No momento em que os Estados Unidos enviam navios de guerra para a Costa da Venezuela e o próprio presidente norte-americano admite ter executado sumariamente supostos “narcotraficantes” no Mar do Caribe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem a público defender a “neutralidade” diante do conflito iminente entre os dos países. Em entrevista ao Sistema Brasil de Televisão (SBT), Lula disse que “o Brasil vai ficar do lado em que sempre esteve: do lado da paz” e que “se tem divergência entre duas nações, não tem coisa melhor, mais barata, para se resolver do que sentar numa mesa de negociação e conversar”.
O Brasil, como um país oprimidos, não deveria ficar do lado de uma “paz” em abstrato, mas sempre do lado dos oprimidos. Afinal, o povo brasileiro sempre foi solidário com a luta dos oprimidos, e o apoio a esta luta enfraquece aqueles que oprimem o Brasil.
O discurso da “paz” tem sido utilizado pelo governo brasileiro para virar as costas às nações que, depois de agredidas, resolveram reagir aos ataques criminosos do imperialismo. Foi o caso do povo palestino, que, ao lançar a gloriosa Operação Dilúvio de Al-Aqsa por meio de seu principal partido político, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), foi classificado pelo governo como “terrorista”. Também foi o caso da República Islâmica do Irã, que, em vez de receber o apoio do governo brasileiro, foi exortado a não reagir com violência.
Neste caso, no entanto, o governo Maduro não tomou nenhuma iniciativa militar. Falar em “paz” só poderia ter um único sentido: pressionar os Estados Unidos contra o seu esforço militar. A guerra foi declarada unilateralmente pelos norte-americanos. Foi o governo norte-americano que decidiu não reconhecer o governo venezuelano, que pôs a cabeça do presidente venezuelano a prêmio e que enviou navios de guerra para a costa de um país vizinho ao Brasil. Se Lula quer tanto a paz, por que fala em “divergência entre duas nações”? O que exatamente a Venezuela teria para negociar com um país que aponta os canhões para seu território?
O governo brasileiro está, deliberadamente, apoiando um dos lados do conflito: o dos agressores, o do imperialismo. Trata-se de um dos piores erros de política externa de toda a carreira de Luiz Inácio Lula da Silva.
A colaboração com uma eventual intervenção militar na Venezuela é o resultado de um deslocamento cada vez mas à direita do governo. Lula, ao contrário da atual “isenção” que prega, já havia, em um gesto deplorável de ingerência estrangeira, contestado as eleições venezuelanas. O governo brasileiro chegou a exigir que o regime venezuelano “comprovasse” a vitória eleitoral de Nicolás Maduro — um aliado histórico do Brasil que, por sua vez, nunca pediu “prova” de que Lula seria inocente, quando este foi condenado em um processo fraudulento.
A posição do governo brasileiro se torna ainda mais negativa a partir do momento em que ela ocorre durante uma suposta cruzada de Lula em defesa da “soberania nacional”. Após o País ser taxado por Donald Trump com o objetivo de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), Lula fez da soberania o seu principal tema de campanha. Agora, a farsa se revela de maneira cristalina: por que o presidente espera solidariedade quando meia dúzia de produtos agrícolas são taxados se ele não é solidário quando navios de guerra são enviados a outro país?
A “defesa da soberania” do governo brasileiro não é defesa de soberania nenhuma. Não passa de um discurso eleitoral de baixa intensidade, atrapalhado pela própria atitude do governo diante de Donald Trump, humilhando-se em tentativas de negociação.
O autodeclarado “isento” Lula, vale lembrar, apoiou a candidatura do rival de Trump, Joe Biden, nas eleições norte-americanas em 2024. Uma atitude completamente desnecessária, pois contribuiu para azedar as relações entre o Brasil e outro país, às custas unicamente dos interesses partidários do presidente brasileiro. Agora, no entanto, Lula teria a oportunidade de mostrar porque considerava Trump uma ameaça tão grande a ponto de se meter nas eleições norte-americanas. Seria a hora de provar que tinha razão.
Mas o presidente vai na direção contrária. Está apenas confirmando que, seja quem for o chefe, o governo brasileiro irá se curvar diante da vontade do imperialismo. É uma vergonha para País e um desastre enquanto política.
A submissão não trará resultados positivos nem mesmo para o governo. Quanto mais colonizado estiver o País, menor será a necessidade de a burguesia tolerar um governo de esquerda.





