Nascido em Jerusalém no dia 8 de maio de 1897, Musa Alami foi uma das principais figuras da luta nacional palestina durante o período do Mandato Britânico e no contexto da ocupação sionista. Filho de Faidi Musa al-Alami, que chegou a ocupar a prefeitura de Jerusalém e representou a cidade no Parlamento Otomano, Musa cresceu em meio ao ambiente político que fermentava a resistência árabe-palestina à dominação estrangeira.
Formado em Direito pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Alami retornou à Palestina em 1924 com sólida formação jurídica, o que lhe garantiu posição na administração do Mandato Britânico. No entanto, sua trajetória no aparato colonial foi marcada por enfrentamentos com o sionismo: em 1934, foi afastado por pressão de organizações sionistas que influenciavam diretamente o governo britânico.
Entre 1937 e 1939, exilado no Líbano e na Síria, Alami participou ativamente de conferências e negociações internacionais, incluindo o encontro de 1939 no Palácio de Saint James, em Londres, e conversas com representantes britânicos e árabes em Bagdá. As promessas britânicas de garantir um governo conjunto na Palestina foram, como sempre, rompidas pelos imperialistas.
De volta à Palestina em 1941, engajou-se na tentativa de articular a frente árabe contra o avanço do sionismo. No encontro preparatório da Liga Árabe, em Alexandria (1944), propôs a criação de um fundo pan-árabe para proteger terras palestinas ainda não confiscadas, além de uma campanha coordenada de propaganda internacional pró-palestina. Embora ambas as propostas tenham sido aprovadas formalmente, apenas o Iraque cumpriu os compromissos financeiros — reflexo da completa inoperância da burguesia árabe diante do avanço imperialista.
Em 1945, fundou a Sociedade de Desenvolvimento Árabe (ADS), sediada em Jericó, com o objetivo de promover o desenvolvimento agrícola e social das vilas palestinas, especialmente entre órfãos e refugiados. A iniciativa logo sofreu oposição de setores nacionalistas que viam o projeto como uma possível via de tawtin — ou seja, de adaptação permanente dos refugiados fora de suas terras — algo que Alami sempre negou.
Após a Nakba de 1948 e a ocupação da Cisjordânia pelo Reino Haxemita da Jordânia, Alami recusou oferta de cargo ministerial e concentrou seus esforços na reconstrução da ADS, obtendo concessão de terras e reassentando cem famílias de refugiados para cultivo agrícola. Os resultados vieram rapidamente: em seis meses, águas brotaram do solo seco e dezenas de poços foram escavados, permitindo a plantação de grãos, legumes e árvores, além da criação de animais.
A entidade se expandiu com apoio de fundações ocidentais como a Ford Foundation, o que também gerou críticas. No entanto, a ADS tornou-se um dos poucos projetos de resistência prática e nacional à destruição sionista, ainda que sem respaldo efetivo dos governos árabes.
Durante a guerra de junho de 1967, a entidade foi atacada pelas forças de ocupação, que destruíram plantações e instalações. Alami, já idoso, conseguiu levantar novamente recursos internacionais para retomar as atividades da ADS, inclusive recebendo a inesperada visita de Ben-Gurion e Moshe Dayan em 1968, que viram de perto a destruição causada pela entidade sionista.
Até seus últimos dias, Alami seguiu dedicado à reconstrução do projeto. Faleceu em 8 de junho de 1984, aos 87 anos, em Amã, após complicações de saúde. Seu corpo foi levado a Jerusalém, onde foi sepultado com um cortejo popular no cemitério Bab al-Sahira.