Brasil

Lula e Margem Equatorial, Dilma e Belo Monte: golpe à vista?

Colunista da Folha sugere que Lula, ao defender a exploração do petróleo da Margem Equatorial, estaria seguindo os passos de Dilma, quando promoveu a usina de Belo Monte

O colunista da Folha de São Paulo, Marcelo Leite, que se autodenomina “jornalista de ciência e ambiente”, escreveu artigo intitulado Lula pressiona Ibama por petróleo como Dilma fez com Belo Monte, no qual aponta supostas “incoerências” do presidente Lula. Segundo o colunista, Lula busca posar de “estadista verde” ao mesmo tempo em que pressiona o Ibama para liberar a exploração do petróleo na Margem Equatorial.

A tal transição energética

Leite argumenta que ‘Luiz Inácio mandou de novo às favas os escrúpulos de coerência ao defender a exploração de petróleo na margem equatorial”. Ele continua:

A desculpa é aquela fabricada pela ala do crescimento a qualquer custo em seu governo, que reúne de nacionalistas do PT (ou coisa pior) a oportunistas argentários do centrão: financiar a transição energética. Balela.

“Primeira incoerência: transitar de energia fóssil para fontes limpas implicaria defasar a produção de petróleo, não aumentá-la. Ou, pelo menos, apresentar um plano indicando quando isso acontecerá e quanto da renda gerada será aplicada na transição –além de como. Nada”.

A dita “transição energética” é na maioria das vezes usada de maneira leviana, como um aríete contra os esforços de exploração dos recursos do subsolo brasileiro, bem como contra as iniciativas de desenvolvimento industrial e econômico. 

O colunista da Folha declara que o argumento do financiamento da transição energética, usado para explorar os recursos da costa brasileira, é “balela”, uma vez que não há sinais de diminuição da produção de petróleo nem um plano que previsse tal perspectiva. 

A defendida transição energética não é algo simples nem pode ser feita bruscamente por qualquer país, ainda mais um país atrasado como o Brasil. Para modificar radicalmente a matriz energética da economia, da sociedade, é necessário um investimento gigantesco em pesquisa e desenvolvimento, e depois em produção.

Para tal, um grande desenvolvimento econômico é exigido, sendo que o Brasil é um país atrasado, sabotado constantemente pelo imperialismo. Uma das frentes dessa sabotagem é justamente a questão do petróleo.

O petróleo ainda é uma das fontes de matéria-primas energéticas mais decisivas da economia mundial, e as vias de utilização desse recurso pelo Brasil, para fins industriais e de desenvolvimento econômico, encontram-se permanentemente interditadas pela ação do capital imperialista. Falar em transição energética e, ao mesmo tempo, defender o bloqueio da exploração do petróleo, uma das vias para o desenvolvimento do país, isso, sim, é balela.

A farsa da COP

Leite, então, aponta a segunda incoerência de Lula:

A outra incoerência presidencial reside na expectativa de brilhar com a cúpula do clima COP30 em Belém, perfilando-se como liderança verde no mundo. O Planalto precisa cair na real.

“A capital paraense tem 20% da população atendida pela rede de esgoto, segundo o Instituto Água e Saneamento. O Pará desmatou 2.362 km2 em 2024 (38% do total derrubado na Amazônia Legal, diz o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A cidade-sede tem 18 mil vagas de hospedagem, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, para 40 mil a 60 mil visitantes esperados.”

Mais do que as incoerências de Lula, o que sobressai aqui são as “incoerências” do autor do texto. Leite sustenta que Lula quer perfilar como “liderança verde no mundo” com a realização da COP-30 neste ano, mas cita dados que jogam contra o seu argumento fundamental, de crítica à exploração do petróleo na costa norte-nordeste do país.

Ele destaca que, em Belém, sede da COP-30, apenas 20% da população possui acesso à rede de esgoto e que o setor hoteleiro da cidade passa longe de ter a capacidade para atender às expectativas de público do evento. Isto é, Leite aponta elementos do baixo desenvolvimento econômico e social da cidade. 

