O texto de Alex Solnik, Carta aberta a Alexandre de Moraes, publicado nesta quarta-feira(13) no Brasil247, é uma daquelas peças que se pode chamar de vexatória. O jornalista inicia o texto chamando o ministro do STF de “caro xará!”. E segue dando um conselho da mais alta sabujice: “Pra começar, peço que nunca aceite ser chamado de Xandão. Xandão é jogador de basquete. O que você não é”.
Ainda no primeiro parágrafo, Solnik diz “Todo Alexandre é Alexandre, o Grande”. Além do mau gosto de bajular o juiz, o jornalista faz propaganda de si, o que não é de muito bom tom. Fora isso, é óbvio que nem todo Alexandre é Alexandre, o Grande. Aliás, o adjetivo ‘grande’ nem sempre promove o substantivo; pode-se dizer “fulano é um grande criminoso”, “um grande idiota”, e assim por diante.
Seguindo, e já em um tom mais humilde, apesar da informalidade no uso do pronome, Solnik entra no assunto de sua carta aberta: “Dito isso, sem querer ensinar o Padre-Nosso ao vigário, mas por ser um pouco mais vivido que você, queria externar minha opinião sobre a prisão domiciliar de Bolsonaro”.
Belo democrata
No segundo parágrafo, Alex Solnik despeja sua veia autoritária ao tratar da prisão de Jair Bolsonaro. Escreve: “Quando foi decretada, achei bom, achei que iria tirar o ex-presidente do cenário político, que ele iria ficar isolado, longe de seus aliados, a fim de que a reta final de seu julgamento transcorresse em paz. Ele estava perturbando a ordem pública. Jogando a população contra decisões do Supremo. Ou seja: continuando o ataque ao Poder Judiciário. Deveria ser silenciado”.
A prisão de Bolsonaro é uma arbitrariedade. Esse tipo de expediente ficou comum no Brasil, por obra do Supremo Tribunal Federal (STF), que comandou o espetáculo grotesco do Mensalão. Prisões “preventivas”, buscas e apreensões, policiais com seus fuzis levando pessoas algemadas, helicópteros, julgamentos ao vivo na televisão. Um grande show preparando o golpe de 2016 e a prisão inconstitucional de Luís Inácio Lula da Silva.
À época, a esquerda (nem toda) protestou legitimamente, denunciou as arbitrariedades e ilegalidade daquelas ações. Hoje, porém, setores que se dizem de esquerda acham bom que se faça o mesmo com o ex-presidente. Essa gente não tem princípios.
Um direito, para ter esse nome, deve contemplar toda a população de um país, se não for assim, trata-se de privilégio.
Lula, como ex-presidente, foi julgado por instâncias inferiores (em todos os sentidos). Portanto, o STF não teria competência para julgar Jair Bolsonaro. Há inúmeras irregularidades no processo, que não é julgado pelo pleno, mas pela primeira turma da corte. Nessa turma consta Alexandre de Moraes, que deveria se declarar impedido, visto que figura como vítima no processo.
Tiro no pé
Este Diário já alertou inúmeras vezes que a Justiça não deve servir para se resolver as questões políticas e que perseguições políticas podem favorecer suas vítimas. Viu-se Lula ser condenado, preso, para depois ser reeleito presidente do País. Nos Estados Unidos, Donald Trump cresceu em popularidade após uma avalanche de processos. Hoje, o presidente americano está mais popular até entre a população negra. O próprio Solnik se vê obrigado a reconhecer esse fato e assim escreve que “uma semana depois, está acontecendo o oposto. Ele está mais presente na política do que nunca”.
A esquerda autoritária
Tentando justificar seu posicionamento reacionário, o jornalista lança uma série de elucubrações. Diz que Bolsonaro está “comando da organização criminosa”. E pergunta ardilosamente: “Quem garante que não foi ele o autor intelectual do motim na Câmara?”.
Em seguida, Solnik escreve que “ele [Jair Bolsonaro] está há uma semana sem nada para fazer, atendido por uma equipe de funcionários e todo o tempo livre para tramar contra você – e contra o regime democrático. Ele não desistiu. E não vai desistir enquanto houver alguma brecha para voltar”.
O fato de Bolsonaro ter “tempo livre para tramar” não significa que o esteja fazendo. Embora este Diário tenha sido o primeiro a pedir “Fora, Bolsonaro”, é preciso denunciar as arbitrariedades do STF, que é a instituição que atenta contra o regime democrático e contra a Constituição.
Não é preciso concordar com Bolsonaro para saber que ele tem direito a um julgamento justo. É completamente absurdo o conselho que Solnik dá ao seu “xará” dizendo “você deveria proibir visitas de políticos. Um ex-presidente que quase mergulhou o país numa guerra civil não deveria ter o direito de participar da vida política brasileira nunca mais. E ele está não só participando, mas influenciando e comandando”.
Baseado em quê se deveria proibir visitas de políticos ao ex-presidente? Ele nem mesmo foi condenado e já cumpre pena. De qual guerra civil o jornalista está falando, de uma manifestação em Brasília onde não havia pessoas armadas. Que tipo de guerra seria, de socos e pontapés?
Solnik, tão democrático, deveria dar uma lida na Constituição antes de escrever “nunca mais”. No artigo 5º, XLVII, está expressamente proibida a punição de caráter perpétuo.
Delírio pequeno-burguês
Alex Solnik, bem como a esquerda chave de cadeia, acredita que controla o Estado pelo fato de PT ter a presidência da República. Nada mais ilusório. Toda essa sanha persecutória do jornalista virá com muito mais força contra a esquerda.
O jornalista, aspirante a Napoleão, como se estivesse com a caneta na mão, diz exaltado que “proibir imagens e gravações não basta. Se em prisão domiciliar não é possível afastá-lo das conspirações, só a preventiva resolve, na sala de Estado de um quartel do Exército”.
Essa instituição do Estado burguês, o STF, é um verdadeiro partido, não uma corte de justiça, e responde a interesses de setores poderosos da burguesia. Não adianta puxar o saco de um ministro falando “parabéns pela vitória do seu time sobre o meu. E sobretudo pelos gols que você tem marcado para o time da democracia”.
O “time” de Moraes, no que diz respeito à democracia, só tem marcado gol contra.





