No dia 1º primeiro de setembro, foi publicada uma coluna de autoria do deputado federal Reimont Otoni, do PT do Rio de Janeiro, em que o parlamentar demonstra sua animação e ansiedade enquanto espera para comemorar a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A coluna, publicada no Brasil 247, demonstra grande um lapso de memória em relação ao golpe de 2016, “com o Supremo e com tudo”, e da prisão de Lula em 2018, em um processo ilegal com muitas semelhanças com o julgamento do STF em relação a Bolsonaro, como é o caso da falta de provas substanciais e o uso de delações como provas para a condenação.
Há também uma grave falta de percepção política, já que a prisão de Bolsonaro é apenas uma manobra para a eleição de algum candidato de direita aceito pela burguesia, caso de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que já prometeu um indulto a Bolsonaro caso seja eleito, fazendo a esquerda correr o risco de apoiar o desmonte de praticamente todos os direitos da população para, no fim, acabar com Bolsonaro livre de qualquer forma.
A argumentação de Reimont Otoni, assim como a de toda a esquerda e da direita que querem colocar Bolsonaro na cadeia, nunca é baseada nas provas materiais do processo, o que é óbvio, pois elas não existem. Em seu lugar, são sempre usados os mesmos chavões de sempre, a ideia de que Bolsonaro tentou um golpe de Estado em 2023:
“Bolsonaro não será condenado por fazer oposição a Lula, ao PT ou à esquerda, como tenta fazer crer. Será condenado por encabeçar uma conspiração que pretendia abolir o Estado Democrático de Direito e implantar uma ditadura de consequências inimagináveis. Basta revisitar suas ações, entrevistas e frases para saber que sempre alimentou um projeto de ódio e de morte. Inúmeras vezes verbalizou esse desejo, como fez ao defender a tortura e afirmar que a ditadura de 1964 só errou por ter matado poucos oposicionistas.”
Se há algo que podemos concordar é que Bolsonaro não está sendo condenado por fazer oposição à esquerda. Isso é fato, já que a esquerda não controla o regime político a ponto de decidir quem pode ou não ir para a cadeia, mas sim, serve de fachada democrática para colocar as pessoas na cadeia.
No entanto, também não é fato que ele esteja sendo perseguido por tentar dar um golpe de Estado. Primeiro, porque quem está julgando Bolsonaro é justamente o órgão que garantiu o golpe de 2016. Caso fosse realmente uma luta contra o golpe de Estado e em nome do “Estado Democrático de Direito” que nunca existiu de fato no Brasil, por que é que os juízes não perseguiram os golpistas de 2016? Melhor, por que é que eles ajudaram a dar o golpe em 2016?
O golpe de 2016 não precisaria de delações para colocar os responsáveis atrás das grades. Dallagnol e Moro, por exemplo, foram expostos em conversas privadas após o hackeamento do celular do ex-juiz e suas conversas eram muito mais comprometedoras do que todas as supostas provas contra Bolsonaro, para citar apenas uma das milhares de provas contra a Lava Jato e os golpistas que derrubaram Dilma e prenderam Lula.
Continuando o texto, o deputado lembra das falas de Bolsonaro:
“Revisitar as falas desse senhor causa nojo e deixa evidente que sempre desprezou e odiou negros, mulheres, empobrecidos, indígenas, artistas, humanistas, homossexuais, pessoas com deficiência, os vulneráveis, os sem-terra e os sem-teto (a lista é imensa); sempre desprezou e odiou a Cultura, a Educação, a Ciência e os Direitos Humanos. Estas seriam as principais vítimas da ditadura que planejava instalar no Brasil.”
Muitas, para não dizer a maioria, das coisas que Bolsonaro já disse até hoje são realmente abomináveis. Porém, além de não configurarem crime, já que supostamente vivemos em um Estado Democrático de Direito, não são muito diferentes do que pensam os juízes do STF. Por exemplo, a ministra Carmen Lúcia disse, recentemente, que é necessário impedir que “213 milhões de pequenos tiranos soberanos dominem os espaços digitais no Brasil” ao justificar seu voto para acabar com a liberdade de expressão na internet e tornar inconstitucional o artigo 19 do Marco Civil.
Os 213 milhões de tiranos são praticamente a totalidade da população brasileira. Sendo assim, segundo a ministra, todos os “negros, mulheres, empobrecidos, indígenas, artistas, humanistas, homossexuais, pessoas com deficiência, os vulneráveis, os sem-terra e os sem-teto (a lista é imensa)” são tiranos que devem ser calados no Brasil. Qual a diferença para Bolsonaro?
A alegria com a condenação de Bolsonaro também revela a falta de política por parte da esquerda pequeno-burguesa no Brasil. Caso esse setor conseguisse fazer frente ao bolsonarismo através da mobilização popular e defendendo os interesses da população brasileira, nada disso seria necessário.
