A posse de Trump no começo desta semana levou a uma intensa reação de diversos setores do imperialismo, preocupados com o rumo que a política do governo norte-americano irá tomar agora sob o comando do republicano.
Na imprensa burguesa internacional e nacional, são diversas as matérias classificando o vindouro governo Trump como, no melhor dos casos, “incerto” e, no pior, “apocalíptico”. O mesmo se dá com a esquerda pequeno-burguesa.
O grupo Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) publicou, em seu blogue Esquerda Diário, um artigo intitulado Donald Trump assume como novo presidente dos EUA com discurso xenofóbico e transfóbico, no qual procura analisar as primeiras ações do presidente eleito dos EUA.
O título da matéria do MRT já chama atenção pelo seu caráter identitário. Ao chamar Trump de “transfóbico”, assumem a defesa dessa política que foi um dos fatores mais importantes para a derrota do Partido Democrata nos EUA. Conforme já foi dito e demonstrado anteriormente, o identitarismo é uma política impopular, gestada nas universidades norte-americanas e impulsionada pelo aparato de propaganda do imperialismo para tornar um setor mais pequeno-burguês da esquerda mundial refém de sua política criminosa.
Nesse sentido, o MRT se utiliza de uma política do imperialismo para atacar o presidente dos EUA, ficando a reboque da política defendida pela imprensa burguesa, que o atacou sob as mesmas acusações. É o caso do G1, pertencente ao Grupo Globo, que publicou uma matéria com o título ‘Agora só existem dois gêneros: masculino e feminino’, diz Trump em discurso de posse, ou da Folha de S.Paulo, que disse Novo governo Trump promete fortalecer retórica antitrans nos EUA, ainda no final do ano passado.
Na matéria do MRT não faltou, também, a pregação religiosa ecologista, ao denunciarem “ordens executivas para o setor energético” de Trump, dizendo que ele estaria “permitindo a exploração descontrolada de gás e petróleo, ao mesmo tempo que sinalizou que irá revogar os regulamentos sobre carros a combustão e elétricos”. Nesse sentido, demonstram que estão alinhados com a fantasia de que o mundo precisaria retroceder no seu desenvolvimento industrial e na exploração energética. Embora a discussão em questão se refira aos EUA, trata-se de uma política reacionária e catastrófica quando trazida para a situação do Brasil.
Eles demonstram estar em plena conformidade com a política do imperialismo de censura, ao usarem como referência agências do que eles chamam de “fact-checking” (em inglês mesmo), que teriam desmentido afirmações de Trump, “apontando a falta de provas sobre vários dos aspectos a que se referiu, incluindo imigração, criminalidade, vacinas, covid, bem como a impossibilidade de mudança de nomes como o do Golfo do México através de uma simples ordem executiva”.
O MRT, um grupo que se pretende trotskista, demonstra não ter capacidade de se desvencilhar das campanhas e políticas do imperialismo, fazendo a seguinte crítica a Trump:
“Sua face ideologicamente reacionária não se restringiu ao discurso tremendamente xenofóbico e ao negacionismo climático (nas entrelinhas): decretou que nos EUA existe apenas homens e mulheres, e nenhuma outra identidade de gênero, se somando, com isso e os discursos pela liberdade de expressão, aos intentos reacionários de Mark Zuckerberg, Jeff Bezos e Elon Musk.”
Pode-se criticar o presidente eleito norte-americano por diversas questões, no entanto, é absurdo considerar que a sua “face reacionária” se dá por ele fazer uma constatação em grande medida científica e corroborada por qualquer estudo sério de biologia, que é a existência de apenas dois sexos humanos.
Pior do que isso é criticar Trump por sua defesa demagógica da liberdade de expressão. Com esse tipo de constatação, o MRT afirma que uma organização marxista não deveria defender os direitos democráticos da população. Afinal, a liberdade de expressão seria, na realidade, parte da política dos “reacionários Mark Zuckerberg, Jeff Bezos e Elon Musk”. Finalmente, não é porque a direita finge defender a liberdade de expressão que a esquerda deve abandonar seus princípios mais fundamentais e lutar pela censura, pela repressão.
Nesse sentido, o MRT se apoia em uma política totalmente falida, a qual foi, inclusive, derrotada de forma humilhante nas eleições norte-americanas: a política identitária do Partido Democrata. Defender a veracidade de teorias como a de que uma pessoa tem a prerrogativa de escolher seu próprio sexo se mostrou algo tão impopular que ela foi abandonada por seus principais fiadores. Um exemplo é a Disney, que afirmou que não irá mais praticar a cultura woke (identitária) devido ao prejuízo que isso causou a sua bilheteria.
Essa política já se provou anti-marxista e contra os trabalhadores e os setores mais pobres da população. Não favoreceu em nada os setores que ela diz defender (negros, mulheres, homossexuais etc.), trazendo apenas ganhos materiais e prestígio para uma camada privilegiada desses setores, subornada para abandonar a luta coletiva por melhores condições da população de conjunto e defender apenas os seus próprios interesses.
A conclusão a que se chega é que o MRT adota uma política não apenas errada e irresponsável para tratar da questão da presidência de Trump, mas uma política falida e que já foi derrotada pelo próprio Trump e pela extrema direita em vários outros lugares. No Brasil, ocorre a mesma coisa. Ao seguir esse tipo de ideologia, a esquerda prepara uma vitória do bolsonarismo em 2026.
Nesse sentido, para combater a extrema direita e, mais importante que isso, o imperialismo, é preciso romper de uma vez por todas com o identitarismo. Senão, a esquerda será totalmente atropelada pelo bolsonarismo no Brasil no próximo período.