Brasil

Lula defende política de Haddad e ministério a Gleisi Hoffmann

Coletiva de imprensa tratou ainda de temas como a relação com o presidente norte-americano, juros, a batalha política com o imperialismo na questão ambiental e as eleições de 2026

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deu uma entrevista coletiva a diversos órgãos de imprensa na última quinta-feira (30), no Palácio do Planalto, sede do Governo Federal. Em pouco mais de uma hora, o mandatário brasileiro tratou de diversos temas, como crescimento econômico, reforma ministerial, BRICS, COP 30 e política industrial.

Na entrevista, o presidente defendeu a continuidade da política econômica de Haddad, destacando a importância da responsabilidade fiscal e a necessidade de manter os gastos públicos dentro de um limite:

“Já disse isso centenas de vezes. Eu aprendi a estabilidade fiscal com Dona Lindu. Minha mãe, embora não soubesse ler e nem soubesse diferenciar um ‘o’ de um ‘r’, sabia contar dinheiro. Ela pegava o dinheiro dos oito filhos, colocava tudo junto, contava, pegava as dívidas e dizia: ‘Isso aqui é para pagar, isso aqui é para pagar, e isso aqui é para o transporte, para namorar…’ Eu era o caçula, para mim nunca sobrava nada! Mas é assim que governo este país: não podemos gastar mais do que temos capacidade de arrecadar. Se tivermos que fazer investimentos para construir novos ativos que aumentem o patrimônio brasileiro, vamos fazer uma dívida saudável, uma dívida para construir algo que beneficie o país e a população. Fora isso, se começarmos a gastar mais do que temos, o país quebra. Quem usa cartão de crédito sabe do que estou falando. Vai gastando um pouquinho mais, compra algo de R$50, depois mais alguma coisa. Chega no final do mês e o cartão de crédito estoura. Não vou deixar o Brasil passar por isso. Algo que me entristece é ver pessoas ou setores tentando influenciar a opinião pública de forma negativa, dizendo que o país está com déficit fiscal, que o déficit fiscal é um problema. O que aconteceu com o déficit fiscal? O que aconteceu com o déficit fiscal? Está em 0%, não é 2,5%, como recebemos anteriormente, é zero. E vai continuar assim, porque tenho muita responsabilidade com a minha casa e com este país. Sei o que é sofrer a irresponsabilidade de um governo. Quando falo que vamos controlar o orçamento do país, é porque, se não acertarmos, quem vai sofrer é o povo. Se o país quebrar, quem vai pagar a conta é o povo trabalhador. E há quem queira cortar do trabalhador para beneficiar aqueles que ganham bilhões. Eu já provei minha responsabilidade em 8 anos de mandato e vou provar novamente nos 4 anos que estão por vir.”

O presidente ainda abordou a questão da reforma ministerial, afirmando que, embora não haja mudanças definidas no momento, Gleisi Hoffmann tem competência para ocupar qualquer cargo de ministro:

“Deixe-me dizer o seguinte: a companheira já foi ministra-chefe da Casa Civil durante o governo Dilma. Na época, eu estava preso, e fui um dos responsáveis pela Gleisi se tornar presidenta do nosso partido. Ela é um quadro muito refinado politicamente, e poucos têm a capacidade dela no Brasil. Alguns dizem: ‘Ela é muito radical para ser presidenta do PT.’ Ora, para ser presidenta do PT, ela tem que falar a linguagem do PT. Se não fosse assim, ela poderia ir para o PSDB ou outro partido. Para ser do PT, ela precisa ter a confiança do PT. Então, ela tem total capacidade de ser ministra. Até agora, não há nada definido. Não conversei com ela, ela não conversou comigo, ainda não sentei para pensar se vou fazer mudanças no ministério. Mas vocês podem ter certeza: quando eu fizer qualquer troca, serão os primeiros a saber, e não por um ‘furo’ de articulista. Eu vou comunicar diretamente a vocês. A Gleisi é um quadro que tem competência para ser ministra em qualquer país do mundo.”

Lula também comentou o crescimento econômico, destacando o otimismo em relação ao PIB e a recuperação da indústria brasileira:

“Vocês lembram que estive em Hiroshima em janeiro de 2023, por ocasião do G7, quando o FMI disse que o Brasil só ia crescer 0,8%? Eu disse para ele: ‘Olha, você não conhece o Brasil, não conhece o tipo de governo que fazemos, e você vai perceber que o Brasil vai crescer muito mais.’ E foi o que aconteceu. O Brasil cresceu 3,2%. Agora, os especialistas dizem que o Brasil vai crescer apenas 1,5% em 2024, mas nós vamos crescer entre 3,5% e 3,7%. Isso demonstra que as coisas estão sendo feitas, que as sementes estão sendo plantadas, e nós vamos começar a colher. Há quanto tempo vocês não viam a indústria brasileira crescer? A indústria brasileira voltou a crescer, com forte investimento público e privado, sobretudo a nova indústria brasileira, coordenada pelo companheiro Aluizio, que está tendo um sucesso extraordinário. A indústria chegou a crescer 3,4%. Este é o Brasil que vamos discutir com o povo brasileiro em 2025, nas ruas deste país.”

