O artigo A vassalagem da extrema direita e a resposta soberana do governo, de Elisabeth Lopes, publicado no Brasil 247 neste sábado (12), apresenta uma visão do BRICS que não corresponde aos fatos. Apesar da importância do bloco, o imperialismo é uma máquina poderosa que não vai cair sem lutar. A prova disso é que já estão sendo preparadas guerras contra três de seus importantes membros: Rússia, China e Irã.
A autora diz que “com pautas voltadas à cooperação em diversas áreas e objetivos estratégicos de inclusão e sustentabilidade, o Brics atua em favor de uma ‘ordem global equitativa’, rompendo com a lógica de subordinação imposta pelas antigas potências hegemônicas”. Parafraseando Garrincha: faltou combinar com o imperialismo.
Uma eventual ruptura com a subordinação que o imperialismo impõe aos países atrasados, nunca se dará a frio, por meio de acordos. Uma ordem global equitativa pressuporia o fim do controle econômico e militar do imperialismo sobre os demais países. Dito de outro modo, seria o fim do imperialismo.
Segundo Elisabeth Lopes, “além da proposta de ‘cooperação política e de segurança; econômica e financeira; e cultural e interpessoal, a pretensão do bloco é fortalecer a ‘parceria estratégica’ em ações ‘da promoção da paz, de uma ordem internacional mais representativa e justa, de um sistema multilateral revigorado e reformado, do desenvolvimento sustentável e do crescimento inclusivo’. Trata-se de um posicionamento coletivo em favor de uma nova governança global mais justa e representativa”.
Como pretensão, a postura do BRICS é positiva, mas não se pode esquecer que o imperialismo comanda a OTAN, tem criado blocos militares para cercar a China, tem financiado o governo o Estado Islâmico na Síria; tem feito o mesmo financiando os nazistas na Ucrânia; tem financiado grupos separatistas no continente africando, por onde se olha, se vê de tudo, menos o imperialismo em uma postura defensiva.
Mundo “multipolar”
Elisabeth Lopes escreve que “esse esforço sinaliza uma mudança importante no cenário internacional. As proposições da Cúpula afastam-se da lógica de dominação de uma nação sobre as demais e se assentam em princípios de solidariedade e multipolaridade”.
É preciso dizer que o imperialismo não pode conviver com “multipolaridade”, “governança global”, nem nada parecido. Para ele, é fundamental controlar todos os mercados, fontes minerais e recursos por todo o planeta.
A articulista conclui seu raciocínio dizendo que “ainda que os desafios para a concretização desses compromissos sejam enormes, o simples fato de vislumbrarmos esse horizonte já é um respiro em meio a uma humanidade exaurida por guerras, competições predatórias e desequilíbrios profundos, marcas persistentes do unilateralismo imperial”.
No entanto, a má notícia é que as guerras mal começaram. Como anunciou este Diário, a Europa está em uma forte militarização. A Alemanha já figura como quarto país mais armado do mundo. Na Oceania, que tem participado de coalizões militares com os EUA, se verifica o mesmo fenômeno.
Trumpismo
Lê-se também no artigo que “as disputas por hegemonia econômica, tecnológica e geopolítica, têm intensificado as tensões, sobretudo, com a decadente supremacia dos Estados Unidos. O estilo agressivo e arrogante do presidente Donald Trump denuncia o desespero do imperialismo americano diante da emergência de novas lideranças globais, como a China e, cada vez mais, o próprio Brasil”.
É preciso, no entanto, diferenciar o trumpismo do imperialismo. Donald Trump nunca foi o candidato preferencial do imperialismo. Ele representa um setor da economia americana que não quer ver os recursos públicos sendo drenados pelo setor armamentista e pelo grande capital financeiro.
Trump se elegeu com um discurso contra as guerras, e seu apoio a Israel contra o Irã provocou uma enorme crise na sua base eleitoral. Disso se tira a conclusão que o presidente americano sofre pressões gigantescas e pode muito bem, como se viu, se envolver em conflitos militares.
A seu favor, os blocos europeu e japonês do imperialismo, vendo que os EUA já não conseguem agir sozinho como polícia do mundo, estão aumento sua cota de participação na OTAN, de modo que podem iniciar conflitos e envolver os americanos por meio de seus acordos.
Vassalagem
No restante de seu artigo, Elisabeth Lopes trata basicamente da atitude da direita bolsonarista em sua subserviência canina às medidas absurdas de Donald Trump.
É verdade que “é fácil compreender o alinhamento de Tarcísio ao estilo Trump de governar. Sua atuação no governo de São Paulo é marcada por políticas que prejudicam os trabalhadores, especialmente os de média e baixa renda”.
Segundo a autora, “essa postura, no entanto, não é um caso isolado. Ela reflete um cenário mais amplo que se aprofundou desde o golpe contra Dilma Rousseff, quando foi aberto espaço para uma onda de políticos desqualificados e descompromissados com o interesse público”. E aqui é preciso perguntar: quem esteve por trás do golpe?
Em primeiro lugar, os “democratas”, os opositores de Trump, foram os mentores do golpe. Junto a isso, temos a grande imprensa, as Forças Armadas e o Judiciário, como bem explicou Romero Jucá, todo unidos sob o comando do imperialismo.
Aqueles que acreditam lutar contra a vassalagem, e que caíram no conto de que o Supremo está em uma cruzada contra o golpismo, estão, de fato, levando adiante uma política que nos colocará em uma posição ainda mais subalterna diante do imperialismo.
Não se sabe se Tarcísio de Freitas queimou a largada apoiando a ingerência de Trump, o fato é que a burguesia tem muitos nomes para apresentar. O essencial para ela, no momento, é tirar da frente tanto Lula quanto Bolsonaro.




