João Pimenta

Estudante da USP. Colunista do Diário Causa Operária, membro da Coordenação da AJR e do Comitê Estadual do PCO de São Paulo. Autor do Livro “A era da Censura das Massas”.

Coluna

Minha irmã não foi morta pela biologia, mas pelo neoliberalismo

26 dias (pelo menos) foram perdidos nas tentativas para economizar dinheiro do Estado

Na tarde de hoje, minha irmã Natália Pimenta perdeu sua vida para a leucemia. Contudo, o mandante da morte de hoje não foi a biologia, e sim a política neoliberal, o abuso do Judiciário e a máquina burocrática do Estado capitalista.

Natália lutou bravamente contra sua doença, vencendo todas as previsões dadas pelos médicos. Em determinado momento, contudo, esgotamos as alternativas de medicamentos disponíveis no Brasil. Nos Estados Unidos, um remédio novo poderia prolongar sua vida em anos.

A medicação custa milhões de reais para um tratamento de meses. Esse simples fato já é uma excrescência do sistema capitalista e da ganância desumana. Mas, mesmo diante disso, o Estado brasileiro está obrigado a comprar o medicamento e preservar a vida.

Através de medidas francamente ilegais, o STF tem buscado reduzir os casos onde os medicamentos de “alto custo” podem ser fornecidos. Mesmo diante disso, ela se encaixava nos critérios.

Ocorre que ter o direito é a menor parte do problema. Ao entrar com um pedido na justiça, tivemos a surpresa de ver o pedido negado e a exigência de uma quantidade aberrante de dados. Questionaram até a eficiência de um medicamento aprovado pela FDA dos Estados Unidos!

Respondemos prontamente com todas as informações pedidas, numa peça jurídica que somava, contando os anexos, mais de 100 páginas. O documento foi rejeitado em menos de 20 minutos. Nem leram a peça. Um escândalo!

Fomos obrigados a recorrer e, na segunda instância, o bom senso venceu. Essa vitória custou 15 dias — 15 dias de sangramentos, 15 dias de infecções, 15 dias dela no respirador e 15 dias de sofrimento aos familiares. Ela estava inconsciente, mas o resto de nós, não.

Mesmo após vencer na Justiça, a epopeia não acabou. Tornou-se necessário fazer o Ministério da Saúde comprar o remédio ordenado pelos tribunais. E começou o processo lento e torturante, onde se passa de burocrata em burocrata, com requisições abusivas…

Num pedido padrão, chegaram a mencionar a ideia de fornecer a medicação em 180 dias! A ideia de falar com uma pessoa “ela não tem 180 dias, não dá para esperar nem mais 30” e ela nem ligar nunca havia passado pela minha cabeça.

O Ministério da Saúde nunca fez o pedido de compra. Passaram-se 11 dias desde então. Na melhor das hipóteses, teriam demorado mais três para fazer o pedido. Ela morreu na tarde de sábado, sem que os médicos pudessem fazer mais nada.

26 dias (pelo menos) foram perdidos nas tentativas para economizar dinheiro do Estado. Ela não tinha 26 dias. Numa piada mórbida, duas horas após a morte de Natália, recebemos uma ligação de um funcionário pedindo dados para a compra do medicamento no “futuro próximo”.

No caso da Saúde, mais do que qualquer outro, a política de “austeridade fiscal” dos senhores Paulo Guedes e Fernando Haddad, custa vidas. Esse processo vagaroso foi desenhado para matar pessoas. Não foi inventado por governo algum.

Trata-se da obra de burocratas anônimos à soldo do mercado financeiro. Pessoas que entrando governo ou saindo governo, permanecem e fazem a vontade do capital. Incluindo homicídio, como neste caso.

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