O artigo Mesmo sob ataques externos e internos, o Brasil consolida pleno emprego como resultado de política consistente e soberana, de Oliveiros Marques, publicada no Brasil247 nesta terça-feira (30), revela que o otimismo de parte da esquerda é ilimitado.
Não adianta se apegar a números, é preciso entender a realidade dos índices. Embora o nível de ocupação no Brasil tenha subido desde 2020, o rendimento do trabalhador segue praticamente estagnado, não superou o nível de anos anteriores.
Comemorando, Marques escreve que “a aliança do atraso contra o Brasil assiste a mais um round de sua derrota. A palhaçada patrocinada por uns e outros, desde as terras do Pateta, não produziu o efeito desejado de sabotar a economia brasileira. O filho tresloucado e o neto de ditador – que parece gostar mais de cavalos do que de gente – fracassaram em sua cruzada contra o País”.
Quanto aos efeitos das ações dos EUA na nossa economia, todos sabem que eles são históricos. O crescimento do Brasil é controlado, nunca ultrapassa determinados índices.
Não é apenas Donald Trump que interfere na economia brasileira. Temos também agentes do grande capital interferindo desde dentro. São ONGs infiltradas na Amazônia, são ministros e órgãos públicos como o IBAMA controlados do exterior criando empecilhos para que o governo possa desenvolver a economia.
Pessoas como Sônia Guajajara, que tentou impedir a construção de Belo Monte; ou Marina Silva, que faz de tudo para impedir o Brasil de explorar o petróleo na Margem Equatorial; ou Gabriel Galípolo, indicado para o Banco Central, sabotam sistematicamente nosso desenvolvimento econômico.
Números
Segundo Marques, “na última segunda-feira, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, apresentou os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED). E, mais uma vez, os números são animadores: quase 150 mil novas vagas em agosto, confirmando que a economia brasileira segue em processo de fortalecimento”.
Qual fortalecimento se o Banco Central estabeleceu os juros em 15%? O endividamento das famílias brasileiras bateu níveis recordes nos últimos anos. Em julho de 2025, os brasileiros tinham comprometidos 48.6% de seus rendimentos para o pagamento de dívidas.
O percentual de famílias endividadas atingiu 78,4% após cinco altas consecutivas. Além disso, a inadimplência aumentou, em agosto chegou a 30,2%, nível mais alto desde maio do ano passado.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 31% das famílias encerraram 2024 inadimplentes, maior percentual desde 2017 (logo após o golpe).
A razão para essa inadimplência não pode ser outra que os baixos rendimentos e os juros altos. Nas famílias que recebem até 3 salários mínimos, 81% têm dívidas e 36,9% estão inadimplentes.
Em outras palavras, os bancos estão cada vez mais ricos saqueando a população mais pobre. Uma família com rendimento insuficiente acaba tendo que recorrer a empréstimos e ao uso do cartão de crédito, onde os juros são altíssimos, superiores a 450% ao ano.
Mais números
Marques também comemora dizendo que “somente entre janeiro e julho, foram gerados mais de 1,5 milhão de novos postos de trabalho, com destaque para os setores de serviços, indústria e construção civil. Desde o início do governo Lula III, já são mais de 4,6 milhões de empregos formais criados”.
No entanto, a realidade desses empregos precisa ser analisada de perto. Levantamentos do Movimento Pessoas à Frente apontam que nas redes estaduais, metade dos professores são temporários. A maioria não tem garantia de licença-maternidade, estabilidade para gestantes, auxílio-alimentação nem licença para tratamento por acidente de trabalho ou por saúde.
Em alguns casos, não recebem sequer 13º salário ou férias remuneradas. Categoria formada por profissionais que não são concursados, os temporários costumam ser usados em funções específicas. O número de temporários, contudo, aumentou 37,7% entre 2014 e 2024 nas redes estaduais. Isso se deu, segundo especialistas, pelo menor custo de contratação, justamente pela ausência de uma série de direitos trabalhistas.
Outro dado que precisa ser considerado, é o aumento do número de desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego, que ainda é muito alto. No segundo trimestre deste ano, o número registrado foi de 2,8 milhões de trabalhadores nessa situação.
Portanto, não há muito o que comemorar quando Marques escreve que “vivemos hoje o cenário de pleno emprego, com taxa de desocupação de apenas 5,6% – o menor índice desde o início da série histórica do IBGE, em 2012”.
Soberania
Para o articulista, “os adversários tentariam reduzir esses números à sorte. Mas que sorte é essa que enfrenta restrições da maior economia do mundo, responde com altivez, defende a soberania de seu povo e, ainda assim, registra números tão positivos? Isso não é sorte: é trabalho, é consistência política, é ter lado”.
Não se trata apenas de adversários, ou se torcer contra, é preciso ser realista. Não se pode comemorar, pois a vida do trabalhador não está melhorando.
Quanto à soberania, essa palavra ficou na moda desde o tarifaço de Trump. A defesa da soberania brasileira é muito mais propaganda que ação efetiva. O governo brasileiro buscou negociar desde o início. Além da atitude vergonhosa da declaração de neutralidade diante da agressão americana contra a Venezuela. O presidente Lula, em seu discurso na ONU, foi incapaz de acusar os EUA dessa agressão covarde e ilegal contra um país soberano. Ameça que coloca o Brasil em perigo, visto que a Venezuela compartilha fronteiras e é um país amazônico.
No último parágrafo, Marques insiste na euforia em seu texto que mais parece uma peça de propaganda eleitoral. Mas propaganda apenas não vai resolver. O governo Lula vai ter que oferecer muito mais, caso tenha pretensão de uma reeleição.




