Na véspera do dia 20 de novembro, data em que se comemora o Dia de Luta do Povo Negro, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, publicou um texto tão cínico quanto raso intitulado Marchando por um Brasil com igualdade racial.
O texto começa com a típica demagogia rampeira de qualquer político brasileiro:
“Neste 20 de novembro, feriado nacional e data que rememora a luta e resistência de Zumbi, Dandara e o quilombo de Palmares, é importante ecoar a relevante contribuição negra na construção e sustentação deste país.”
A frase poderia ter sido por um deputado do PSOL, por alguém do MDB ou alguém do PL. “Ecoar a relevante contribuição negra” é mais ou menos o mesmo que dizer: “negros, votem em mim, pois eu gosto de vocês”. Ao despi-lo da demagogia, o que sobra no texto é um conjunto de ataques à população negra brasileira.
Anielle Franco continua sua “homenagem” afirmando que
“Somos mais da metade da população brasileira, quase 56% segundo o último censo, mas continuamos enfrentando desafios e desigualdades estruturais que nos impedem de existir com bem-viver e dignidade.”
Que desigualdades estruturais seriam essas? Para qualquer negro, é óbvio. O sofrimento do negro vem do capitalismo. Vem do fato de que, em um país no qual os bancos abocanham mais de 50% do orçamento nacional, o negro precisa viver de esmolas. Vem do fato de que os mesmos bancos, para manterem a sua dominação, armam as polícias até os dentes para exterminar a população negra.
Mas se Anielle Franco quer “rememorar” a luta do negro, por que ela não fala isso? Ora, porque ela é uma representante da ala do governo brasileiro ligada às organizações não-governamentais (ONGs), que, por sua vez, são financiadas pelos bancos.
No próximo parágrafo, Franco começa a declarar de maneira mais aberta qual é a sua real intenção:
“Travamos batalhas dia após dia para que o 20 de novembro não seja apenas uma data comemorativa, mas sim um marco nacional de denúncia, de ação coletiva e cuidado com a memória e luta por reparação para nosso povo.”
O 20 de novembro deve ser um dia de denúncia, de memória e de ação coletiva. No entanto, ele deve ser, em primeiro lugar, um dia de mobilização do povo negro. Um dia em que o movimento negro organize a população pobre e sofrida de cor para defender um programa que permita superar os seus problemas.
Denúncia sem mobilização é discurso. Não serve para nada. A não ser para enrolar o povo, enquanto se obtém um cargo às custas da demagogia com o negro.
No texto de Anielle Franco, o mais próximo da ideia de mobilização que se vê é a “luta por reparação para nosso povo”. É uma cretinice da ministra. A luta do negro não pode ser por “reparação”, que é uma coisa impossível. Como “reparar” 300 anos de escravidão, exatamente? A ideia de “reparação” serve apenas para que um grupinho de negros privilegiados, como Anielle Franco, faça lobby para conseguir algum benefício individual. É como se dissesse: pessoas da minha cor, com as quais não tenho qualquer relação alguma, sofreram no passado; por isso, tenho direito a ser ministra, juíza ou seja lá o que. É uma ideologia muito semelhante, deste ponto de vista, ao sionismo.
A luta do negro é a luta pela destruição do sistema que o oprime, é a luta pelo fim do capitalismo. É a luta pelo fim do aparato repressivo capitalista, é a luta pelo fim do parasitismo bancário, é a luta pelo fim da escravidão o campo, é a luta pelo fim da escravidão nas fábricas, é a luta pelo fim da especulação com a saúde.
Depois de seu espetáculo cretino, Franco sai em defesa de sua gestão vergonhosa como ministra:
“No campo institucional, temos atuado para ampliar políticas de ações afirmativas, fortalecer mecanismos de participação social, consolidar marcos legais de combate ao racismo e promover iniciativas que impactem diretamente a vida das populações negras de favelas e periferias, do campo e da cidade”
No campo institucional, qualquer ministro da Igualdade Racial teria a obrigação de denunciar os maiores crimes raciais de seu tempo. O que Anielle Franco disse — para não falar em fazer — em relação ao genocídio na Faixa de Gaza? Que atitude ela tomou diante das chacinas na Baixada Santista e no Rio de Janeiro? O que ela fez para impedir que o combate ao racismo fosse utilizado de maneira criminosa pelo Judiciário para perseguir os apoiadores do povo palestino?
Anielle Franco é uma ministra de faz de contas. Uma pessoa cujo único papel é elogiar os negros enquanto eles morrem de fome e de bala.
A luta de identitários como Anielle Franco não é a luta pela igualdade racial. É a luta por dinheiro.





