O texto México. Uma estranha ‘Geração Z’: passaram dos bandeirins brancos ao descontrole e à ira, assinado por Hermann Bellinghausen para o jornal La Jornada, oferece um relato detalhado e crítico das mobilizações ocorridas no México, convocada pela chamada “Geração Z” e pelo chamado “Movimento do Sombrero”. A matéria descreve como uma marcha anunciada como pacífica, marcada por símbolos religiosos e bandeiras brancas, rapidamente se converteu em um episódio de violência aberta, hostilidade política e confrontos intensos com a polícia.
O autor inicia destacando um contraste que percorre todo o texto: apesar de a população estar “muito irritada”, surpreende que uma marcha “portando imagens guadalupanas e bandeirinhas brancas” tenha sido o estopim para atacar “a Catedral Metropolitana”, que estava protegida por “uma alta muralha de ferro”.
O ponto que mais chama atenção, segundo ele, é que os mesmos manifestantes que gritavam “queremos paz” celebravam “o violento assédio ao templo católico e ao Palácio Nacional”.
Durante os protestos, escreve Bellinghausen, “tudo eram insultos”. Segundo ele, o tom era “bastante pessoal”, com “ódio visceral à presidenta” acompanhado de fantasias explícitas de humilhação.
Entre os gritos registrados pelo autor, um homem, ao lado da esposa, bradava: “que a tirem e a deixem nua!”. Outro, de “camisa branca e chapéu de fazendeiro”, gritava: “lá dentro, os peitos delas tremem!”. Mulheres também participavam da degradação moral, zombando “de forma grosseira” da magreza da presidenta.
Bellinghausen ressalta que a marcha não parecia composta por organizações populares. Pelo contrário, como ele escreve, eram grupos que “não pareciam pertencer a organizações de base”. A estética do ato misturava símbolos nacionais, religiosos e até referências culturais desconexas: o autor menciona que se sobrepunham “bandeiras nacionais e a caveira com chapéu do anime One Piece”, carregadas por adultos que provavelmente desconheciam a origem da imagem. Isso reforça o caráter caótico da mobilização.
Havia também descoordenação até no figurino: “uns de branco e outros de puro preto, como se não tivessem se acertado no colorido”.
Segundo o autor, um dos principais convocadores sugeriu “tomar o Palácio Nacional como no Nepal”, país onde um palácio governamental foi incendiado. Dias depois, “vários grupos de jovens” tentaram pôr a sugestão em prática, atacando as barreiras assim que a praça se enchia.
A descrição dos momentos mais violentos é um dos pontos centrais do texto. Grupos “bem organizados de encapuzados” atacavam as barreiras do Palácio Nacional usando “martelos e marretas”, arrancando calçadas de pedra para lançar contra os escudos. Retiraram também “pesadas tampas de bueiro” e lançaram “bombas caseiras, algumas muito ensurdecedoras”.
A polícia, inicialmente atrás da “muralha de ferro”, reagiu com pedras e gás. Em determinado momento, a esquina sul do palácio virou “um verdadeiro barril de pólvora”.
O autor aponta um detalhe revelador: viu numa tela de TV um noticiário acusar “repressão e provocação contra a Geração Z” mesmo antes de a polícia ter começado a dispersar os manifestantes.




