Em artigo intitulado O declínio de Bolsonaro e o novo momento da situação política no Brasil, publicado pelo portal Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), Danilo Paris procura apresentar a alegação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria tido um “surto” como um evento determinante na política nacional. Diz ele:
“A defesa admitir um ‘surto’ provocado por medicamentos expõe Bolsonaro como alguém incapaz de manejar sua própria situação, projetando fragilidade mental e questionamentos sobre sua capacidade de liderança. Esse elemento, por si só, tem impacto direto sobre sua autoridade interna na extrema direita e na capacidade de arbitrar a sucessão para 2026.”
Antes de avaliar a realidade de análise de Paris, é preciso chamar a atenção para o caráter reacionário de seu argumento. Por que alguém ter um surto psicótico, nas condições em que Bolsonaro se encontra, seria uma demonstração de incapacidade de liderança?
Ora, a versão de Bolsonaro, seja ela verdadeira ou não, é a de que, submetido a uma pressão política gigantesca e sob um conjunto de medicações com possíveis efeitos colaterais, ele teria tido um surto que o levou a tentar queimar sua tornozeleira eletrônica. É algo absolutamente verossímil.
Bolsonaro é vítima de um processo farsa, goste Danilo Paris ou não. A acusação não conseguiu provar que ele tenha cometido qualquer crime. Todos os filhos de Bolsonaro estão sendo investigados. O Judiciário tem tomado decisões para humilhar o ex-presidente, como a imposição da tornozeleira eletrônica. A grande imprensa a todo dia especula sobre a possibilidade de ele ir parar em um presídio comum. Tudo isso causa uma tensão que pode provocar uma instabilidade mental.
O suposto “surto” de Bolsonaro pode até ter como efeito a radicalização de suas bases. Afinal, o sofrimento humano causado pela perseguição estatal normalmente fortalece o apoio aos perseguidos pelo Estado.
Feita essa primeira consideração, vejamos agora a análise do MRT:
“As reações sociais e de diversos setores confirmaram esse enfraquecimento. As vigílias diante da PF foram pequenas, marcadas por episódios de ridicularização – como o pastor discursando diante de Flávio Bolsonaro em defesa da prisão de seu pai, sinalizando um momento de maior moralização de setores anti-bolsonarista que opera não apenas como celebração, mas como desmoralização ativa da base bolsonarista.”
Esses fatos, no entanto, são secundários. Muito mais importante do que tudo isso são as declarações dos clubes militares chamando as prisões de generais de “injustas”. Esse fato demonstra que há uma enorme revolta nos quartéis, que forçam os comandantes a se pronunciar contra o processo, mesmo havendo um acordo dentro da alta cúpula das Forças Armadas em torno da condenação de Bolsonaro.
A falta de uma grande mobilização pode ser explicada por outros motivos que não o debilitamento de Bolsonaro. O primeiro deles é que o próprio núcleo dirigente do bolsonarismo não está apostando em uma mobilização “tudo ou nada” em torno da libertação de seu líder. Este núcleo está buscando negociar a situação do ex-presidente, e não romper com o regime político, o que acaba retraindo o movimento.
O segundo elemento importante é o fato de que a burguesia está em uma ofensiva para isolar Bolsonaro, em uma tentativa de pressioná-lo para apoiar o candidato do grande capital, que, neste momento, parece ser Tarcísio de Freitas. Como a burguesia está em uma ofensiva, é normal que a base bolsonarista se sinta acuada — mas isto é temporário e pode mudar rapidamente.
Este segundo elemento é o que explica, na verdade, o motivo pelo qual o MRT concluiu que “o episódio da tornozeleira e a prisão de Bolsonaro representou um salto qualitativo no seu debilitamento político”. Na prática, o texto de Paris não é uma análise, mas apenas mais uma tentativa de pressionar o ex-presidente.
O grupo, consciente ou não, está em uma aliança com a burguesia em torno de seu principal plano no momento: a candidatura de Tarcísio de Freitas.





