O Esquerda Online publicou neste 5 de outubro um texto de quase 24 mil caracteres, A Era do Neofascismo, para, segundo eles, fazer a defesa de duas teses centrais:
1) O neofascismo não é apenas uma onda passageira, mas se apresenta como uma estratégia, nova, diferente e viável de dominação para o Capital. Buscando hegemonia econômica, política e cultural, ele se manifesta como uma força que organiza partidos, movimentos de massa, programa coerente e propaganda ideológica. Dessa forma, consolida-se como um fenômeno político sólido e duradouro que não pode desaparecer sem ser derrotado estrategicamente.
2) O ressurgimento do fascismo ocorre em um mundo profundamente transformado também em sua dimensão política, cultural, econômica e social, em relação às décadas subsequentes ao colapso da URSS e o fim do século XX.
Antes, afirmaram que “os anos de 2015/2016, com o BREXIT e a primeira eleição de Donald Trump, são um marco histórico de inauguração de uma nova era”.
Essa obsessão de determinados setores da esquerda em insistir na novidade do fascismo atual não é sem propósito, serve para estabelecer um inimigo comum, o que colocaria tanto a esquerda quanto a democracia burguesa em um único campo, ambas empenhadas em derrotar esse flagelo.
Dito de outra maneira, a esquerda deve se unir às democracias liberais para lutarem contra a pior praga do momento.
A ideia não tem nada de sofisticação: para um inimigo novo seriam necessárias novas formas de luta. Quais sejam? A velha colaboração de classes. Mas, é claro, é preciso enfeitar o pavão, citar Hobsbawm, fazer uma linha do tempo que, supostamente, dará ao leitor uma perspectiva histórica para compreender o “novo” fenômeno.
Após confundir a cabeça do leitor com um milhão de datas e fatos históricos, o apelo à colaboração de classes vem mal disfarçada no último parágrafo que diz o seguinte:
“Por fim, o enfrentamento ao neofascismo exige um combate em todas as frentes. Embora a disputa institucional seja relevante, ela está longe de ser suficiente. Trata-se de uma luta que atravessa a totalidade da vida social: a educação, a ciência, a filosofia, a música, as artes, a história, a religião e os modos de vida estão todos sob disputa em uma verdadeira guerra cultural cujo resultado definirá em qual mundo viverá a próxima geração. Um projeto político emancipatório precisa ser igualmente totalizante: diverso nos sujeitos que o compõem, integrado em sua agenda programática e capaz de mobilizar as energias sociais necessárias para derrotar o avanço autoritário e abrir caminho para a superação do capitalismo”.
Vejamos: “o enfrentamento ao neofascismo exige um combate em todas as frentes”. Todas as frentes, traduzindo para a política brasileira, seria a união da esquerda com o “campo democrático”, ou com a “sociedade civil”.
Tivemos um exemplo prático dessa proposta no último 21 de setembro, quando a Rede Globo, porta-voz do imperialismo, ou da democracia liberal, chamou um ato supostamente contra os fascistas e golpistas do Congresso. A esquerda pequeno-burguesa compareceu em peso. O objetivo da manifestação não foi outro que aumentar o poder do Supremo Tribunal Federal, que tem tido poderes quase absolutos sobre o Legislativo. Contra o neofascismo, nada melhor que uma ditadura da toga.
Não é por menos que estejam aparecendo rachas na esquerda, pois não deve ser fácil explicar para a militância que Globo, Folha de São Paulo, Estadão etc., inimigos declarados da classe trabalhadora, estejam lutando pela democracia.
Expressões rebuscadas como “luta que atravessa a totalidade da vida social”, “projeto político emancipatório totalizante”, “diverso nos sujeitos que o compõem”, “mobilizar energias sociais necessárias para derrotar o avanço autoritário…”, nada mais são que um canto de sereia para iludir a mente da pequena burguesia esquerdista.
Quem vai acreditar que a unidade com a democracia burguesa pode “abrir caminho para a superação do capitalismo”? Para tal superação, será necessário, qualquer pessoa de esquerda sabe disso, expropriar a burguesia.
Diante dessa contradição é intransponível, o Esquerda Online recorre ao palavrório, diz que é preciso “reencontrar o equilíbrio entre o imediato e o estratégico”, “renunciar ao ultimatismo sectário que, preso a dogmas e incapaz de navegar nas contradições concretas”, “postura dialética” e blá-blá-blá.
Trumpismo
O leitor deve ter notado que este texto saltou do início para a conclusão do artigo do Esquerda Online. O intuito foi justamente preservá-lo de ter de enfrentar dezenas de milhares de caracteres, cujo intuito não é outro que o de gerar confusão.
Em todo caso, vale a leitura, pois ali se vê, por exemplo, a crítica reacionária à internet. A internet tem sido alvo de censura. Em países “democráticos”, “antifascistas”, como a Inglaterra, pessoas estão sendo presas por postarem mensagens de apoio à resistência palestina em sua luta contra o genocídio na Faixa de Gaza. Ou seja, os “democratas” estão fazendo de tudo para proteger o governo fascista israelense.
O bombardeio a Donald Trump também não é ocasional, coincide com o que vem fazendo a grande imprensa desde seu primeiro mandato, pois sua eleição é um fator de crise dentro do imperialismo.
Ainda que Trump venha sendo de muitas maneiras pressionado e controlado pelo grande capital, sua base eleitoral o pressiona para não financiar guerras e invista na economia dos Estados Unidos.
Na última corrida presidencial, em nome de combater o fascismo, a maioria da esquerda pulou nos braços do Partido Democrata americano, pois Joe Biden, depois Kamala Harris, seriam o mal menor.
Esse é o intuito do artigo do Esquerda Online, tentar convencer sua militância e à esquerda de modo geral, que a maneira de enfrentar a “grande novidade” neofascista é se tornando um apêndice do Partido Democrata.
A política do Esquerda Online é a liquidação da esquerda. Não é à toa que seus dirigentes, como Valério Arcary, têm se empenhado em criticar Trótski e por extensão o marxismo.





