O Dr. Hussam Abu Safiya, diretor do Hospital Kamal Adwan, em Beit Lahia, no norte de Gaza, foi sequestrado pelas forças de ocupação israelenses no último dia 27 de dezembro, e seu paradeiro permanece desconhecido. Testemunhas relatam que ele foi brutalmente espancado antes de ser levado para um destino ainda não confirmado. O caso destaca o padrão sistemático de ataques israelenses contra hospitais em Gaza, que incluem prisões arbitrárias e tortura de médicos e pacientes.
A cena que marcou o sequestro do Dr. Abu Safiya teve ampla repercussão nas redes sociais: em seu jaleco branco, caminhava entre os escombros do hospital cercado por tanques israelenses, cuja artilharia apontava em sua direção. Em gravações divulgadas pela imprensa israelense, é possível ouvir soldados ordenando que o médico levantasse o suéter para inspeção antes de entrar em um dos tanques, onde foi recebido com aparente cordialidade.
Após comunicar aos presentes no hospital que o local deveria ser evacuado, por ordem dos soldados, iniciou-se a invasão. Testemunhas afirmam que médicos, pacientes e jornalistas foram separados e levados para diferentes áreas, onde foram submetidos a interrogatórios, humilhações e torturas.
O jornalista Mohammed Al-Sharif, que esteve detido por 11 horas, descreveu ao sítio norte-americano Mondoweiss o que ocorreu: “Fomos despidos, mesmo com o frio, insultados e ameaçados. Médicos e pacientes foram presos, enquanto outros foram torturados.” Segundo ele, o Dr. Abu Safiya foi visto pela última vez sendo levado do hospital após sofrer agressões dos soldados.
Relatos de tortura e prisões arbitrárias
Há indícios de que o Dr. Abu Safiya esteja detido no centro de tortura israelense Sde Teiman, conhecido por relatos de assassinatos, abusos sexuais e negligência médica contra prisioneiros palestinos. A família do médico confirmou que recebeu relatos de ex-detentos que ouviram seu nome no local e testemunharam sinais de tortura.
Em nota, a família destacou o compromisso humanitário do médico, mesmo após perder o filho Ibrahim e sofrer ferimentos graves durante os ataques israelenses: “Nosso pai continuou cumprindo seu dever com toda sinceridade. Hoje, está preso em Sde Teiman, conhecido por seus crimes contra prisioneiros palestinos.”
Apesar das evidências, o exército israelense negou inicialmente a prisão do Dr. Abu Safiya, contradizendo os testemunhos. Posteriormente, admitiu detê-lo sob alegações de envolvimento com o Hamas, acusações rotineiramente utilizadas para justificar detenções e torturas de médicos palestinos.
Apelo internacional
A organização Physicians for Human Rights Israel (PHRI) entrou com uma petição junto à Suprema Corte israelense exigindo informações sobre o paradeiro do médico, enquanto familiares e grupos humanitários pedem intervenção urgente da comunidade internacional. Em nota, a família declarou:
“Apelamos a todos os médicos do mundo que pressionem as autoridades israelenses para liberar o Dr. Hussam Abu Safiya antes que ele tenha o mesmo destino de tantos profissionais palestinos mortos sob tortura ou desaparecidos.”
Casos como o do Dr. Abu Safiya refletem uma prática sistemática da ocupação israelense contra profissionais de saúde em Gaza. Em setembro de 2024, especialistas da ONU confirmaram a morte de três médicos palestinos em prisões israelenses, enquanto dezenas de outros relataram abusos físicos e psicológicos para forçar confissões de envolvimento com o Hamas.
*Com informações de Mondoweiss.