Teoria marxista

Não importa se o Irã é religioso

Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, explicou política revolucionária para movimentos religiosos revolucionários

O crescimento da luta anti-imperialista em diversas partes do mundo tem colocado em destaque movimentos políticos e militares que, apesar de possuírem forte conteúdo religioso, desempenham um papel central na resistência contra o domínio das potências capitalistas. Casos como o do Irã, do Hamas e de outros agrupamentos islâmicos ou religiosos têm mostrado quão reacionária é a política da esquerda pequeno-burguesa, que vê a religião como obstáculo intransponível à luta dos trabalhadores. No entanto, a própria história do marxismo mostra que essa visão é errada.

Em entrevista realizada nesta quinta-feira (3) a Breno Altman, editor do Opera Mundi, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, afirmou que os marxistas “nunca fizeram caso da ideologia dos movimentos de libertação nacional”. Apoiou-se em exemplos históricos para ilustrar essa tese: “há documentos do Partido Bolchevique que falam que apoiaram o movimento dos Boxers na China, um movimento muito doido, que não tinha nenhum tipo de diplomacia. Eles matavam as pessoas sem contemplação”. O mesmo ocorreu com o movimento Taiping, liderado por um homem que se dizia reencarnação de Jesus Cristo. E, mais significativamente, com o Levante da Páscoa, na Irlanda de 1916, quando o Partido Socialista Irlandês, liderado por James Connolly, se uniu aos católicos fundamentalistas contra o domínio britânico.

Esses exemplos mostram que o critério fundamental para apoiar ou não um movimento não deve ser sua ideologia, mas sim o seu papel objetivo na luta contra o imperialismo. É esse papel que define, do ponto de vista marxista, o caráter progressista de um movimento, mesmo que sua forma ideológica aparente ser reacionária ou retrógrada.

Nesse sentido, o apoio ao Irã ou ao Hamas não deve ser descartado com base em critérios identitários. “O xiismo nunca foi, dentro do islamismo, um movimento conservador. É uma dissidência revolucionária. No Irã, o clero xiita organizou a resistência à ditadura do Xá durante anos. Foram eles que levaram adiante a revolução de 1979”, explicou Rui Costa Pimenta. Segundo ele, a República Islâmica do Irã realiza reformas sociais profundas, se mantém soberana diante do imperialismo e é o principal apoio internacional da causa palestina. Não se trata, portanto, de uma “teocracia fascista”, como o Vaticano, mas de um regime nacionalista com forte conteúdo anti-imperialista.

Esse raciocínio se aplica também a grupos como o Hamas, que, embora sejam organizações de fundo religioso, cumprem um papel revolucionário ao enfrentarem militarmente o regime sionista de “Israel”. Ignorar esse fato por conta de aspectos culturais ou morais é ceder à ideologia do imperialismo. “Não importa se você tiver críticas duras ao Irã. O que importa é o caráter social concreto da luta”, resumiu Rui.

A esquerda pequeno-burguesa, segundo Pimenta, vive uma grande confusão ideológica ao abandonar o conceito de imperialismo. Substitui o critério da luta de classes entre os povos oprimidos e a burguesia imperialista por um moralismo pequeno-burguês, que se recusa a apoiar qualquer movimento que não se enquadre no modelo montado pelo imperialismo, baseado em “direitos humanos” e coisas do tipo.

“A luta entre a classe operária e o imperialismo é a luta contra a burguesia. O imperialismo é a burguesia na sua forma atual. A única burguesia que conta no mundo hoje é a imperialista”, afirmou. Dentro dessa política, o critério fundamental para definir o campo de atuação dos marxistas é a luta contra o imperialismo mundial, independentemente da forma que ela assuma.

Essa compreensão é fundamental para não cair na armadilha da propaganda imperialista, que tenta pintar todos os seus inimigos — da Rússia ao Irã, do Hamas à Venezuela — como autoritários, teocráticos ou “extremistas”. O objetivo dessa propaganda é justamente isolar os focos de resistência e neutralizar o apoio internacional à sua luta.

A luta revolucionária pode, sim, assumir formas religiosas. E isso não diminui sua legitimidade. Ao contrário, em muitos momentos, a religiosidade popular é o principal veículo da mobilização das massas. Recusar esse fato é recusar a própria luta contra o imperialismo.

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