Política internacional

Não é possível apoiar a Palestina e Zelenski ao mesmo tempo

Esquerdistas se apegam ao formalismo jurídico e esquecem o fundamento social das lutas políticas, que tornam tornam normal a aliança entre duas ditaduras na Ucrânia e em 'Israel'

O editorial A luta do povo palestino, o imperialismo e a vergonhosa posição de Lula, do jornal do PSTU, Opinião Socialista, traz uma equiparação entre a guerra de libertação nacional na Palestina e a operação militar russa para impedir o imperialismo de fazer o mesmo com a Rússia. Diz o Opinião Socialista:

“EUA, Inglaterra, França e Alemanha são os principais responsáveis pela criação e desenvolvimento deste enclave militar, que serve como entreposto dos seus interesses no Oriente Médio. Mais uma vez, diante da guerra e devastação de vidas humanas, vemos que a causa é a busca pelos lucros dos capitalistas. A questão palestina é a prova da decadência e da barbárie às quais o capitalismo está levando a humanidade. 

Nenhum destes governos condena a violência dos ucranianos contra a invasão russa. Então, por que dois pesos e duas medidas? Se deve aos diferentes interesses burgueses envolvidos em cada um desses conflitos. O que muda é o que o país invasor na Palestina serve integralmente aos interesses dos EUA e da Europa. Enquanto o país invasor na Ucrânia tem atritos com eles, tendo maiores relações com outros setores imperialistas, como a China.”

Nenhum destes governos condena a violência dos ucranianos contra os russos porque a apoiam. Os morenistas do PSTU sequer registraram o fenômeno, mas é preciso lembrar que o regime atual na Ucrânia foi imposto pelos EUA após o golpe do Euromaidan, em 2014, quando um governo hostil aos interesses imperialistas foi derrubado por meio de uma intervenção direta. É essa origem que explica o apoio entusiástico dos imperialistas à Ucrânia, transformando-a em um peão estratégico contra a Rússia. O curioso não é que o imperialismo defenda o regime ucraniano — isso é esperado, já que atua como ferramenta de sua dominação global —, mas que o PSTU, que nunca falha em posicionar-se ao lado dos monopólios, agora também declare apoio à Palestina.

Afinal, o verdadeiro posicionamento imperialista está com “Israel”, fenômeno reforçado pelo vínculo estreito entre a ditadura ucraniana e a sionista.

Ao rotular a Rússia como um “Estado invasor”, os morenistas revelam sua adesão ao formalismo jurídico burguês, abandonando completamente a análise materialista e a luta de classes. Ignoram, convenientemente, que a expansão da OTAN desde os anos 1990 violou os acordos estabelecidos no pós-Guerra Fria e criou uma ameaça existencial para a Rússia, cercando-a com bases militares hostis. Esperavam que a Rússia assistisse passivamente ao avanço imperialista até que estivesse totalmente encurralada, sem nenhuma possibilidade de reação?

A operação militar russa não é uma invasão expansionista, mas uma medida de autodefesa contra o cerco imperialista. Reduzir essa ação a uma mera agressão é alinhar-se à propaganda que legitima a ofensiva imperialista contra qualquer resistência que ameace sua ditadura. Demonstrando ainda uma dificuldade enorme em relacionar os acontecimentos de maneira minimamente lógica, o PSTU continua:

“Isso prova que esses governos capitalistas, como EUA, Europa, Rússia ou China, não têm interesse em garantir direitos democráticos ou independência nacional em lugar nenhum. Estão disputando zonas de influência, para garantir seus próprios interesses. 

Chega a ser ridículo que Zelensky, presidente da Ucrânia, país invadido pela Rússia, apoie Israel, que é o país invasor e opressor da Palestina, demonstrando seu alto grau de subserviência ao imperialismo dos EUA.”

Ora, não é ridículo, é natural. Ambos são sionistas, sustentados pelos dólares e euros que jorram para sustentar uma máquina de guerra dedicada a aprofundar a ditadura imperialista contra os povos oprimidos e os países atrasados, uma classificação que abrange a Rússia, por mais que as deficiências teóricas dos morenistas os levem a insistir na tese absurda do “imperialismo russo”. Ambos são, finalmente, peões do imperialismo.

“Nossa posição é comprometida com a luta pela autodeterminação em qualquer parte do planeta. Assim como estamos com a resistência ucraniana, contra a invasão russa, também estamos com o povo palestino, contra a opressão e invasão israelense. É tarefa dos trabalhadores enfrentar os diversos blocos burgueses e imperialistas e defender seus diretos democráticos em todo mundo.”

E a autodeterminação do povo russo? Pode ser ameaçada pelo imperialismo como vem sendo desde os anos 1990. Para os morenistas sim.

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