O texto do jornalista Adhemar Altieri no Poder360, de título Negociar é possível: um exemplo concreto, expõe o capachismo da imprensa brasileira, que tem levado a esquerda pequeno-burguesa a seu reboque. O autor, com sua longa trajetória ligada a empresas norte-americanas, tenta vender a ilusão de que a solução para os problemas com o governo de Donald Trump é “negociar, negociar e negociar”, como se a política externa do imperialismo fosse um simples problema de falta de jeito ou de “bravatas” do presidente Lula.
A mentira central do texto é a sua total desconsideração pelo ponto principal da questão: a ingerência descarada e inaceitável de Donald Trump sobre a soberania nacional do Brasil. O que o autor do texto do Poder360 ignora, ou finge ignorar, é que Trump não se limitou a impor tarifas. Ele condicionou a taxação de produtos brasileiros a uma mudança no funcionamento do nosso Judiciário. A questão, portanto, não é uma simples negociação comercial. É uma chantagem política.
O autor cita o caso de 2006, em que o Brasil negociou com sucesso sua permanência no Sistema Geral de Preferências (SGP), para provar que “o caminho mais eficaz é o envolvimento de empresas”. Mas o que ele omite é que, naquele momento, não havia uma chantagem política, uma exigência absurda de que o Brasil mudasse seu sistema jurídico. Naquele tempo, a questão era puramente comercial. Agora, é um ataque à soberania do país. E, diante de um ataque à soberania, não existe diplomacia que valha a pena. O que o governo brasileiro deveria fazer é dizer, em alto e bom som, para o mundo inteiro ouvir: “Só vamos negociar quando você levantar as ameaças sobre o Brasil”.
O autor tenta desqualificar Lula, acusando-o de “distribuir comentários pouco produtivos, frases de efeito de gosto duvidoso e bravatas que contribuem para acirrar o clima e criar dúvidas sobre o real interesse brasileiro em buscar soluções”. Em contrapartida, ele elogia a “ação nos bastidores” do vice-presidente Geraldo Alckmin, que seria mais “objetiva e despolitizada”.
A “ação” de Alckmin, que o autor tanto elogia, é a submissão total ao imperialismo. Lula também se submete, na medida em que dá aval para as negociações. No entanto, defender a “soberania nacional”, mesmo apenas em discurso, é melhor do que a atitude do golpista Geraldo Alckmin, um dos elementos da “frente ampla” no governo brasileiro, cujo objetivo é pressionar o presidente à direita.
O que Trump está fazendo não é uma briga de moleques no pátio da escola; é um ataque direto à soberania. E diante de um ataque à soberania, o que Alckmin estaria fazendo nos “bastidores” senão aceitando as condições impostas? O gesto de Trump é uma agressão que nenhuma nação soberana deveria aceitar. O autor, em sua subserviência, chega a dizer que a situação atual é mais complexa, que “seria preciso mapear quem tem voz e é capaz de ser ouvido pelo próprio Donald Trump”.
O governo brasileiro deveria se manter firme. Afinal, a ingerência de Trump sobre o Brasil é apenas um capítulo — menor — da ingerência sobre a América Latina como um todo.




