Morreu, neste sábado, 13 de setembro, Hermeto Pascoal. Apelidado de “o Bruxo” da música brasileira, Hermeto, que faleceu aos 89 anos, foi um dos maiores músicos de toda a história do País, reconhecido nacional e internacionalmente. A informação sobre sua morte foi divulgada em nota publicada na conta oficial do músico por sua família:
“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música.
No exato momento da passagem, seu Grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música.
Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva. Hermeto diz:
‘Este canto vem de longe,
A distância não sei dizer,
Salve, salve a toda a gente,
Que vive e deixa viver,
Aqui vai o nosso abraço,
Com o som e o saber,
Tirando de nossas mentes,
As palavras pra dizer,
A música segura o mundo,
Enquanto a gente viver,
É a maior fonte sem fim,
De alegria e prazer,
Toquem, cantem, minha gente,
Até o dia amanhecer.’
Pedimos respeito e privacidade neste momento.
Informações sobre despedidas públicas serão divulgadas em breve nos canais oficiais.
Quem desejar homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria.
Gratidão por todo carinho ao longo do caminho.
Família e equipe de Hermeto Pascoal.”
Nascido em 22 de junho de 1936 no povoado alagoano de Olho d’Água, em Lagoa Grande, manipulava instrumentos improvisados e tocava sanfona ao lado do pai e do irmão José Neto desde muito cedo, animando festas no interior do estado. O fascínio pela experimentação nasceu na infância, quando produzia sons a partir de materiais diversos, como canos, latas e objetos do campo.
Hermeto deixou Alagoas em 1950, aos 14 anos, para trabalhar em rádios de Pernambuco e Paraíba, onde conheceu o sanfoneiro Sivuca. No início dos anos 1960, estabeleceu-se em São Paulo e formou o Quarteto Novo, ao lado de Heraldo do Monte, Theo de Barros e Airto Moreira, grupo importante para a história da música brasileira — acompanhando artistas como Edu Lobo no festival da TV Record em 1967. A criatividade de Hermeto se destacou no grupo, misturando gêneros como forró, baião e jazz.
“Hermeto Pascoal era um desses músicos muito comuns aqui no Brasil que, assim como acontece com Egberto Gismonti, Guinga e outras figuras, você não sabe direito se o classifica como um músico popular ou como um músico erudito, sabe? A música dele era uma música altamente complexa, mas, ao mesmo tempo, muito espontânea”, explica ao Diário Causa Operária (DCO) Francisco Muniz, coordenador do Grupo por uma Arte Revolucionária e Independente (GARI).
Muniz explica que, apesar de não ter sido uma figura acadêmica, a produção musical de Hermeto era altamente complexa e, apesar disso, muito ligada à tradição da música popular:
“Hermeto revolucionou a música instrumental brasileira. Antes dele, o que tinha de música instrumental brasileira era, em sua maioria, relacionado ao samba-jazz, à bossa nova, ao choro etc. Ele trouxe a música nordestina para o universo da música instrumental brasileira, saiu desse eixo relacionado ao samba.”
Nos anos 1970, Hermeto trabalhou nos Estados Unidos com Flora Purim e Airto Moreira, sendo notado por lendas do jazz, como Miles Davis, que o descreveu como “o músico mais impressionante do mundo”. Gravou álbuns solo que se tornaram referência, explorando instrumentos inusitados — e até “corais de porcos”.
Destacando a fama de Pascoal, Francisco Muniz ainda explica que se tratou de um músico “muito importante e muito respeitado, tanto no Brasil quanto fora”. “Era, realmente, uma pessoa com uma capacidade fora do comum”, diz, afirmando que sua ida deixará “uma grande lacuna no universo da música mundial”.





