HISTÓRIA DA PALESTINA

May Ziadeh, escritora e intelectual palestina

Palestina deu ao mundo uma das maiores intelectuais da nahda árabe: May Ziadeh, escritora, editora e crítica que revolucionou a vida literária do Egito

May Ziadeh nasceu em 11 de fevereiro de 1886, na cidade de Nazaré, na Palestina. Seu pai, Elias Ziadeh, era um educador libanês que assumiu a direção da escola Terra Santa, e sua mãe, Nuzha Muʿammar, era palestina. Em 1891, a morte precoce de seu irmão Elias, aos dois anos de idade, deixou nela uma marca profunda. Após a infância em Nazaré, frequentou a escola das Irmãs de São José, onde aprendeu francês, italiano e música. Em 1899, aos treze anos, mudou-se com os pais para o Líbano, onde foi estudar no colégio das Irmãs da Visitação, em Aintoura, e mais tarde em Beirute, iniciando uma vida de estudos que moldaria seu espírito.

Foi no Líbano que escreveu seus primeiros poemas, inspirada nos românticos franceses como Lamartine e Musset. Adotou o pseudônimo “Aida” e passou a registrar suas impressões em um diário escrito em francês. Já nessa época, alternava momentos de grande sensibilidade literária com períodos de introspecção e melancolia. Em 1905, retornou à Palestina, mas, dois anos depois, sua família se mudou definitivamente para o Cairo, marco definitivo na consolidação de sua carreira intelectual.

O Egito do início do século XX era um dos principais centros do movimento de renovação cultural árabe. A presença britânica havia criado as condições materiais para uma relativa abertura e para o florescimento de uma intensa vida cultural. Foi nesse ambiente que May Ziadeh encontrou o terreno fértil para desenvolver suas capacidades. No Cairo, começou a lecionar francês e passou a escrever para o jornal al-Mahrousa, que havia sido transferido para seu pai por um amigo da família. A partir de 1909, com o nome de Elias Ziadeh figurando como editor-chefe no cabeçalho do jornal, May deu início à sua trajetória jornalística.

Em 1911, publicou seu primeiro livro, Fleurs de Rêve (“Flores de Sonho”), uma coletânea de poemas em francês sob o pseudônimo Isis Copia. No entanto, logo abandonou a língua francesa para escrever em árabe, adotando o nome May em substituição ao batismo ocidental de Marie. A decisão refletia um posicionamento consciente em favor da nahda e da valorização da cultura árabe, em contraposição à dominação estrangeira, seja militar, política ou cultural.

May Ziadeh era uma leitora voraz e se inspirava nos grandes escritores árabes do século XIX, como Ahmad Faris al-Shidyaq, Adib Ishaq e Amin al-Rihani. Seu estilo foi fortemente influenciado por Gibran Khalil Gibran, com quem trocou correspondência ao longo de muitos anos, nutrindo por ele profunda estima.

A partir de 1912, suas publicações em revistas como al-Zuhour e al-Hilal abordavam temas literários, sociais, filosóficos e políticos. Ao mesmo tempo, aprofundava seus estudos de línguas — aprendeu inglês, alemão, latim, grego, espanhol — e cursou, durante quatro anos, disciplinas na Universidade Egípcia (atual Universidade do Cairo), onde estudou filosofia, história islâmica e literatura árabe.

Um dos grandes marcos de sua vida foi a criação de seu salão literário às terças-feiras, a partir de 1913. Por duas décadas, o encontro reuniu as principais figuras da vida intelectual do mundo árabe, como Taha Hussein, Ahmad Lutfi al-Sayyid, Abbas Mahmoud al-Aqqad, Salama Moussa, Hafez Ibrahim e Shibli Shumayyil. A atmosfera era aberta, democrática, trilingue — árabe, francês e inglês —, e servia de espaço para leitura de poemas, artigos, conferências e música. Foi considerado por Taha Hussein uma verdadeira instituição da cultura egípcia.

Durante esse período, May dedicou-se também à crítica literária e à tradução. Em 1920, publicou a biografia da escritora Malak Hifni Nassif (Bahithat al-Badiya), e em 1921, traduziu do alemão o romance Deutsches Liebe, de F. Max Muller. Publicou ainda ensaios sobre cultura, educação e literatura nos jornais al-Ahram e al-Siyasa, além de dirigir al-Mahrousa após a morte de seu pai, em 1929, quando o jornal passou a ser semanal. Seu papel como editora-chefe era raro entre os intelectuais árabes de sua época.

Entre 1932 e 1933, viajou para a Inglaterra e a Itália para estudar literatura e história da arte. No entanto, sua vida foi profundamente abalada após a morte do pai, seguida da morte da mãe e de Gibran. Enfraquecida emocionalmente, passou a demonstrar sinais de depressão severa. Em 1936, foi levada à força para o Líbano por seu primo, Joseph Ziadeh, e internada em uma clínica psiquiátrica. O episódio gerou protestos de intelectuais como Amin al-Rihani e Fouad Hbeish, que denunciaram a tentativa de desqualificação moral de uma das figuras mais importantes da vida cultural árabe. Uma junta médica determinou sua libertação em 1938.

O processo judicial para declará-la legalmente incapaz, iniciado por seu primo, também foi derrotado. De volta ao Cairo em 1939, sua saúde seguiu fragilizada. Com a morte de seu amigo e defensor al-Rihani em 1940, entrou em retração definitiva. Sua última palestra, “Viva Perigosamente”, foi realizada na Universidade Americana do Cairo em 1941. Faleceu em 19 de outubro do mesmo ano, no Hospital de Maadi. Seu funeral foi organizado por Huda Shaʿrawi, e dele participaram importantes figuras da intelectualidade egípcia. Em sua lápide, foi inscrito: “Aqui jaz o gênio do Oriente, a principal escritora árabe, o modelo supremo de refinamento literário e social”.

A imprensa egípcia dedicou-lhe extensos obituários. O jornal al-Muqattam publicou: “o mundo árabe lamenta a perda de May”. Uma cerimônia em sua memória foi organizada no quadragésimo dia após sua morte, com a presença de ministros, acadêmicos e escritores.

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