Polêmica

Nacionalismo para inglês ver

Esquerda apoia o imperialismo “democrático” e se disfarça de nacionalista

O portal Esquerda Online publicou um editorial das correntes Resistência e Insurgência, do PSOL, relacionado ao aumento das tarifas sobre exportações brasileiras imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O artigo já começa com um gravíssimo erro ao afirmar, na primeira frase, que “estamos diante do mais grave ataque dos EUA ao Brasil, desde o apoio norte-americano ao golpe militar de 1964”.

Não é nada surpreendente que organizações que não apenas não viram acontecer o golpe de Estado de 2016, como, de fato, apoiaram a derrubada da presidenta Dilma Rousseff (PT), deixem de lado o acontecimento mais importante da política nacional dos últimos anos.

Como ficou comprovado pela “VazaJato”, o FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos participaram ativamente da coordenação da Operação Lava Jato, que não só foi fundamental para a derrubada da presidenta eleita, como também para a prisão ilegal do presidente Lula. O próprio Michel Temer, como demonstrou o WikiLeaks, atuava como representante da Embaixada.

Na verdade, o principal líder da corrente Resistência, Valério Arcary, na época no PSTU, chegou a afirmar claramente: “o imperialismo não quer o golpe [no Brasil]”.

O PSTU, de fato, apoiou a derrubada de Dilma, com a palavra-de-ordem “Fora Todos”, ou seja, “Fora Dilma”, enquanto o PSOL comemorou a Lava Jato e pedia a prisão de todos os acusados pela farsa do “Mensalão”.

Simplesmente por isso, podemos afirmar que a colocação “o tarifaço de 50% anunciado por Trump é uma agressão imperialista sem precedentes à soberania nacional”, não passa de um nacionalismo barato, para inglês ver.

Quem vê, pode realmente achar que esses grupos estejam preocupados com os interesses nacionais, mas seu histórico político mostra que são apenas oportunistas a reboque da política da direita.

Não entendam errado: a medida de Trump é, de fato, um ataque à soberania nacional, é uma típica política imperialista. Mas não chega nem perto de ter a grandeza dos ataques aos interesses nacionais promovidos pelo golpe de Estado.

Na verdade, a guerra comercial contra o Brasil ataca mais diretamente os grandes exportadores nacionais, isto é, principalmente o chamado “agronegócio”, os latifundiários, exportadores de commodities. Naturalmente, o povo brasileiro sofrerá como consequência disso.

Isso coloca justamente a necessidade de definir uma política concreta e classista (ou seja, em prol dos interesses da classe operária) diante do ataque de Trump. A posição das correntes do PSOL, no entanto, em nada têm a ver com os interesses da classe operária.

Elas dizem que “os objetivos são declaradamente políticos. Trump chantageia o Brasil para livrar Bolsonaro da condenação e prisão pela tentativa de golpe de Estado em 2022. Ataca, dessa forma, a democracia brasileira e suas instituições”.

Sim, nitidamente, os objetivos são “políticos”. No entanto, a esquerda erra vergonhosamente em se colocar ao lado dos abusos antidemocráticos do Supremo Tribunal Federal (STF) em sua perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e os bolsonaristas. 

Não entremos no mérito, o qual já tratamos inúmeras vezes neste Diário, sobre a “tentativa de golpe” sem armas de 8 de janeiro de 2023, que, em si, já é uma demonstração de completa incapacidade de análise política da realidade. O simples fato de organizações que se dizem socialistas e revolucionárias saírem em defesa da “democracia” e “suas instituições” já é vergonhoso. Mais vergonhoso, ainda, é acreditar que o tal “ataque” à “democracia brasileira” é, na verdade, o ataque ao STF, uma das instituições mais reacionárias do Estado brasileiro (senão a mais reacionária); membro de carteirinha de todos os golpes de Estado que ocorreram no Brasil ao longo da história.

O problema aqui é a esquerda que, invés de denunciar os abusos do Judiciário e — como deveria ter feito o próprio presidente Lula — “lavar as mãos” diante do que STF fez, se colocar como guardiã máxima da defesa de ministros que não foram eleitos e que atuam incessantemente pelos interesses do setor principal do imperialismo (que não é o Trump). E ainda apresentar isso como se fosse nacionalismo!

Pior ainda, os grupos do PSOL, em sua jornada em defesa da censura “do bem”, aproveitaram para, novamente, colocar sua política contra a liberdade de expressão — claro, sempre em nome da moral e dos bons costumes, ao estilo da velha direita conservadora tradicional:

“Não menos importante: Trump investe contra o Brasil para proteger os interesses escusos das big techs, não admitindo sua responsabilização, segundo a lei brasileira, pelos crimes de apologia ao ódio, pornografia infantil, racismo, ações contra a democracia etc.”

O que esperar de “revolucionários” que defendem a repressão do Estado contra a “apologia ao ódio” e “ações contra a democracia”? Fica claro, portanto, que, para eles, a revolução, a ditadura do proletariado, a guerra contra a burguesia, não passam de jargões para alavancar sua política oportunista. 

Se os revolucionários lutam efetivamente pelos direitos democráticos da população (algo que os “socialistas” do PSOL não fazem ao defenderem a censura), nunca defenderão salvar a “democracia”, como algo abstrato, quer dizer, a democracia burguesa, o Estado dos capitalistas, a ditadura da burguesia contra o proletariado.

Da mesma forma que acusam “Jair [Bolsonaro], seus filhos e Tarcísio de Freitas” de “traidores da pátria, conspirando com Trump para prejudicar o Brasil e seu povo”, podemos acusá-los dos mesmos crimes. Afinal, não apoiaram eles o golpe e apoiam agora a política do STF (isto é, do imperialismo) contra o povo brasileiro?

“Estamos com Lula na intransigente defesa da soberania nacional. O governo brasileiro tem o dever de tomar todas as medidas necessárias para salvaguardar os interesses nacionais. É momento de Lula liderar o país na luta contra a grave ameaça de Trump. O presidente precisa se dirigir à população em pronunciamento e convocar a mobilização em defesa do Brasil!”

Nisso estamos de acordo, Lula deve liderar um movimento popular em defesa da soberania do País. Mas o problema é de qual forma? Quer dizer, o que deve ser feito para conter a política imperialista? Com certeza não é a simples política de retaliação defendida pelo governo. Ao contrário, o governo deve aproveitar os ataques econômicos do imperialismo para desenvolver sua produção interna, fomentar seu mercado interno, reindustrializar o País e negociar em condições mais favoráveis com outros países fora do bloco imperialista — assim com fizeram a Rússia e a China em reação às sanções americanas.

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