Uma manifestante que participava de um ato contra o projeto de lei que busca reduzir penas dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro foi detida pela Polícia Militar de Minas Gerais após pichar o icônico Monumento à Terra Mineira. O caso, ocorrido na tarde deste domingo (14.dez), na Praça da Estação, reacendeu o debate sobre a seletividade da justiça e serve de alerta: punir manifestações com rigor pode se voltar contra qualquer cidadão, inclusive os próprios defensores dessa repressão.
Vídeos que viralizaram nas redes sociais capturaram o momento exato em que a mulher, manifestante de um grupo anti-anistia, usa tinta vermelha para rabiscar a frase “Brasil, terra indígena” na estátua criada pelo escultor Júlío Starace, inaugurada em 1930 como parte do Monumento à Terra Mineira. Um homem que filmava o ato questionou a ativista se a tinta era removível; ela respondeu negativamente. Guardas municipais e policiais militares, presentes no local, intervieram de imediato, levando a mulher algemada para a delegacia.
O ato em Belo Horizonte reunia centenas de participantes contrários ao PL que propõe atenuar as condenações aos supostos “golpistas” do 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram prédios dos Três Poderes em Brasília. Ironia das ironias: enquanto gritavam contra a “anistia aos fascistas”, ela acabou cometendo exatamente o tipo de ato que a esquerda sempre condenou com veemência – e defende com punições exemplares.
Nas redes sociais, a repercussão foi imediata, internautas apontaram a contradição flagrante com casos como o da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a anos de prisão por pichar a estátua “A Justiça”, em frente à sede da Corte, durante os eventos de 8 de janeiro. “Será que essa aí vai pro STF também?”, ironizam os internautas.
A esquerda, que por anos aplaudiu essas condenações draconianas – tratando pichações em estátuas como crimes hediondos equivalentes a golpes de Estado –, agora se vê colhendo os frutos amargos de sua própria retórica repressiva. O que era celebrado como “defesa da democracia” contra bolsonaristas se revela uma armadilha: o Estado, uma vez autorizado a punir com mão de ferro quem manifesta desacordo, não distingue ideologias. Crime é crime, e a máquina repressiva avança sobre todos.
Esse episódio em BH é um aviso à esquerda e a todos os brasileiros: não se deve querer punir com rigor excessivo quem se manifesta, pichando uma simples estátua ou erguendo bandeiras de protesto. Essa perseguição judicial, que a esquerda tanto defendeu, inevitavelmente se volta contra o povo. O que começa como repressão aos “golpistas” da direita termina como arma do Estado contra qualquer dissidência – da esquerda, dos movimentos sociais, dos trabalhadores ou de cidadãos isolados.
Com o Judiciário endurecendo a postura contra o vandalismo, independentemente da causa, abre-se espaço para penas mais severas, prisões em massa e maior repressão policial em atos públicos. Projetos como o anti-anistia, que visam manter castigos desproporcionais, só alimentam esse ciclo vicioso. A militante detida sabotou não só a estátua histórica, mas a própria causa que defendia, reforçando o argumento dos opositores: seletividade gera mais seletividade, e o preço é pago por todos.
Criminalizar manifestações dessa forma cria um precedente perigoso, onde o Estado ganha carta-branca para silenciar vozes contrárias. Enquanto isso, o Monumento à Terra Mineira segue manchado, simbolizando não só o dano material, mas o custo político de uma esquerda que brinca com fogo.





