São Paulo

Moradores denunciam assassinato cometido pela PM em ocupação

Testemunhas afirmam que, após entrar no espaço, foram ouvidos dois disparos. Um laudo médico aponta que ele foi atingido na cabeça, porém moradores relatam um segundo tiro no peito

Na última quinta-feira (10), Amarildo Aparecido da Silva, de 36 anos, foi morto a tiros por policiais militares em uma ocupação na Rua Prates, no bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo. Enquanto a Polícia Militar (PM) alega que houve confronto após a vítima tentar sacar uma arma, moradores do local, conhecido como “favelinha da Prates”, desmentem as forças de repressão, afirmando que o caso foi uma execução.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que foram apreendidas drogas, dinheiro e objetos com Amarildo, mas não confirmou vínculo dele com o crime organizado. O caso, registrado pelo 2º Distrito Policial (Bom Retiro), está sob investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e de um Inquérito Policial Militar (IPM).

Segundo relatos colhidos no local pela reportagem do portal Ponte, todos sob anonimato, policiais chegaram à ocupação por volta das 15h. Amarildo, conhecido como Kaká, teria sido conduzido por dois agentes desde a entrada até seu barraco.

Testemunhas afirmam que, após entrar no espaço, foram ouvidos dois disparos. Um laudo médico aponta que ele foi atingido na cabeça, e moradores relatam um segundo tiro no peito. No barraco, marcas de sangue permanecem no chão de cimento, mas não há sinais de projéteis nas paredes.

A PM apreendeu um fuzil 5.56 e uma pistola Glock .40 para perícia, armas pertencentes aos policiais. Um revólver .32, supostamente de Amarildo, foi entregue posteriormente à Polícia Civil, mas moradores negam que ele estivesse armado.

A versão oficial, registrada em boletim de ocorrência (BO), sustenta que a PM realizava operação contra o tráfico quando avistou Amarildo em “atitude suspeita”. Ele teria fugido para o barraco e, ao ser abordado, tentado sacar uma arma, o que teria levado os agentes a reagir.

A SSP-SP informou que foram encontrados com a vítima 244 porções de crack, 50 de cocaína, 26 de K2, uma bolsa, dois celulares e R$ 574 em dinheiro. O BO destaca que não havia testemunhas identificadas ou câmeras que registrassem o suposto confronto. Contrariando o documento, que sugere que Amarildo chegou vivo ao pronto-socorro de Santana, um laudo médico indica que ele já estava morto ao ser levado à unidade.

Moradores relatam que os socorristas demoraram mais de uma hora para chegar, enquanto o corpo permaneceu isolado pela PM. Testemunhas criticam a atuação da Polícia Científica, que teria deixado uma luva descartável no local e não questionado a ausência de cápsulas no barraco.

A ocupação, situada no final da Rua Prates, abriga cerca de 70 pessoas em barracos improvisados, construídos com tapume, alvenaria e materiais recicláveis. Segundo a reportagem do Ponte, o espaço é cercado por muros e acessado por um portão de lata, enfrenta condições precárias, com corredores estreitos, pouca iluminação e forte odor de esgoto. Em frente, está o Complexo da Prates, um conjunto voltado à assistência de mendigos e dependentes químicos.

A área é próxima à região da Cracolândia, a cerca de 1,4 km, e já foi considerada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como possível destino para transferir o fluxo. O plano, porém, foi abandonado em 2023 após protestos de moradores.

A ocupação enfrenta repressão policial crescente nos últimos dois anos, segundo os moradores. Alguns agentes, conhecidos pelo nome devido à frequência de suas ações, teriam participado, no mesmo dia, de uma ocorrência no conjunto habitacional Parque do Gato, também no Bom Retiro. Lá, um morador foi espancado, e uma mulher grávida, agredida com spray de pimenta e puxada pelo braço. Vídeos mostram policiais imobilizando dois homens no chão e reprimindo quem tentava intervir. Um protesto contra a violência policial foi planejado, mas cancelado por medo de retaliação.

O assassinato de Amarildo reforça o verdadeiro papel da polícia, um instrumento de terror da burguesia, dedicado a atacar com a máxima brutalidade os trabalhadores e os setores mais pobres do povo. A extinção dessa instituição e a adoção da autodefesa armada pela população são os únicos meios seguros para por um fim à violência contra o povo, frente a um aparato repressivo tão criminoso como as polícias brasileiras.

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