O artigo Trump e Bolsonaro atacam o Brasil, publicado no sítio Esquerda Online, neste domingo (20) diz, em seu primeiro parágrafo:
“Trump investe contra o Brasil para salvar Bolsonaro da prisão e proteger as big techs. Mas o objetivo do presidente norte-americano vai além. O propósito estratégico é o de submeter o país à tutela dos EUA, destruindo nossa soberania. Com a agressão imperialista, Trump almeja a dominação econômica e geopolítica do Brasil. Conta com a colaboração da família Bolsonaro e de Tarcísio de Freitas, que conspiram com a potência estrangeira contra os interesses nacionais. São traidores da pátria!”.
De início é preciso dizer que as plataformas digitais, as big techs, não estão em perigo, mas a liberdade de expressão. O Supremo Tribunal Federal (STF) está terceirizando suas decisões para as mãos dessas empresas, que terão o poder de tirar do ar, sem que a justiça tenha determinado, quaisquer conteúdos do ar.
A submissão do Brasil e o desrespeito com a soberania do Brasil não foram inaugurados com Donald Trump. O País vive, desde 2016, um golpe de Estado continuado. Recentemente, o Brasil vetou a admissão da Venezuela, no BRICS, tudo isso é obra de “democratas” como Barack Obama e Joe Biden. Portanto, é falsa a afirmação de que “o país está sob ataque inédito em múltiplas dimensões”.
Essa esquerda põe tudo na conta de Trump, uma espécie de espantalho político, para tentar justificar seu apoio a Biden, e seu atrelamento ideológico ao partido Democrata americano. E se Tarcísio e Bolsonaro são traidores da Pátria, o que dizer daqueles que, como o Esquerda Online, tentam impedir, a mando do imperialismo, que o Brasil explore petróleo na Margem Equatorial?
Quanto à afirmação de que “Trump investe contra a presidência de Lula, mas também contra a Justiça brasileira e o sistema eleitoral”, é preciso separar os temas. A ingerência do governo americano, ou de qualquer outro, não deve ser tolerada. Por outro lado, a esquerda pequeno-burguesa não faz a crítica devida à ditadura judicial que se instalou no Brasil, e ao sistema eleitoral.
O STF praticamente impede que qualquer um, não apenas Bolsonaro, questione o sistema eleitoral, o que seria perfeitamente possível dentro de qualquer regime que se diga democrático. É perfeitamente legítimo, por exemplo, que se peça a impressão de votos e a implementação de um sistema auditável de contagem de votos.
Defesa do STF
Segundo o artigo, “o tarifaço de 50% mudou completamente a conjuntura nacional. Seu efeito político imediato foi o de isolar politicamente o fascismo”. Não se pode dizer que o “fascismo” esteja isolado e, mais importante, não existe uma contradição entre o fascismo e o imperialismo. Foram “democratas” que financiaram e treinaram os nazistas na Ucrânia; e são eles que reprimem manifestações contra o genocídio na Faixa de Gaza.
O Esquerda Online aproveita para dar seu apoio à instituição mais reacionária do Estado, e ao rei absolutista judiciário, quando diz que “importa notar que Alexandre de Moraes e o STF também responderam com firmeza ao conluio dos Bolsonaros com Trump. A adoção das medidas cautelares, como a tornozeleira eletrônica e a prisão domiciliar noturna para Jair, passa um recado contundente perante a intromissão norte-americana na justiça brasileira. A prisão do líder fascista é urgente!”.
A esquerda chave de cadeia acredita que essas arbitrariedades, ou mesmo a prisão de Bolsonaro vão impedir o crescimento da extrema direita. Como a esquerda pequeno-burguesa não dá o devido combate político e não se apoia na classe trabalhadora, espera que o próprio Estado burguês resolva suas questões.
É uma contradição o Esquerda Online dizer é preciso “defender a soberania com ampla unidade e mobilização popular” quando, como se viu, implora ao Supremo que coloque determinado adversário político na cadeia. Esse não é o método da esquerda.
A proposta de mobilização do EO é tímida, inconsistente e até mesmo direitista. Diz que “é necessário alertar a população, sem meias-palavras, de que a nação brasileira está em risco, sendo necessária a ampla unidade nacional e a mobilização popular em defesa da Soberania” – [grifo nosso].
Alertar apenas não mobiliza, bastaria um pronunciamento sem maiores consequências, e a ampla unidade nacional joga a classe trabalhadora no colo da burguesia. Isso foi visto na campanha eleitoral de 2022. Em nome da “luta contra o fascismo”, esses setores da esquerda propuseram uma ampla unidade com setores marginais do bolsonarismo.
Política do espantalho
O Esquerda Online nada mais faz do que levar adiante a política do espantalho, a de apresentar um inimigo muito sujo para então propor unidade com “democratas cheirosos”. Isso nada mais é que a velha colaboração de classes.
Como este Diário já escreveu diversas vezes, a classe trabalhadora não se deve deixar levar pelo alarmismo de frases como “urge a necessidade de uma frente anti-imperialista e antifascista”. Não se deve acreditar em fantasmas, pois o imperialismo se esconde atrás de uma máscara democrática.
A classe trabalhadora deve ter uma política independente diante dos ataques da burguesia e não deve cair na armadilha do espantalho, pois com isso acabará refém de seus inimigos, disfarçados de “mal menor”.




