Supremo Tribunal Federal

Moraes interveio em favor de banqueiro com contrato milionário junto à sua esposa, diz O Globo

Revelações foram feitas pela jornalista Malu Gaspar no âmbito das investigações sobre o liquidado Banco Master

Novas revelações publicadas nesta segunda-feira (22) pela colunista Malu Gaspar detalham uma suposta ofensiva do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, junto à cúpula do Banco Central (BC), visando favorecer Daniel Vorcaro, ex-controlador do Banco Master, preso por suspeita de fraude. Segundo a reportagem, Moraes teria contatado o presidente do BC, Gabriel Galípolo, por pelo menos quatro vezes.

Conforme já revelado anteriormente pela mesma jornalista, o escritório de advocacia da esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, possui um contrato milionário com o próprio Banco Master. 

De acordo com seis fontes ouvidas pela coluna, os contatos entre Moraes e Galípolo incluíram três chamadas telefônicas e um encontro presencial. O objetivo seria agilizar a aprovação da venda de créditos do Master para o Banco de Brasília (BRB).

Durante essas conversas, Moraes teria defendido o banqueiro Daniel Vorcaro. Malu Gaspar relata que o ministro afirmou gostar de Vorcaro e reproduziu um argumento recorrente do empresário: a ideia de que o Master estaria sofrendo perseguição por estar “tomando espaço dos grandes bancos”.

Em resposta ao cenário de tensão e às investigações que agora correm no STF sob relatoria de Dias Toffoli, Gabriel Galípolo utilizou uma coletiva de imprensa para sinalizar transparência e colaboração.

Ele declarou abertamente sua disponibilidade para colaborar com a justiça:

“Eu em especial, como presidente do Banco Central, estou à disposição pra ir lá prestar todo tipo de suporte e apoio ao processo de investigação”, afirmou Galípolo.

Atualmente, o caso Master está sob sigilo total no STF, após o ministro Dias Toffoli avocar o processo para si. Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União (TCU), através do ministro Jhonatan de Jesus, também passou a exigir esclarecimentos do BC sobre o processo de liquidação, embora a competência do TCU para intervir em transações entre bancos privados tenha sido questionada por analistas do setor.

A crise terminal do Banco Master começou quando os cruzamentos de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e as auditorias do Banco Central (BC) apontaram inconsistências. Segundo a investigação da Polícia Federal (PF), o Banco Master especializou-se na aquisição de carteiras de crédito de difícil recuperação — os chamados ativos “podres” — de instituições liquidadas ou em crise. A contabilidade do banco omitiu a desvalorização dos ativos, mantendo-os registrados pelo valor original em vez de atualizar para o valor real de mercado.

Ao não reconhecer as perdas, o banco simulava uma robustez financeira que permitia operações bilionárias. Com o balanço fraudado, o Master tornou-se destino de vultosos aportes de fundos de pensão municipais e estaduais, além de investidores institucionais, que confiavam em lucros que só existiam na planilha.

No segundo semestre de 2023, o Banco de Brasília (BRB), controlado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), anunciou formalmente a intenção de adquirir uma participação estratégica no Banco Master. O acordo previa um aporte bilionário do banco estatal para se tornar sócio da operação de varejo e crédito da instituição privada.

A justificativa técnica do BRB para o negócio baseava-se nos balanços do Master que apresentavam lucros crescentes e um patrimônio líquido em expansão. Era uma maneira de o GDF, chefiado por Ibaneis Rocha (MDB), aplicar dinheiro público no esquema fraudulento criado pelos diretores do Banco Master. No entanto, o setor de fiscalização do Banco Central (BC) iniciou um processo de revisão da transação. Em decisão administrativa, o Banco Central barrou a conclusão da compra.

A alegação do Banco Central, provavelmente, serviu para que a Polícia Federal decidisse intensificar as investigações.

Na noite de 17 de novembro de 2025, Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, foi detido pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos. A prisão ocorreu no momento em que o banqueiro tentava embarcar em um jatinho particular, avaliado em R$200 milhões, com destino a Dubai.

A PF antecipou a custódia por identificar risco de fuga, uma vez que Vorcaro havia anunciado a venda do Master para o grupo Fictor Holding apenas 24 horas antes — uma movimentação interpretada como tentativa de alienação de ativos antes da intervenção regulatória. No dia seguinte à prisão, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Master.

O aparelho celular de Vorcaro, apreendido no ato da prisão, revelou uma enorme rede que conectava o fraudulento Banco Master com várias autoridades públicas.

O celular continha trechos de investigações sob segredo de justiça aos quais a defesa de Vorcaro ainda não tinha acesso formal. A agenda e os aplicativos de mensagens também expuseram contatos frequentes com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), membros do Congresso Nacional e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

A análise preliminar do dispositivo também confirmou que Vorcaro utilizava uma “casa de apoio” em um bairro nobre de Brasília para reuniões políticas. 

O mais importante vazamento sobre o conteúdo do celular de Vorcaro foi feito pela jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, em 9 de dezembro. Gaspar revelou a existência de um contrato milionário entre o Banco Master e o escritório Barci de Moraes, de propriedade de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O documento, recuperado em formato digital no celular de Daniel Vorcaro após sua prisão, estabelecia cifras que causaram espanto mesmo entre os maiores escritórios de advocacia do país. O contrato previa o pagamento de parcelas mensais de R$3,6 milhões, totalizando um montante de R$129,6 milhões ao longo de três anos. O escopo do trabalho era definido pelo termo vago “assessoria estratégica”, uma nomenclatura que, no jargão jurídico, frequentemente camufla atividades de lobby e tráfico de influência.

Já seria, no mínimo, antiético que a esposa de um juiz da mais alta Corte do País celebrasse um contrato desta natureza com um banco. O caso, no entanto, é ainda mais grave porque o contrato foi firmado e executado justamente no período em que o Banco Master enfrentava a auditoria do Banco Central e buscava a aprovação política para a venda de ativos ao BRB.

A investigação da Polícia Federal, instigada pelas revelações da imprensa, passou a focar na falta de lastro dos serviços prestados. Peritos não localizaram uma única petição, parecer jurídico assinado ou registro de audiência formal que justificasse o recebimento de valores tão astronômicos. As mensagens extraídas do celular de Vorcaro corroboram a suspeita, indicando que os pagamentos ao escritório eram tratados como uma prioridade financeira inegociável.

Seria absolutamente legítimo que qualquer cidadão brasileiro desconfiasse que o próprio Alexandre de Moraes estivesse implicado no contrato. Afinal, o esposo de Barci, que é uma das autoridades mais poderosas do País, seria o menor atalho para conseguir influenciar um banqueiro a tomar determinada decisão. Ademais, Moraes, na medida em que divide seu patrimônio com Barci, é diretamente interessado nas vantagens obtidas pelo contrato.

Com a segunda reportagem de Malu Gaspar, no entanto, o que seria uma ilação, começa a se tornar um indício de crime de corrupção e de tráfico de influência. Caso seja comprovado o que disse a articulista, Moraes, na condição de autoridade pública, teria pressionado pessoas com as quais têm relação, para garantir que os interesses escusos de um operador de um esquema fraudulento prevalecesse em detrimento do bem público. Essa pressão, por sua vez, teria seria compensada com o pagamento de uma “mesada” a sua esposa.

Até o fechamento desta edição, nem Alexandre de Moraes, nem o escritório Barci de Moraes haviam se pronunciado sobre o caso.

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