O identitarismo é uma política essencialmente repressiva. O seu resultado é o fortalecimento do sistema penal pura e simplesmente; novos crimes, censura, aumento das condenações, enfim. Com a política identitária, a repressão estatal ganhou um novo colorido. Nesse novo arco-íris de meganhas, algumas personalidades se destacam. Uma delas é a colunista Milly Lacombe, do portal UOL.
Que seu sonho é ver Robinho preso para sempre, disso ninguém tem dúvida. Pois a repressão identitária fez despertar todo um frenesi na esquerda, que saliva e se excita com a condenação criminal de seus inimigos políticos, mesmo que a esquerda não tenha o controle da chave da cadeia. Mas Lacombe agora sofre ao ver o filho de Robinho jogando bola (e bem) no clube da Vila Belmiro, revelador de Neymar, Pelé e outros. Ela quer ver o jogo do Santos sem volume, para não ouvir o nome do rapaz, como disse recentemente, em um exercício doentio de demagogia.
Em recente foto, Robson Júnior aparece com a camisa onde está estampada sua família e, claro, seu pai, Robinho. Além disso, o nome profissional do filho de Robinho é Robson Júnior. Lacombe foi à loucura, novamente.
Segundo ela, o rapaz deveria usar qualquer outro nome que não fizesse referência ao seu pai, que atualmente se encontra preso. Para ela, “numa sociedade decente não pegaria bem usar nas costas o nome de alguém condenado por estupro, a despeito desse alguém ter sido um jogador fora de série e a despeito de ser seu pai”.
Ou seja, o rapaz é filho de um dos maiores jogadores do Santos, e que, por conta de sua condenação, deveria ser rejeitado pelo próprio filho, só porque o quer a ilustre Milly Lacombe.
Segundo ela, o debate “não é sobre Robson Júnior”. “Robinho, o filho, não tem nada a ver com o crime do pai. O debate é sobre a engenharia por trás da escolha de um nome artístico”.
Ela não sabe quem escolheu o nome de carreira de Robson Jr. Se foi o clube, o Santos é “doente”, segundo a colunista do UOL. Se foi decisão dos pais, “então falta didatismo e aprendizado”. Ou seja, faltam umas boas chineladas e, por que não, alguma repressão contra os parentes soltos de Robinho.
Para não se passar puramente como uma estagiária do DOPS colorido, Lacombe acredita “talvez ingenuamente, que as pessoas se transformem. Me protejo dentro dessa crença porque, sem ela, seria impossível continuar”. Isso depois de armar um barraco por conta do nome profissional que o filho de Robinho desejou prosseguir carreira (Robson Júnior).
Ela se revolta também com o resultado das buscas do Google: “basta buscar pelo nome de Robinho Junior no Google para compreender que já está em circulação um apagamento do crime cometido pelo pai. Matérias e mais matérias falando de Robinho e de seu filho como craques de uma mesma família, como raios que caíram no mesmo lugar, e nada sobre o crime. A quem interessa esse apagamento?”.
Para ela, além da condenação que o atleta sofreu, é preciso manter viva nas memórias o crime que ele teria cometido, a pena e, quiçá, nunca mais Robinho volte a jogar bola, nunca mais possa exercer sua profissão. É uma espécie de condenação dos tempos da Santa Inquisição. Além disso, a pena de Robinho deveria passar para seu filho, é isso que Lacombe deseja mas não tem coragem de falar, pois pega mal em 2025.
Finalmente, ela apela para o argumento histórico da direita: “e se fosse com sua filha?” Uma pérola, vejamos:
“Seria também necessário pedir, mais uma vez, que houvesse um deslocamento de ponto de vista para que aqueles que defendem o uso do nome ‘porque o menino não tem culpa de ter esse nome’ (o nome dele é Robson) pensassem em como se sentiriam vendo a lembrança ao nome daquele que cometeu um crime contra suas filhas, mães, irmãs, tias, amigas etc ser reproduzida em camisas que serão vendidas e circularão pela cidade, pelo país. O que sentem as mulheres que já foram vítima de violência de gênero ao escutar o nome ‘Robinho’ associado ao futebol?”
Não bastasse toda a histeria identitária contra Robinho, defendendo a prisão de um brasileiro pelo tribunal fascista italiano e o atropelo total de seus direitos democráticos, os identitários querem estender o ostracismo ao rapaz, somente por ser filho de Robinho.
Ela tenta se defender, dizendo que não quer o cancelamento de Robson Júnior. Mas não adianta enrolar. É melhor assumir que deseja, sim, o cancelamento do rapaz, e que as penas contra Robinho sejam estendidas para seus familiares e amigos. É melhor apresentar o monstro tal como ele é, sem a purpurina identitária de araque.
Segundo Lacombe, “tudo o que estamos pedindo [está, não existe “estamos”, o texto é dela] “é que, ao fazerem [referência ao Robinho] emendem com ‘que hoje está preso porque foi condenado por estupro’”. É tudo que ela, Lacombe, quer.
Conclui, nossa bedel:
“Dizer que Robinho foi um jogadoraço e parar por aí é uma meia verdade que só interessa a quem quer, por motivos que podemos apenas imaginar, diminuir a gravidade do crime cometido. Quando um debate é proposto, abre-se espaço para argumentos, pontos de vista, para concordar ou discordar. O que não vale é batalhar para distrair, manobrar ou interditar”.
Pela mesma lógica, o mesmo poderia ser dito dela, Lacombe, “colunista do UOL que mentiu ao vivo dizendo que Rogério Ceni tinha falsificado uma assinatura”, e que foi condenada a indenizar o ex-goleiro do São Paulo. Mas certamente ela iria se defender dizendo que é machismo insistir nisso. Resta saber se as propostas de Lacombe para o caso Robson Júnior não seria racismo.