Sobre a COP 30, o presidente destacou a importância da Amazônia para a conferência e a necessidade de compromisso global com o financiamento ambiental:

“A COP 30 será uma referência do que queremos para o futuro. Lá estarão os indígenas, quilombolas, chefes de Estado e especialistas para discutir. Queremos uma discussão muito verdadeira para saber se estamos falando sério sobre a questão climática. Quando as pessoas falam em dinheiro, os países ricos dizem: ‘Vamos ajudar com dinheiro’. Eles precisam entender que, quando falamos em desmatamento zero até 2030, devemos lembrar que, sob cada árvore, há um indígena, um ribeirinho, um pequeno trabalhador rural. Essas pessoas precisam viver e ter acesso às coisas que todos têm. Elas querem ter os bens materiais que a civilização conquistou. Então, é isso que vamos discutir na COP 30.”

O presidente reforçou ainda que sua gestão buscará um diálogo direto com a sociedade, criticando a disseminação de informações falsas:

“Eu digo sempre o seguinte: quem quiser derrotar a política do meu governo vai ter que aprender a fazer luta de rua, porque é mais fácil ficar na internet mentindo. Agora, é muito difícil ter coragem de ir para a rua, conversar com o povo, discutir com ele as coisas que estão acontecendo no país. Esse é o meu tipo de governar, e é assim que fazemos as coisas darem certo no Brasil. Fizemos um G20 extraordinário. Não tenho humildade em dizer que fizemos o mais importante G20 da história. Agora vamos repetir o maior BRICS da história e também a melhor COP já realizada. Esse é o Brasil que quero construir, com a participação de todos vocês. Agora, me coloco à disposição para responder às perguntas.”

Sobre a decisão do Copom de aumentar a taxa de juros para 13,25% e a manutenção da previsão de novo aumento em março, perguntando se Gabriel Galípolo, indicado por Lula para a presidência do Banco Central, poderia ter alterado essa trajetória.

O presidente respondeu que, com sua experiência no Banco Central, entende que não se pode fazer mudanças radicais de uma hora para outra. Ele afirmou que o aumento já havia sido encaminhado pela gestão anterior e que confia plenamente no trabalho de Galípolo. Destacou a necessidade de paciência e afirmou que o governo, a sociedade e o Banco Central precisam cumprir seus respectivos papéis para criar as condições de redução dos juros dentro do possível.

A coletiva teve também uma pergunta sobre o encontro de Lula com o presidente da Vale Gustavo Pimenta, após críticas feitas pelo governo à mineradora. O presidente destacou que reconhece a importância da empresa para o Brasil, mas criticou sua gestão anterior, que, segundo ele, foi irresponsável e pouco dialogava com o governo. Afirmou que a reunião foi produtiva e que houve um compromisso de recuperação da posição de destaque da Vale no mercado internacional. Também mencionou o acordo para a reparação do desastre de Mariana, ressaltando a necessidade de garantir que os recursos cheguem à população afetada.

A alta dos preços dos alimentos também foi tema de uma pergunta, assim como a possibilidade de redução da alíquota de importação como medida para conter a inflação. Lula reconheceu o impacto negativo da alta de preços sobre os mais pobres e defendeu o incentivo à produção nacional, especialmente da agricultura familiar. Ele afirmou que pretende dialogar com os produtores para entender melhor os aumentos e buscar soluções conjuntas, sem recorrer a medidas populistas ou ineficazes. Além disso, mencionou a criação de um programa de crédito para impulsionar o consumo e dinamizar a economia.

Sobre possíveis mudanças ministeriais, foi mencionando a ministra Sônia Guajajara como potencial substituta na presidência da Funai. Lula afirmou que mudanças no governo são prerrogativa do presidente e que sua equipe ministerial tem trabalhado bem. Reforçou que o crescimento econômico e as políticas de inclusão social continuarão sendo prioridades.

A coletiva prosseguiu com questionamentos sobre as pesquisas eleitorais e a avaliação do governo após dois anos. Lula afirmou que é cedo para avaliações definitivas e que não se preocupa com pesquisas, mas sim com a execução de políticas públicas. Destacou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que deve gerar empregos e fortalecer a infraestrutura do país. Ele reafirmou seu compromisso de continuar governando com responsabilidade fiscal e social.

Finalmente, sobre a relação de Lula com o presidente dos EUA, Donald Trump, e possíveis impactos caso o presidente americano taxe produtos brasileiros. Lula afirmou que, se houver taxação, o Brasil responderá com reciprocidade. Disse que sempre manteve relações respeitosas com líderes republicanos e democratas, e que espera o mesmo respeito de Trump. Sobre contatos diretos, afirmou que não vê necessidade imediata, mas que poderia haver um encontro em eventos internacionais.

Questionado sobre o relacionamento do governo com o Congresso, especialmente com a possível eleição de Hugo Mota na Câmara e Davi Alcolumbre no Senado. Lula disse que não se envolve em eleições do Legislativo e que seguirá governando independentemente da configuração do Congresso. Reafirmou a importância da cooperação entre Executivo e Legislativo para o desenvolvimento do país.

Retomando o tema do ajuste fiscal e a sustentabilidade das contas públicas a longo prazo. Lula negou que haja um rombo fiscal em seu governo, atribuindo problemas fiscais à gestão anterior. Reforçou que sua administração busca equilíbrio entre responsabilidade fiscal e investimentos sociais. Mencionou a nova política tributária que entrará em vigor em 2027 como um fator positivo para a arrecadação e o crescimento econômico.

Por fim, novo questionamento foi feito sobre a reforma ministerial e a possível vinculação de apoio à reeleição de Lula ou de um candidato governista. O presidente disse que eventuais mudanças no ministério serão feitas com base na eficiência dos ministros e na necessidade do governo, não em alianças eleitorais. Confirmou que o governo enviará o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, cumprindo uma promessa de campanha.

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