Em artigo publicado pelo portal A Terra é redonda, Valério Arcary, dirigente do grupo Resistência, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), celebra a filiação da ex-deputada e ex-presidenciável Manuela D’Ávila como um marco que elevaria a reorganização da esquerda a um “novo patamar”, apresentando a mudança como uma decisão estratégica voltada a superar os “limites do lulismo” e derrotar a extrema-direita.
No entanto, por trás de todo o discurso, o que se vê é uma tentativa desesperada de dar profundidade teórica a uma movimentação puramente oportunista e eleitoreira. Arcary afirma que Manuela rompeu com o PCdoB porque as “diferenças de estratégia se revelaram insolúveis”. Trata-se de uma afirmação sem base na realidade, já que nem a própria Manuela, nem o partido, jamais explicaram quais seriam essas tais divergências. Pelo contrário: a ex-deputada chegou a sinalizar desconforto com o avanço do identitarismo em sua antiga legenda, o que torna sua ida para o PSOL — o partido que é a verdadeira “nave-mãe” do identitarismo financiado por ONGs no Brasil — uma contradição absoluta. Manuela não trocou de estratégia; trocou de legenda como quem troca de carro, buscando uma máquina eleitoral mais eficiente para sua candidatura — provavelmente ao Senado — em 2026.
O articulista ainda tenta criar uma aura de martírio ao redor de Manuela, descrevendo-a como “ferozmente perseguida”. É preciso ter senso de proporção: ser alvo de ofensas em redes sociais ou “fake news” é o bônus amargo de qualquer figura pública, mas não se confunde com perseguição política real. Perseguição política real ocorre, por exemplo, quando dirigentes do Partido da Causa Operária (PCO) enfrentam processos judiciais concretos e ameaças de prisão movidas pelo sionismo.
Manuela não é uma “força da natureza” política, como quer crer Arcary, mas um produto de marketing bem acabado. O que ela conquistou de concreto para a classe operária? Qual o seu programa para além da defesa de questões abstratas? Ninguém sabe.
A tese de que a adesão de Manuela serve para “derrotar o bolsonarismo” é outro cretinismo. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) preso e fora do jogo eleitoral, o termo “bolsonarismo” tornou-se a senha da esquerda liberal para justificar frentes amplas com a burguesia “democrática”. É o pretexto para o PSOL se abraçar com setores que, como a rede Globo, pariram o monstro em 2018. Da mesma forma, a conversa de “ir além do lulismo” não passa de retórica para consumo interno da militância. Na prática, o PSOL atua como um puxadinho de luxo do PT, votando com o governo e defendendo a política repressiva da direita.
Em última instância, o artigo de Valério Arcary cumpre o papel melancólico de prover um “aval trotskista” para uma jogada eleitoral rasteira. Manuela no PSOL não é a semente de uma revolução, mas o rearranjo de uma burocracia que vive de cargos e visibilidade. Ao tentar transformar um evento de marketing em um fato histórico, Arcary prova que sua “improvisação criativa” serve apenas para esconder que a esquerda que ele defende desistiu de lutar pela superação do capitalismo para se tornar a ala esquerda do regime burguês.




