hagari é verdade, porém dita de uma maneira cínica, para fazer parecer que o Hamas foi responsável pelo assassinato da criança e do bebê, uma tese idiota que ignora o fato lógico de que os reféns, em geral, têm mais valor vivos do que mortos.
Demonstrando sua habitual disposição para mentir, a propaganda sionista continuou responsabilizando o Hamas pelo crime: “ao contrário das mentiras do Hamas, Ariel e Kfir não foram mortos em um ataque aéreo. Ariel e Kfir Bibas foram assassinados a sangue-frio por terroristas”, continuou Hagari, acrescentando por fim:
“Os terroristas não atiraram nos dois garotos – eles os mataram com as próprias mãos. Depois disso, cometeram atos horríveis para encobrir essas atrocidades.
Essa avaliação se baseia em descobertas forenses do processo de identificação e na inteligência que apoia essas descobertas. Compartilhamos essas descobertas, a inteligência e a perícia com nossos parceiros em todo o mundo para que eles possam verificá-las.”
Ocorre que desde o início da operação Dilúvio de Al-Aqsa com o sequestro dos militares israelenses, a Resistência Palestina tinha como objetivo realizar uma troca de prisioneiros, com a condição de libertar palestinos que se encontram encarcerados pela ditadura sionista. Esse tipo de sequestro com vistas à troca de prisioneiros não é uma novidade histórica, sendo utilizado por diversos grupos revolucionários em todo o mundo.
No Brasil, por exemplo, o movimento revolucionário de luta contra a Ditadura Militar (1964-1985) realizou o sequestro de embaixadores estrangeiros, como o dos EUA Charles Elbrick, o da Alemanha Ehrenfried von Holleben, o embaixador da Suíça Giovanni Enrico Bucher e o cônsul-geral do Japão em São Paulo, Nobuo Okushi. Em todos esses casos, uma vez que a troca foi realizada, os sequestrados foram libertados com vida. No entanto, quando a reação armada cedeu lugar à negociação, o desfecho foi outro.
Um exemplo dramático desse tipo de tragédia ocorreu no sequestro dos 11 atletas israelenses durante as Olimpíadas de Munique, em 1972, pela organização revolucionária palestina Setembro Negro. O sequestro foi inicialmente uma tentativa de negociar a libertação de prisioneiros palestinos, mas, devido à intervenção militar israelense, terminou em um massacre, com todos os sequestrados sendo mortos. Isso demonstra que, enquanto a negociação visa a preservação da vida, a intervenção militar muitas vezes resulta em tragédias ainda maiores, como as que vimos com o caso dos atletas israelenses e, tragicamente, com a morte de Kfir e Ariel Bibas.
Ademais, é fundamental entender que, para um sequestrador com objetivos políticos, a morte do sequestrado é, em última instância, contra seus interesses. O propósito do sequestro não é causar danos à vida do raptado, mas sim utilizá-lo como moeda de troca, com a intenção de obter a libertação de prisioneiros, como parte de um movimento mais amplo de resistência e luta.
Para os revolucionários palestinos, o objetivo de sequestrar soldados israelenses era justamente libertar companheiros palestinos que estavam sob o domínio da ditadura sionista. Isso visava, por um lado, enfraquecer o regime opressor e, por outro, fortalecer a Resistência.
Dadas essas características fundamentais desse tipo de ação, manter os sequestrados vivos e saudáveis é essencial, pois, sem eles, o objetivo de troca se perderia, tornando o sequestro ineficaz.
É completamente lógico, portanto, que os militantes da Revolução Palestina tenham feito esforços significativos para preservar a vida de seus prisioneiros, com a esperança de que a troca fosse bem-sucedida, resultando na libertação de palestinos injustamente presos. Diferente de “Israel”, cuja política de assassinar iraraenses para evitar que as forças revolucionárias façam reféns é amplamente conhecida, tendo inclusive um nome: Diretriz Aníbal, em referência ao general cartaginês homônimo, que se suicidou para evitar se capturado pelos romanos.
Já está amplamente documentado que a maioria das mortes ocorridas em 7 de outubro de 2023 foi fruto da ação militar de “Israel”, que aplicou a chamada Diretriz Aníbal contra a população israelense naquele dia. De acordo com diversas denúncias feitas por cidadãos israelenses, tanques israelenses abriram fogo contra residências nas comunidades agrícolas coletivas conhecidas como “kibutz”, onde a menor suspeita de que militantes do Hamas poderiam estar com escondidos, com reféns ou não.
Os relatos demonstram que, enquanto a Resistência Palestina visava a preservação dos prisioneiros sequestrados, “Israel” adotou uma tática brutal, sem qualquer consideração pela vida de seus próprios cidadãos. Após o ataque inicial contra a operação revolucionária, “Israel” manteve uma reação implacável, bombardeando intensamente a Faixa de Gaza durante 15 meses, reduzindo a região a escombros e colocando em risco vidas inocentes, inclusive as dos próprios reféns.
Já a Resistência, ao contrário, se esforçou para garantir que os israelenses sequestrados fossem mantidos vivos e levados para Gaza com o intuito de um possível intercâmbio. Isso reflete uma diferença crucial na abordagem: enquanto a Resistência estava preocupada em negociar a liberdade de prisioneiros palestinos e israelenses, “Israel” não teve outra preocupação além de desarmar o Hamas e realizar uma limpeza étnica da Faixa de Gaza.
Ao longo dos 15 meses que se sucederam ao 7 de Outubro, a ditadura sionista demonstrou uma indiferença criminosa pela vida dos sequestrados, mesmo diante dos alertas de que seus bombardeios incessantes colocavam em risco a vida dos reféns israelenses. Ao contrário do que diz a propaganda, o Hamas teve muito mais cuidado com os bebês Bibas e demais sequestrados do que Netaniahu e seu bando de criminosos genocidas.