Comecei a militar no PCO em janeiro de 2007. Estava já entrando no meu quinto ano de universidade, tendo participado como ativista independente do movimento estudantil da Unicamp nos anos anteriores.
Foi assim que conheci a Natália, logo no primeiro dia da Universidade de Férias da AJR, em janeiro. Ela era a coordenadora da mesma AJR e estudante de letras da USP. A juventude do PCO era formada por alguns estudantes da USP, da UNESP, da Unicamp, alguns secundaristas e companheiros de universidades federais.
Lembro-me que por sugestão da Natália, terminada a Universidade de Férias, fiquei uns dias a mais em São Paulo para participar de uma reunião de estudantes das estaduais, ainda nas férias, para discutir algumas ações para o início do ano.
Na reunião da AJR, havíamos decidido que a palavra de ordem a ser apresentada ao movimento estudantil das universidades paulistas era “Greve com ocupação!”.
Para quem não sabe, havia uma unidade no movimento estudantil da USP, UNESP, Unicamp, já que todas estão submetidas ao governo do Estado de São Paulo. Outra coisa a ser dita é que de 2002 até 2006, houve várias mobilizações dos estudantes. Eu não estava lá, mas sei que a Natália, ainda secundaristas, participou da vitoriosa greve da FFLCH de 2002 pela contratação de professores.
Voltando a 2007, a iniciativa de começar o ano fazendo uma ampla campanha em torno da palavra de ordem de greve com ocupação tinha como fundamento justamente essa experiência dos anos anteriores e uma crise enorme que se abriu no início do ano por conta da política de cortes verbas dos governos do PSDB, que ficaram conhecidos como “decretos do Serra”.
Começado o ano letivo, lá estávamos nós, na USP, na Unicamp, na Unesp, panfletando milhares de panfletos com a palavra de ordem “greve com ocupação”.
Lembro também das reuniões com a esquerda pequeno-burguesa que dizia ser impossível distribuir tanto panfleto e, nem preciso dizer, que essa palavra de ordem era errada por ser muito incisiva ou sei lá qual a desculpa do momento.
A crise evoluiu rápido. No começo de abril, se não me falha a memória, os estudantes da Unicamp, dentre os quais eu mesmo, decidiram ocupar a reitoria. A ocupação durou apenas quatro ou cinco dias e graças à política muito pelega de todas as direções do movimento, tivemos que sair. Apesar disso, a ocupação mostrou que esse era realmente o caminho e serviu como experiência, tirando lições para as próximas ocupações, principalmente como antídoto contra as manobras desmobilizadoras da esquerda pequeno-burguesa.
No começo de maio, então, foi a vez dos estudantes da USP. Alguns poucos estudantes decidiram entrar na reitoria em 3 de maio, o que num estalar de dedos se transformou num enorme movimento.
Se já havia a ocupação, chegou a hora da greve. A ação dos estudantes da USP despertou a maior greve de estudantes que eu já vi. E nunca houve, desde 2007, greve daquelas proporções.
Cada faculdade, cada instituto, ia marcando a sua assembleia e aprovando a greve. Lembro de irmos seguindo o roteiro das assembleias. A gente chegava, falava da importância da greve, mostrava a lista de adesão, e os estudantes aprovavam a paralisação. Foram bem poucos os cursos que não aderiram à greve na Unicamp, na USP e na Unesp: humanas (incluindo a FEA), exatas (incluindo as engenharias), biológicas e saúde (incluindo a medicina). A greve era geral.
As ocupações começaram a pipocar em todo o estado. Nos campi onde havia reitoria, se ocupava o prédio da própria; onde não havia, se ocupava o prédio de alguma diretoria. Creio que na Unesp, que possui muitos campi descentralizados pelo estado, tenha havido ocupação em todas as cidades.
Era a greve com ocupação, exatamente como vinha divulgando a AJR desde o início do ano.
