O artigo Bolsonaro preso é justiça feita. Mas há algo ainda mais importante, do deputado estadual (PT-SP) Maurici de Morais, publicado no Brasil247 nesta segunda-feira (8), tem um título interessante. Muitos bolsonaristas devem ter pensado o mesmo quando Lula foi preso, que teria sido feita a justiça. E, sim, há algo mais importante: os métodos para prender Jair Bolsonaro foram os mesmos.
Segundo Morais, “O julgamento da tentativa frustrada de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023 carrega camadas de simbolismo que ainda não afloraram”. Se houve uma tentativa de golpe frustrada, quem a frustrou? Algum grupo armado teria tentado tomar o pode e houve reação? Não. Manifestantes invadiram livremente prédios públicos na Praça dos Três Poderes. Não estavam armados, como as imagens comprovam.
Apesar de tudo, “o ex-presidente foi condenado por crimes que incluem tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa e dano qualificado”.
O articulista comemora que “pela primeira vez na história republicana, militares da mais alta patente foram julgados e condenados por um tribunal civil”. Mas não é a primeira vez que se promove um julgamento farsesco no Brasil, cujo objetivo são as eleições, não o estabelecimento da justiça.
Amnésia
Maurici de Morais diz que “só no século 20, vivenciamos três golpes militares bem-sucedidos: em 1930, 1937 e 1964, além de outras tantas tentativas”. É verdade, mas deveria citar o século 21, quando um militar, o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, comandante do Exército, contou com a “compreensão” do Supremo Tribunal Federal, em 2018, para negar um habeas corpus para Luiz Inácio Lula da Silva, o que o levou (inconstitucionalmente) à cadeia.
Para a maioria da esquerda é importante esquecer esse episódio, pois assim não é preciso explicar a aliança que foi estabelecida com o STF, uma instituição golpista.
Morais faz questão de nomear os generais de pijama condenados com Bolsonaro, mas também se esquece de mencionar o general Estevam Cals Theóphilo, absolvido por Alexandre de Moraes pelos mesmos motivos que condenou os outros.
O articulista alerta que “Há uma tradição profunda e persistente de intervencionismo militar no Brasil. Mesmo diante do recado de novos tempos que o Supremo envia, não podemos nos iludir: a democracia brasileira segue exposta, à sombra de antigas tentações autoritárias”. O Supremo, no entanto, sempre esteve alinhado com as Forças Armadas, tanto que é o único poder que não precisou ser modificado. Então, falar em “novos tempos” não faz o menor sentido.
Da metade de seu texto, aproximadamente, até o final, Maurici Morais se ocupa com o que o deve ser feito com os militares, se devem perder suas patentes. O que seria atribuição do Superior Tribunal Militar.
Morais lamenta que “se isso de fato acontecer [a perda das patentes], eles não devem deixar, no entanto, de receber os seus generosos salários, que chegam a R$ 38 mil mensais, no caso do general Augusto Heleno”. Curioso, pois em termos de salários altos, o Judiciário deve ser o campeão. Vira e mexe aparecem notícias de juízes furando o teto salarial constitucional. Mas, claro, é preciso dizer que “a perda das patentes dos militares golpistas não deve ser vista como revanchismo, mas como um passo civilizatório, um entendimento de que a justiça vale para todos”. Nem mesmo uma criança acredita nessa conversa de justiça igual para todos.
Adiante, Morais se lamenta novamente, diz que “Infelizmente, na visão de especialistas que têm compartilhado seus pontos de vista na imprensa, dificilmente os envolvidos no 8 de janeiro perderão suas patentes, mas quero acreditar que não é algo impossível. O que está em jogo é a imagem das Forças Armadas e seus valores perante as tropas e a sociedade. E isso deve prevalecer ao corporativismo”. Como assim? Se os militares viveram deram golpes de Estado, como escreve o próprio Morais, com qual imagem estariam eles preocupados? Não faz sentido.
Indo para o final, o articulista escreve que “e o Brasil deseja, de fato, inaugurar um novo capítulo democrático, precisa enfrentar essa herança autoritária sem hesitação. Para além de condenar indivíduos é preciso desmontar a cultura política que lhes deu respaldo”. E quem vai fazer isso, o Supremo Tribunal Federal, que sempre colaborou com os golpistas?
Morais conclui dizendo que “se tivermos coragem de fazer isso, poderemos olhar para este momento não apenas como o fim de uma conspiração golpista”. Bem a primeira coisa a fazer é essa esquerda tomar vergonha na cara, em vez de coragem, e parar de apoiar justamente as instituições golpistas, como vem fazendo com o Supremo e a Polícia Federal.
Faltou coragem para a maioria da esquerda admitir que o julgamento de Bolsonaro foi uma verdadeira farsa, que foi uma reedição da Lava Jato. É preciso defender princípios. Se reprovamos e denunciamos o julgamento e condenação de Lula, é obrigatório que agora se faça o mesmo.
A verdade é que a esquerda pequeno-burguesa, ao se associar com as instituições mais repressoras do Estado, fortalece seu carrasco. Ontem condenaram Lula; hoje é Bolsonaro, mas nada impede que amanhã a mão de ferro do Estado burguês se volte novamente e faça aquilo que mais sabe fazer: esmagar a esquerda e a classe trabalhadora.





