Cerca de 800 trabalhadores rurais do Movimento dos Sem Terra (MST) ocuparam, na madrugada da última sexta-feira (4) para sábado (5), a massa falida da Usina Santa Teresa, em Goiana, Pernambuco. A ação, primeira da jornada Abril Vermelho de 2025, foi realizada na sede da usina, pertencente à Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), do grupo João Santos, que acumula dívidas trabalhistas com mais de 9 mil funcionários. Dirigente nacional do MST, Jaime Amorim esteve presente e anunciou a intenção de transformar as terras, historicamente usadas para monocultura de cana, em áreas de produção de alimentos como legumes, arroz e inhame.
A ocupação visa pressionar pela desapropriação das terras para a reforma agrária. “Já temos 10 acampamentos nas terras da Santa Teresa, mas agora ocupamos a área da sede da usina”, declarou Amorim, destacando que o grupo João Santos planeja vender parte do terreno para sanear outras empresas. “Essas terras têm que estar a serviço da reforma agrária”, afirmou, informando que o MST já contatou o Ministério do Desenvolvimento Agrário para viabilizar a medida. A usina, fundada em 1910 e comprada por João Santos em 1935, chegou a produzir 1,8 milhão de sacas de açúcar por safra, mas é marcada por exploração: em 1998, durante uma greve por melhores salários, o trabalhador Luiz Carlos da Silva foi assassinado com um tiro na nuca por capangas e policiais militares, em uma emboscada que feriu outros 13. Em 2008, 14 envolvidos foram condenados, mas seguem livres.
A violência é recorrente. “Eles eram muito violentos. Sempre que nós ocupamos uma área da Santa Teresa, eles imediatamente respondiam com violência”, lembrou Amorim. Em 2018, a Caig e o governo pernambucano foram condenados a pagar R$ 100 mil à família de Luiz Carlos. No mesmo ano, dois militantes do MST foram mortos em Alhandra, Paraíba, em terras do mesmo grupo. Desde o fechamento da usina em 2017, o conglomerado João Santos, que já foi o mais poderoso do Nordeste, enfrenta crise agravada pela morte de seu fundador, em 2009, e disputas familiares. Recentemente, pagou R$ 23 milhões a 2,4 mil ex-funcionários, mas ainda deve a outros milhares.
Na noite de sábado (5), o MST ocupou outra área, a Fazenda Galdino, em Riacho das Almas, no Agreste pernambucano. O Abril Vermelho homenageia os 21 mortos no Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996. A esquerda deve apoiar essas mobilizações, fundamentais para forçar a reforma agrária e enfrentar o latifúndio.