Editorial

Luta contra crime organizado é, na verdade, luta contra esquerda

A luta contra o crime organizado se tornou a mais nova bandeira da reação, revelando uma nova ameaça contra as organizações de luta do povo

A luta contra o crime organizado se tornou a mais nova bandeira da reação. Uma nova máscara para a repressão, tão útil quanto a famigerada “luta contra o terrorismo”, que já serviu para justificar desde a invasão do Iraque até a perseguição da esquerda na América Latina. Agora, tudo pode ser enquadrado como “crime organizado”. É o novo rótulo mágico da burguesia para justificar todo tipo de bandalheira policial, jurídica e militar.

Estamos assistindo à consolidação de um novo fantasma, cuidadosamente fabricado pelos aparatos ideológicos do imperialismo, para fazer a classe média se sentir segura apoiando a repressão. E setores da esquerda embarcam felizes nessa canoa furada.

O respeitador dos direitos humanos Estado de “Israel”, que já assassinou mais de 50 mil pessoas na Palestina, agora diz que o Primeiro Comando da Capital está ligado ao Hesbolá. Ou seja, o crime organizado brasileiro virou aliado do “terrorismo islâmico”.

É uma denúncia absurda e grotesca. Serve, porém, para justificar a intensificação da repressão contra os apoiadores da causa palestina em primeiro lugar, e a população em geral no fim, mesmo que a imensa maioria não seja nem criminosa, nem organizada e menos ainda do Hesbolá.

Uma prova disso é a lei que está tramitando no Congresso Nacional que propõe o aumento de penas para pessoas que são receptoras de celulares roubados, sob a desculpa de combater o crime organizado. Devemos nos perguntar: a pessoa que compra o celular roubado, o seu problema é “mau-caratismo” ou que ela simplesmente não tem condições de comprar um novo? E o crime organizado agora prefere roubar celulares do que traficar drogas?

Enquanto isso, o sionismo manda no Brasil. Agora, sua grande preocupação também passou a ser o crime organizado, como vimos pela acusação de ligação do PCC com o Hesbolá. Outra denúncia feita por “Israel” é a de que a tríplice fronteira é uma zona de crime, possivelmente pela alta quantidade de comerciantes árabes, ou podem até mesmo ter detectado que alguém na área manda dinheiro para o Hesbolá — o que em si não é um crime, pois o Hesbolá é um partido político normal, em um sentido jurídico.

No fim das contas, qual seria o interesse do imperialismo em combater o crime organizado? É comprovado por meio de documentos oficiais, por exemplo, que o FBI contratou a máfia para matar Fidel Castro. Ou seja, quando é do seu interesse, a burguesia irá se aliar ao dito crime organizado, mesmo que só a alguns grupos específicos.

Com isso em mente, é óbvio que o combate ao crime organizado é um golpe. A burguesia não está preocupada com a violência que atinge o povo, com os tiroteios nas favelas e no campo, com o desaparecimento de jovens, o assassinato de índios ou com o sofrimento das famílias operárias. Está preocupada, sim, em manter sua ditadura, impedir qualquer tipo de organização independente da classe trabalhadora e justificar, diante da opinião pública, o fortalecimento de um verdadeiro Estado policial.

Essa nova agitação reacionária, que une os setores mais podres da direita com os reformistas de “esquerda”, tem como objetivo central a criminalização da pobreza e da organização popular. O “crime organizado” vira um rótulo tão flexível quanto o “terrorismo”: pode ser usado para justificar a prisão de um camelô, o assassinato de um morador de favela, a invasão de comunidades inteiras pelas forças armadas ou até mesmo o fechamento de partidos políticos. 

A esquerda que se recusa a ver essa realidade, que acredita que o Estado burguês vai combater o crime em defesa dos pobres, está semeando ilusões perigosas. No fim, todas essas medidas serão aplicadas contra o próprio povo e contra a própria esquerda.

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