Como Alexandre de Moraes manda no País e faz o que quer, era de se esperar que ele anulasse o Projeto de Lei da Dosimetria. No entanto, ele nem sequer o criticou, o que é estranho, já que hoje no Brasil é comum um ministro do STF se posicionar publicamente para aumentar a pressão política sempre que discorda de algo. Esse silêncio mostra que há um grande acordo em curso.
Tudo indica que houve um acerto com Trump em torno da questão de Bolsonaro. O ponto central é a dosimetria. O próprio STF já mencionou que, se a dosimetria for aprovada, a pena de Bolsonaro pode cair para dois ou cinco anos. Há um debate sobre o tempo exato, mas o fato de o debate existir já prova o acordo. Do contrário, Alexandre de Moraes anularia a dosimetria para manter uma pena de 28 anos. Falar em cinco anos aponta para um acerto envolvendo o Supremo, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário — os Três Poderes. Com isso, as sanções foram suspensas. Mesmo que Bolsonaro receba esses cinco anos, ele não ficará na cadeia. É o acordo de redução de pena: em breve ele será enviado a um hospital para exames e, de lá, seguirá para a prisão domiciliar.
O senador Alessandro Vieira afirmou que o próprio Moraes orientou a redação da dosimetria em conversas com senadores. Mesmo com contestações, o fato é que a incerteza persiste. Diante das críticas a Lula, ao PT e a Renan Calheiros pelo acordo, chega a ser absurdo pensar que os únicos “defensores da democracia” seriam a Rede Globo.
O plano da burguesia sempre foi retirar Bolsonaro para, eventualmente, tentar remover Lula e viabilizar o “Plano T”. O bolsonarismo parece ter clareza sobre isso. Ao lançar Flávio Bolsonaro como candidato à presidência, Jair Bolsonaro praticamente inviabiliza Tarcísio de Freitas. Do ponto de vista político, resta saber se essa estratégia foi inteligente, já que o Centrão vê em Tarcísio mais chances de vitória e de conceder um indulto a Bolsonaro.
Ainda assim, Bolsonaro acertou. É preciso observar a continuidade do jogo, mas, até agora, a situação é favorável a ele, inclusive com a redução das penas. Se Flávio se firmar, a direita terá um dilema: apoiar um nome sem o suporte de Bolsonaro, que dificilmente prosperaria, ou apoiar o filho do ex-presidente. Flávio já trabalha para costurar acordos com os setores que apoiariam Tarcísio.
Ele se posiciona como um “bolsonarista moderado”, o “Bolsonaro que toma vacina”, transmitindo mais tranquilidade que o pai. É o “Bolsonaro manso”. A questão é se ele consegue aglutinar a direita ou se o setor preferirá um nome fora da família, como Ratinho Junior.
Não se sabe como a burguesia vê a candidatura de Flávio. Ele tenta parecer um “Bolsonaro civilizado” perante a opinião pública, funcionando como uma solução de compromisso. Jair Bolsonaro demonstra que não quer transferir seu capital político para terceiros, uma estratégia razoável no sentido de preservar sua popularidade. Nesse cenário, Flávio seria o nome da família aceitável pelo sistema.
Seja como for, o que está claro é que a condenação de Bolsonaro se revela, cada vez mais, não como um julgamento em defesa da “democracia”, mas como parte de uma grande negociata de bastidores.