Diante desses dados, o óbvio seria defender o desenvolvimento econômico da região, para tirá-la do atraso. O óbvio, por consequência, seria defender a exploração do petróleo presente na região, um recurso ainda inexplorado e que se encontra embargado por obra de agências governamentais que atuam como ferramentas de poderosos interesses estrangeiros.

Paradoxalmente, o que o colaborador da Folha de São Paulo faz é exigir que Lula mantenha a “coerência” num suposto propósito de ser uma “liderança verde” e abandone de vez os esforços para explorar o petróleo brasileiro. Leite, com isso, quer de fato manter Belém e o resto do país na miséria e no atraso. 

Quem tem complexo de vira-lata: o autor ou Lula?

As incoerências do Marcelo Leite não terminam por aí. Ele diz: “Lula quer entrar para a Opep. Mais uma demonstração do complexo de vira-lata no país do futuro, mas sem Nobel, sem Oscar (até aqui), sem aumento de produtividade, sem controle da corrupção e sem boas notas no Pisa”.

O autor parece desconhecer o significado da expressão “complexo de vira-lata”. Nelson Rodrigues, que popularizou a expressão na década de 1950, definiu-a assim: “Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol”.

Rodrigues, ainda que de maneira não tão precisa, captou um aspecto real de um país semi-colonial, ainda não plenamente emancipado frente às potências imperialistas. O Brasil é uma nação ainda dominada por outras.

Os destinos do país, em grande medida, são decididos, não pelos brasileiros, mas por forças exteriores, que criam no País uma série de agências para manter o controle e dominação sobre o povo dominado. Basta ver a questão do petróleo, que reflete essa situação de modo cristalino: o povo brasileiro não consegue explorar o petróleo que se situa no seu próprio território e que é seu por direito. Não consegue explorá-lo porque justamente poderosas forças não o permitem. 

Quando Lula afirma que quer entrar para a Opep, isto é, para o agrupamento que reúne os principais países exportadores de petróleo, ele está expressando algo que vai no sentido contrário ao do complexo de vira-lata. Lula, nessa questão em particular, manifesta a intenção de explorar uma riqueza economicamente importante, capaz de impulsionar o desenvolvimento da economia nacional e melhorar as condições materiais de vida do povo.

O sentido desse propósito nada tem a ver com o estímulo à submissão às potências estrangeiras, típico do “viralatismo”. Ao contrário, tal medida contribuiria para o fortalecimento da soberania nacional e criaria as condições para a utilização de um recurso econômico decisivo em benefício do próprio povo, e não das petroleiras estrangeiras que costumam dominar esse mercado.

Fica claro que o complexo de vira-lata, nesse caso, pertence ao autor do texto, que lamenta o fato de o país ainda não ter sido agraciado ainda com os prêmios que as nações imperialistas concedem aos seus colaboradores, como o Oscar, o Nobel, etc. 

Belo Monte e Margem Equatorial: vem golpe aí?

No corpo do texto, Marcelo Leite não diz uma palavra sobre Belo Monte e do governo Dilma Rousseff. A comparação só aparece no título.

Isso é curioso. A construção da Usina de Belo Monte, a quarta maior usina do mundo, localizada na bacia do Rio Xingu, no norte do Estado do Pará, sofreu uma das maiores resistências por parte de ambientalistas, muitos deles financiados por ONGs internacionais, uma verdadeira campanha internacional. A campanha contra a usina teve um importante papel em mobilizar setores da esquerda contra o governo Dilma Rousseff, que seria derrubada futuramente numa operação golpista promovida pelo imperialismo.

O autor sugere, portanto, que Lula, ao pressionar em favor da exploração do petróleo da Margem Equatorial, estaria seguindo os passos de Dilma Rousseff, quando ela promoveu a construção da usina de Belo Monte. O autor sugere, portanto, um novo movimento golpista contra o governo Lula, também sob o pretexto da defesa do meio ambiente. 

As direções políticas e as organizações de massas dos trabalhadores devem ficar atentos a essa frente de batalha que, em perspectiva, pode evoluir para uma luta decisiva para a situação política nacional.

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