Os seres humanos vêm sendo vigiados e punidos o tempo todo. Não está fácil. O maior reduto de vigilâncias é a Escola. Os capangas do sistema capitalista/imperialista utilizam rédea curta para violentar simbolicamente alunos e professores, enquadrando-os ao método do funil: exclusão/inclusão.
Professores que recebem salários baixos são controlados por isto. As faixas salariais de cada servidor ou trabalhador têm sua pena de morte decretada no país, que ainda não é feliz: “Brasil é o 44º país mais feliz do mundo, segundo o relatório World Happiness Report (Relatório Global sobre a Felicidade, em tradução livre), apresentado pela ONU anualmente em 20 de março, quando é comemorado o Dia Mundial da Felicidade”, 20 de mar. de 2024.
Na semana passada, a imprensa burguesa deitou e rolou em cima de uma frase do Lula, que, dirigindo-se aos presidentes da Câmara e do Senado, apresentou Gleisi Hoffman como uma “mulher bonita” que assumiria a articulação política. Foi o bastante para as redações de jornais e de TV forçarem a interpretação do texto, dando aos bolsonaristas a senha para tornarem a coisa um pouco mais chula.
Lula disse o seguinte: “Eu quero mudar a relação com vocês, por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra de relações institucionais; é que eu não quero mais ter distância entre vocês”. Um certo deputado Gustavo Gayer, do PL de Goiás, aproveitou a deixa e provocou Lindbergh Farias, o marido da ministra, nas redes sociais, dizendo que o presidente da República estaria agindo como um “cafetão” ao oferecer a ministra para um “trisal” com Davi Alcolumbre, o presidente do Senado.
É óbvio que a intenção de Lula não passou nem perto disso, o que qualquer um sabe, mas vale tudo para desgastar o governo. O que chama a atenção no episódio é o espectro identitário, que hoje vai da esquerda pequeno-burguesa à extrema direita, ancorado que está na direita burguesa guardiã da democracia. O coro dos indignados se fez ouvir por todo lado. O país inteiro se converteu ao feminismo identitário num passe de mágica.
Como toda mágica, essa também oculta um truque. O discurso woke, com a sua terminologia – violência política, violência de gênero, machismo, misoginia, objetificação, sexualização e também processo, punição, cassação – é o truque do prestidigitador. Os mágicos de salão, a propósito, costumavam distrair a plateia com a presença de… uma mulher bonita. Enquanto os olhares eram atraídos pela beldade, o mágico fazia o truque. Agora o engodo passa pelo identitarismo, frequentemente usado contra a própria esquerda que o abraçou como bandeira.
É muito fácil acusar qualquer pessoa de “crime” (vejam-se os casos de Silvio Almeida e Alysson Mascaro) ou de “violência verbal” com base nos pressupostos identitários, segundo os quais a veracidade dos fatos está também associada a uma identidade. Lula sofreu um desgaste – e Merval Pereira, colunista do Globo e, pasmem, presidente da Academia Brasileira de Letras, escreveu um artigo de jornal que simulava um diálogo de botequim com todas as supostas “frases incorretas” de Lula desde o início do mandato. Bons tempos aqueles em que a ABL era a casa de Machado de Assis.
De resto, Lula é tachado de machista, antiquado, desatualizado (na melhor das hipóteses, de “velho”), Lindbergh ajuíza ação no STF contra o deputado do trisal por injúria e difamação, Alcolumbre pede a cassação do mesmo parlamentar por falta de decoro e, enquanto isso, na feira, longe dos holofotes, os vendedores apregoam suas mercadorias: “Mulher bonita não paga… mas também não leva!”.