No apagar das luzes de 2025, o portal Brasil 247 publicou o artigo 2025: um mágico chamado Lula, assinado pelo advogado Marcelo Uchôa. O texto é uma peça de propaganda que beira o delírio, tentando vender um país de prosperidade absoluta onde qualquer crítica é tratada como “desonestidade”. Uchôa empilha índices macroeconômicos como se o sucesso da Bolsa de Valores e a queda do dólar fossem sinônimos de bem-estar social. Trata-se de um estelionato estatístico que ignora a vida material do povo brasileiro, aquele que não vive de dividendos, mas de salário.
O autor celebra com pompa o Ibovespa aos 161 mil pontos e a alta impulsionada por bancos e petroleiras. O que Uchôa não diz é que esse “sucesso” da imprensa financeira é o reverso da medalha da miséria popular. Enquanto os bancos lucram com taxas de juros reais que continuam entre as maiores do mundo, a população trabalhadora enfrenta um endividamento recorde: 78% das famílias brasileiras estão no vermelho, e o número de inadimplentes não para de crescer sob o peso do cartão de crédito e do cheque especial. A “mágica” de Lula, na verdade, tem sido garantir a transferência brutal de renda do trabalho para o capital financeiro.
Ao falar em “saída do mapa da pobreza”, Uchôa usa o IBGE para mascarar a miséria. Ele comemora o desemprego em 5,2%, mas silencia sobre a qualidade dessas ocupações. O Brasil vive uma explosão de subempregos, “uberização” e informabilidade, onde ter um “trabalho” não significa mais ter direitos ou dignidade. O custo de vida é a prova cabal: a cesta básica hoje consome assustadores 55,4% do salário mínimo líquido. Para quem ganha o piso, não há “mágica” que faça o dinheiro chegar ao fim do mês. A queda do dólar, celebrada pelo autor, não se traduziu em redução real nos preços dos alimentos básicos, como o café e o arroz, que seguem proibitivos para milhões de brasileiros.
Uchôa ainda tenta blindar o governo usando o Congresso como desculpa para a falta de medidas estruturais. É o velho argumento da “governabilidade” para justificar por que o governo não revogou as privatizações criminosas, como a da Eletrobrás, ou por que segue realizando “pequenas privatizações” fatiadas. O “mágico” Lula não enfrentou a desindustrialização — que mantém o setor fabril estagnado abaixo de 11% do PIB — e não tomou nenhuma medida de impacto contra o sistema de castas do Judiciário, que ele agora defende como aliado.
A afirmação de que “o país melhorou” e que a reeleição está garantida é um exercício de arrogância que ignora a insatisfação silenciosa das periferias. A imprensa governista pode cantar vitória, mas o povo sente o aperto no estômago. Celebrar 9 milhões de turistas ou a COP 30 enquanto as famílias estão se endividando para comprar gás de cozinha é de um cinismo atroz.
Em última instância, o artigo de Marcelo Uchôa é um convite à passividade. Ele quer que o brasileiro aceite a “mágica” dos números enquanto a realidade da mesa vazia grita o contrário.




