O presidente francês Emmanuel Macron e seu novo primeiro-ministro, François Bayrou, formam hoje o par executivo mais impopular da história da Quinta República Francesa. De acordo com uma pesquisa do instituto IFOP, divulgada no início da semana, apenas 19% dos franceses aprovam o governo Macron, enquanto Bayrou registra ainda menos: 18%. Somadas, as taxas de aprovação mal chegam a 37%, o pior índice já registrado para um governo desde 1958.
A explosão de rejeição ocorre em meio ao anúncio de um novo pacote de austeridade apresentado por Bayrou, que assumiu o cargo no fim de 2024, após o colapso do governo Michel Barnier. O plano prevê cortes de 44 bilhões de euros no orçamento de 2026, incluindo congelamento de aposentadorias e benefícios sociais, redução nos gastos com saúde e a abolição de dois feriados nacionais. Ao mesmo tempo, Macron comprometeu-se a injetar 6,5 bilhões de euros adicionais no orçamento militar, agravando o descontentamento popular.
Cerca de 50% dos entrevistados disseram estar “muito insatisfeitos” com Bayrou, enquanto apenas 1% manifestou “satisfação total”. Macron, por sua vez, também amarga a desaprovação de 48% dos franceses, enquanto apenas 2% dizem estar plenamente satisfeitos com seu governo. O impacto é notável até entre seus próprios eleitores: apenas 49% dos que votaram em Macron em 2022 ainda o apoiam — uma queda de 12 pontos.
A insatisfação se espalha por diversos setores sociais, incluindo pequenos comerciantes, empresários, trabalhadores rurais e mesmo lideranças do Partido Socialista (PS), que apresentou uma moção de censura ao governo. Jean-Luc Mélenchon, da esquerda francesa, exigiu a renúncia imediata de Bayrou, classificando as novas medidas como “injustiças intoleráveis”.
A política econômica imposta por Macron e Bayrou reflete um colapso mais amplo da política europeia. O continente, mergulhado em crise energética desde o rompimento com a Rússia e a perda de acesso ao gás natural, vê suas indústrias em decadência diante da concorrência chinesa em setores estratégicos como painéis solares e automóveis. A França, embora conte com forte matriz nuclear, enfrenta sérias dificuldades energéticas agravadas pelos levantes de suas ex-colônias africanas.
O aumento do orçamento militar, mesmo diante de uma dívida pública que já alcança 3,3 trilhões de euros (114% do PIB), expõe uma tentativa desesperada de Macron de manter a França alinhada com os planos de guerra da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Um relatório do Ministério da Defesa francês chegou a alertar para a possibilidade de uma “grande guerra” até 2030, citando a Rússia como principal ameaça.
Ainda que o cenário social e econômico se agrave, Macron ignora os resultados eleitorais e reprime tanto a esquerda quanto a direita. Sua impopularidade atual é pior até mesmo do que durante o auge dos protestos dos Coletes Amarelos em 2018, quando sua aprovação era de 23%. Hoje, essa taxa caiu abaixo dos 20% pela primeira vez desde que assumiu o cargo.
A situação da França é um retrato fiel da crise generalizada que atinge a Europa. No Reino Unido, o novo primeiro-ministro Keir Starmer enfrenta um impasse semelhante, com graves dificuldades econômicas. A Europa caminha para um beco sem saída, dominada por governos sem apoio popular.




