No início do programa Análise Política da 3ª, da Rádio Causa Operária, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), se pronunciou publicamente pela primeira vez desde a morte de Natália Pimenta, dirigente e militante com 27 anos de história no Partido. Pimenta declarou que o falecimento de sua filha não foi um evento meramente biológico, mas sim um “verdadeiro assassinato” orquestrado pela engrenagem criminosa do Estado brasileiro. Pimenta dedicou parte do programa para prestar um tributo político a Natália e detalhar a “história sinistra e macabra” que levou ao seu falecimento por leucemia.
Pimenta iniciou sua fala ressaltando a importância de Natália Pimenta, que começou a militar aos 13 anos de idade e estava com 40 anos no momento de sua morte. Ela foi definida como uma pessoa decisiva para a história do PCO.
O presidente do PCO sublinhou que uma das maiores realizações políticas de Natália, ainda em sua adolescência, foi a fundação do Diário Causa Operária. Ela reuniu um grupo de jovens que, sob sua direção, iniciou o que era então o Causa Operária Online, de forma modesta. Pimenta relembrou a discussão pioneira no final dos anos 1990, um período anterior à difusão dos blogues, sobre a necessidade de publicar pelo menos uma matéria por dia. Essa iniciativa inicial se consolidou e se expandiu, especialmente após a cobertura da insurreição boliviana, para se tornar o Diário Causa Operária que hoje é, o qual Pimenta descreveu como o único jornal de esquerda brasileiro diário, contando com uma quantidade “verdadeiramente gigantesca de matérias” e estando na edição 8.029.
O dirigente enfatizou que, em um partido pequeno que luta com dificuldades, como o PCO, essas realizações no começo, mesmo que pareçam banais em retrospecto, são fundamentais para a própria construção da organização.
Após a homenagem a Natália, o presidente do PCO prosseguiu com a acusação política. Pimenta declarou, “com todas as letras, com toda a clareza”, que a morte de Natália tinha um “grande componente que é um componente político”.
Natália precisava urgentemente do medicamento Revumenib para tratar um caso raro de leucemia — um remédio que, segundo a pesquisa da família e dos companheiros, poderia no mínimo prolongar sua vida. Há aproximadamente dois meses, o médico responsável por seu tratamento havia feito a prescrição e o pedido para a aquisição do remédio, que era caro e precisava ser importado. No entanto, o Partido e a família nunca conseguiram a aprovação para que o medicamento chegasse ao Brasil.
Pimenta comparou a demora a um homicídio deliberado: se uma pessoa precisa urgentemente de um aparelho de oxigênio em uma situação limite, e se a entrega atrasa por dois meses, seja por incompetência ou por determinação, “isso daí é um homicídio”, afirmou categoricamente, sem margem para disfarce ou atenuação do impacto.
A tentativa de obter o remédio pela via legal levou a família e o partido a um “inferno” burocrático, que Pimenta classificou como parte da “história sinistra, macabra, toda”.
Em primeira instância, a juíza Anita Villani negou a liminar duas vezes. Pimenta considerou que a liberação do medicamento, que era um simples “vidrinho de comprimidos”, deveria ser automática. Em vez disso, a juíza exigiu uma série de documentos, prolongando o processo e negando o pedido pela segunda vez sob a alegação de “problemas de dinheiro”.
O presidente do PCO expôs a tese central de sua crítica ao Judiciário: a alegação do “interesse da coletividade”, uma “palavrinha bonita” que, na prática, serve para “economizar dinheiro” e pagar os juros exorbitantes da dívida externa, que são os mais altos do planeta. Para Pimenta, a juíza se revelou uma defensora da “coletividade dos banqueiros, da coletividade financeira” contra a coletividade de milhões de brasileiros.
Embora o PCO tenha conseguido derrubar a decisão na segunda instância, que garantiu o remédio, o processo foi então barrado pela “burocracia estatal”. Pimenta concluiu que o remédio “nunca chegou”.
Rui Costa Pimenta encerrou sua intervenção qualificando a morte de Natália como algo mais grave do que uma morte comum; seria “uma morte praticamente premeditada”.
Ele sublinhou que a “engrenagem do sistema judicial, do sistema governamental brasileiro, ela é criminosa”, e que a situação de Natália Pimenta simboliza o sofrimento de milhões de pessoas no Brasil. Ele criticou a prioridade dada a debates marginais, como o “pronome neutro”, enquanto milhões de pessoas estão preocupadas simplesmente em sobreviver aos problemas de saúde.
O sistema de saúde, seja ele privado ou público, falha em seu propósito. Ele reiterou que o Judiciário está a serviço dos “bancos, dos milionários, dos bilionários, dos trilionários contra o cidadão comum”. O caso de Natália Pimenta, embora não seja único, é emblemático: se um partido político organizado, com departamento jurídico e conhecimento do sistema, fica em “situação de impotência”, que dirá o cidadão comum.





