Editorial

Lula reconhece governo golpista do Equador

Presidente brasileiro adotou posição oposta àquela que tomou diante das eleições presidenciais venezuelanas

O governo brasileiro, chefiado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já reconheceu as eleições equatorianas, que reelegeram o presidente fascista Daniel Noboa.

“Saúdo o povo equatoriano e o presidente reeleito, Daniel Noboa, pelas eleições de domingo, 13 de abril”, diz um comunicado oficial. “O Brasil seguirá trabalhando com o Equador em defesa do multilateralismo, pela integração sul-americana e o desenvolvimento sustentável da Amazônia”.

Em uma disputa muito acirrada, Noboa derrotou a candidata Luisa González, apadrinhada pelo maior líder popular do país, Rafael Correa.

Ao contrário da eleição anterior, ocorrida em 2023 e que também foi protagonizada por Noboa e González, o pleito deste ano foi marcado pelas denúncias de fraude eleitoral. Os apoiadores de González listaram vários indícios de que as eleições teriam sido manipuladas em favor do atual presidente. Entre eles, está o fato de que a candidatura de González, que ficou em primeiro lugar no primeiro turno, praticamente não cresceu na votação final.

O partido de González e Correa também denunciaram a ocorrência de apagões inesperados e falhas de transmissão eletrônica em locais importantes que podem ter causado alterações na contagem e a presença excessiva de tropas militares, que teria obstruído o trabalho de observadores e pesquisadores independentes.

Ainda que a fraude seja escancarada e que esta fraude estaria a serviço de uma ofensiva do grande capital contra todos os povos latino-americanos, é compreensível, do ponto de vista da diplomacia, que o governo brasileiro reconheça o resultado. Afinal, as eleições equatorianas são um assunto do povo equatoriano. O que chama a atenção, no entanto, é que, neste caso, o respeito à soberania de um país latino-americano não passa de uma política de conveniência.

Em 2024, quando a direita venezuelana, sem prova alguma, acusou o governo chavista de fraude, o governo Lula se recusou a reconhecer a reeleição de Nicolás Maduro. O motivo? A campanha histérica, promovida notoriamente pelo Departamento de Estado norte-americano, de que teria havido fraude.

Do ponto de vista diplomático, as situações são as mesmas. Do ponto de vista político, a posição do governo em relação ao caso equatoriano expressa uma adaptação à política do imperialismo de estabelecer ditaduras na região. No que diz respeito ao caso venezuelano, por outro lado, representa uma colaboração com o imperialismo em sua política de derrubar governos progressistas.

A diferença no tratamento dado a cada um dos casos é tão grande que Breno Altman, do mesmo partido de Lula, ironizou a posição do governo:

“O presidente Lula ⁩ já reconheceu, em respeito à soberania equatoriana, a vitória de Daniel Noboa, de direita, apesar das muitas denúncias de fraude. Mas por que a mesma regra não valeu para a Venezuela de Maduro?”.

O governo Lula opta por favorecer o imperialismo em sua ofensiva contrarrevolucionária na América Latina porque acredita que é possível chegar a um acordo com o grande capital que o permita permanecer no mandato. Pura ilusão. Esta política fará com que o governo se desmoralize ainda mais perante sua base e seja visto como fraco por seus inimigos.

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