A ocupação da reitoria da USP durou 51 dias, mesmo diante de uma enorme pressão da reitoria e de todas as organizações da esquerda pequeno-burguesa que dia após dia se esforçava para convencer os estudantes a desocupar.
Como eu mencionei, a Natália era a coordenadora da AJR, que foi essencial para impedir a desocupação. Não vou entrar no detalhe de todas as manobras que tentaram fazer contra o movimento, mas a mobilização era tão grande que os estudantes se mantinham firmes.
O movimento da USP e das universidades paulistas foi tão intenso que logo se espalhou pelo Brasil todo. Até meados de 2008 ainda havia movimento estudantil ocupando reitorias.
Participei com a Natália na ocupação da USP – eu vinha de Campinas toda semana para ficar na ocupação –, onde ela, junto com a AJR, teve papel essencial na manutenção do movimento. Na prática, a ocupação se tornou a direção de todo aquele movimento estudantil e, sem exagero, o PCO era o único partido que estava 100% com os estudantes na ocupação. Além do natural peleguismo da esquerda pequeno-burguesa, o que também explica o desespero em desocupar a reitoria, era o fato de que a AJR dirigia todo aquele movimento.
Depois que a greve e a ocupação na USP foram encerradas, continuaram a pipocar ocupações pelo Brasil.
Em 2008, fui com a Natália para Brasília, pois os estudantes da UnB ocuparam a reitoria lá. Ajudamos a organizar a ocupação, em particular a orientar os estudantes sobre as manobras dos inimigos do movimento para desocupar. Na UnB, a ocupação deve ter durado uma semana.
Ainda em 2008, participamos da ocupação da reitoria da Unifesp. Numa noite, reunimos uns 30 ou 40 estudantes na Comuna, onde morávamos. Fizemos uma reunião para decidir como seria, e partimos a pé para a reitoria da Unifesp, ali na Vila Clementino.
Entramos, mas logo veio a polícia. Aquela reitoria tinha a desvantagem de não ficar dentro do campus, onde a polícia deveria ter mais dificuldade de chegar.
A polícia nos tirou lá de dentro à base de pontapés e muito spray de pimenta; muito mesmo!
Nos puseram sentados na calçada. A Natália e outros companheiros do PCO estavam comigo. Nos deixaram ali, sentados no chão, por meia hora, 40 minutos, enquanto xingavam todo mundo, em particular as mulheres.
E tome spray de pimenta!
Chegaram os camburões. Colocavam o máximo de estudantes possível dentro dos camburões, até a porta quase não fechar; e antes de fechar, tome spray de pimenta! O camburão vai em alta velocidade até a delegacia – por sorte a 16ª era perto dali –, dando cavalo de pau para sacudir as sardinhas temperadas com pimenta que estavam lá dentro.
Não sei quantos camburões foram necessários para levar os estudantes. Chegamos na delegacia e fizemos uma fila para depor. Fomos todos processados.
A Natália foi processada por participação nessa ocupação da reitoria da Unifesp. O processo durou alguns anos, não sei exatamente o que deu, mas isso não importa muito para essa história.
Essa mobilização das ocupações de reitoria foi a última grande mobilização estudantil que tivemos no País. Outras aconteceram, mas não como essa. Como expliquei na minha coluna anterior, ecos desse movimento ainda perduraram até 2009, 2010 e 2011. A política pelega da esquerda pequeno-burguesa, que foi recuando cada vez mais, permitindo que a polícia tomasse conta das universidades e aumentando a repressão, acabou por impor uma desmobilização.
Aquele movimento conseguiu algumas vitórias, que a memória não me permite descrever aqui. Mas, certamente, a vitória mais importante foi o fortalecimento de uma política revolucionária.
Como expliquei no início, o PCO foi o principal instrumento que impulsionou a mobilização, lançando a palavra de ordem de “greve com ocupação”, conseguindo, como é a tarefa de um partido revolucionário, entender o que a massa de estudantes queria.
E à frente da juventude do PCO estava a companheira Natália Pimenta.




