João Pimenta

Estudante da USP. Colunista do Diário Causa Operária, membro da Coordenação da AJR e do Comitê Estadual do PCO de São Paulo. Autor do Livro “A era da Censura das Massas”.

Coluna

Mais um banco de dados do governo para vigiar as pessoas

"Os nazistas instituíram a obrigação de carregar um RG em todos os momentos, coletavam digitais e até a ocupação das pessoas"

Outra sacada do governo Lula! Criar mais um cadastro do governo, um banco de dados para vigiar as pessoas:

O nosso Partido é contra esse cadastro e, salvo em casos muito especiais, contra a criação de bancos de dados governamentais sobre os cidadãos.

O cadastro só cumpre uma função: permitir a cobrança de impostos, aplicação de leis criminais, a repressão em geral. Via de regra, o governo ter esse tipo de informação, qualquer uma, cumpre uma função policialesca.

No mundo hoje, mas particularmente no Brasil, para tudo é preciso fazer um cadastro, e os cadastros não são simples. A pessoa nasce, faz-se uma certidão de nascimento, até aí tudo bem. Eis que a pessoa vai tirar um RG e então pega-se a digital dos 10 dedos, foto e outros.

A pessoa vai comprar algo, lhe pedem o CPF, muitas vezes pedem também o endereço. Quer ter uma linha telefônica? Não sem um CPF, não pode ser anônima. Se você acessar qualquer site, os provedores de Internet são obrigados a manter por 12 meses os dados deste acesso. Isso significa que, se a pessoa acessar um site, pode-se depois descobrir de onde a pessoa acessou etc.

Para praticamente tudo, existe um cadastro. Muitos dirão que não é possível viver sem isso e até que sempre foi assim. Mas isso não é verdade.

Muitos países não têm uma carteira de identidade unificada obrigatória, justamente por problemas de vigilância governamental. É o caso dos EUA e do Reino Unido. Muitos que exigem a documentação não coletam nem fotos, muito menos impressões digitais.

A questão não é a emissão do documento, é a criação do banco de dados e a coleta de dados. A Suprema Corte da Irlanda vetou uma iniciativa do Executivo de criar um RG com biometria nacional, citando justamente o problema da vigilância em massa.

Mas qual a solução? Afinal, em vários casos, é preciso ter alguma identidade e algum registro. Algumas propostas para debate:

  1. Criar um sistema federado de identificação. Permitir que diversas instituições gerem IDs. Como sindicatos, bancos, associações, universidades.
  2. Proibir o compartilhamento desses dados de forma unificada. Proibir determinadas coletas de dados de forma obrigatória: CPF em compras de supermercado, exigência de comprovantes de endereço na maioria dos casos etc.
  3. Criar mecanismos simples para que as pessoas possam deletar seus cadastros de diversas instituições. O governo federal poderia emitir uma ID, mas não deveria ter nada além de nome, nascimento, nome dos pais. Qualquer outra coisa deveria ser opcional.

As pessoas com mentalidade policial dirão: isso vai dificultar o combate ao crime. Olha, se a única opção para combater o crime é cometer o crime de tratar o país inteiro como criminoso, estamos ferrados. Nas mãos de ditaduras, esse nível de vigilância será devastador.

A proliferação dessa vigilância é sempre obra de ditaduras. A Alemanha é um caso interessante: antes da I Guerra Mundial, nem existia o RG nacional. Durante e depois da Guerra, criou-se um registro de endereço dos cidadãos e cartões de identificação.

Mas a inovação foi mesmo com Adolf Hitler. Os nazistas instituíram a obrigação de carregar um RG em todos os momentos, coletavam digitais e até a ocupação das pessoas. No melhor estilo nazista, colocaram um “J” bem grande no RG dos judeus. A história é a grande professora.

Gostou do artigo? Faça uma doação!