'Israel'

Mais uma crise: polícia israelense prende assessores de Netaniahu

Crise do governo sionista aumenta a medida em que avançam investigações contra o primeiro-ministro

O governo sionista de Benjamin Netaniahu mergulhou em mais uma crise profunda nesta segunda-feira (31), com a prisão de dois de seus assessores mais próximos, sob acusações de corrupção, contato com agente estrangeiro e favorecimento político ao Catar. A operação, coordenada pela unidade anticorrupção Lahav 433 e pelo Shin Bet — a polícia política do regime israelense —, escancarou a guerra interna que atravessa o Estado sionista em meio à ofensiva genocida contra o povo palestino.

Jonatan Urich, assessor sênior do primeiro-ministro, e Eli Feldstein, ex-porta-voz do gabinete, foram presos por manter relações com o lobista norte-americano Jay Footlik, ligado ao governo do Catar. Os dois são suspeitos de receber propina em troca da promoção de pautas favoráveis ao emirado na imprensa e no governo israelense, enquanto ocupavam cargos oficiais. Segundo o juiz Menachem Mizrahi, que retirou o sigilo do caso, há suspeitas consistentes de que Feldstein atuava como “consultor estratégico” do Catar enquanto ainda estava no gabinete de Netaniahu.

As investigações revelam que Feldstein recebeu pagamentos do empresário israelense radicado no Golfo, Gil Birger, que confirmou, em gravações divulgadas pela imprensa, ter transferido dinheiro a pedido do lobista catariano. O dinheiro teria sido destinado à promoção da imagem do Catar como mediador nas negociações com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) pela libertação dos prisioneiros de guerra israelenses. A campanha incluía também o ataque à atuação do Egito, outro mediador tradicional, como forma de favorecer exclusivamente os interesses do Catar.

De acordo com o Ministério Público, Urich atuava como elo entre Feldstein e a imprensa local. Ele repassava à imprensa israelense informações oriundas de fontes estrangeiras, mascaradas como se fossem informes oficiais do gabinete de segurança. As mensagens eram apresentadas aos jornalistas como declarações de “fontes militares” ou “analistas do governo”, num esquema de manipulação da opinião pública para favorecer interesses internacionais.

A gravidade do caso levou à convocação de Netaniahu para prestar depoimento na condição de testemunha. O premiê compareceu à sede da polícia em Jerusalém, interrompendo uma audiência de seu julgamento por corrupção, que corre em paralelo. Ao deixar o depoimento, Netaniahu gravou um vídeo denunciando uma “perseguição política” e acusou os investigadores de “manterem seus assessores como reféns”, expressão que gerou repúdio imediato por parte dos familiares dos prisioneiros de guerra ainda mantidos pelo Hamas em Gaza.

Netaniahu contra o Shin Bet

A prisão dos assessores ocorre no contexto de uma disputa direta entre Netaniahu e o chefe do Shin Bet, Ronen Bar. O primeiro-ministro tenta há semanas destituir Bar, a quem acusa de “falha de segurança” durante a ofensiva do Hamas em outubro de 2023. Na prática, a motivação é política: Bar lidera as investigações do “Catargate” e, ao lado da procuradora-geral Gali Baharav-Miara, passou a ser o principal obstáculo ao controle absoluto de Netaniahu sobre o aparelho de repressão.

Na semana passada, Netaniahu nomeou Eli Sharvit, ex-comandante da Marinha, para substituir Bar. Mas a tentativa foi um desastre político. Rapidamente vieram à tona declarações públicas de Sharvit contra a “reforma judicial” do governo, sua participação em protestos contra Netaniahu e até críticas à política ambiental de Donald Trump — o que lhe rendeu ataques de setores da direita sionista e da base republicana norte-americana, como o senador Lindsey Graham.

Com a repercussão negativa, Netaniahu foi forçado a recuar. Em nota oficial, informou que “avaliará outros nomes” para o cargo. A Suprema Corte de “Israel”, por sua vez, interveio e congelou a demissão de Bar, marcando para 8 de abril a audiência que julgará sua permanência à frente do Shin Bet.

O episódio mostra que o aparato repressivo israelense — longe de ser um bloco homogêneo — está em plena disputa interna. O Shin Bet, responsável por perseguições políticas, execuções extrajudiciais, espionagem e tortura contra palestinos, agora volta sua repressão contra setores do próprio governo. O que está em curso é uma guerra de frações no interior da máquina sionista, uma disputa entre diferentes alas reacionárias pelo controle do regime em meio à sua desintegração.

Protestos populares e colapso político

Em paralelo à crise interna do Estado, cresce a revolta popular nas ruas. Milhares de manifestantes se reuniram em Jerusalém e Telavive nesta segunda-feira, exigindo o fim do governo Netaniahu, o retorno dos prisioneiros de guerra e a convocação de eleições antecipadas. A polícia israelense reprimiu violentamente os protestos, gerando confrontos com os manifestantes, que pedem também o fim da guerra contra o povo palestino em Gaza.

Desde 18 de março, quando o governo retomou os bombardeios após uma trégua temporária, as manifestações se intensificaram. Os atos, que antes se limitavam a setores liberais da classe média judaica, agora incorporam camadas mais amplas da população, desgastadas pela guerra, pela repressão e pela instabilidade política permanente.

Netaniahu tenta manter o controle através de uma aliança com os setores mais reacionários do sionismo, como os colonos da Cisjordânia e partidos ultraortodoxos. Mas o cerco se fecha. O sistema judiciário, parte do aparato militar e uma parcela crescente da população israelense se voltam contra o premiê, mesmo sem qualquer compromisso com a luta do povo palestino.

Um regime em decomposição

A decomposição do governo sionista é visível. A corrupção no gabinete, o uso da imprensa como instrumento de propaganda externa, a tentativa fracassada de controlar o aparelho repressivo, os protestos em massa e o impasse político mostram que “Israel” atravessa uma crise muito profunda, da qual não pode sair sem recorrer à repressão mais brutal ou a uma guerra ainda mais sangrenta contra a resistência palestina.

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