Nas colinas do sul do Líbano, um cenário de resistência civil e violência sistemática se desenha diariamente. Desde a expiração do prazo de 60 dias para a retirada total das tropas israelenses, em 26 de janeiro de 2025, milhares de libaneses tentam retornar a vilarejos ocupados pelo inimigo sionista, enfrentando ataques aéreos, demolições e sequestros. Os números oficiais do Ministério da Saúde libanês revelam um saldo de 36 feridos em 24 horas – incluindo seis civis baleados durante tentativas de retorno a Iaroun e 20 vítimas de um ataque aéreo em Nabatié al-Fauqa.
Em Maroun al-Ras, epicentro da resistência, moradores contornam barreiras militares israelenses usando rotas secundárias para resgatar corpos sob escombros. “Retornaremos com pedras e óleo fervente, como nos anos 80”, declarou um residente à rede Al Mayadeen, enquanto um drone israelense lançava três bombas explosivas sobre Taloussá, destruindo um trator e ferindo um civil. A tática de retaliação incluiu ainda a demolição de poços artesianos em Houla e incêndios criminosos em casas entre al-Qantara e Taibé.
Apesar do cessar-fogo mediado pela ONU em novembro de 2024, renovado pelo imperialismo até 18 de fevereiro, as violações israelenses, carro chefe da casa, persistem até hoje. Um trator militar avançou além da sede da UNIFIL em Mais al-Jabal para erguer novas fortificações, enquanto tanques Mercava protegiam operações de demolição em Maruahin. Ataques coordenados a caminhões de alimentos em Nabatié al-Fauqa – um deles atingido por míssil guiado – expõem a estratégia de asfixia econômica na região.
Enquanto civis montam acampamentos em estradas estratégicas, como o instalado por moradores de Quifar Quila na junção Deir Mimas-Qlaiaa, o Hesbolá cresce com amplo apoio popular, crescendo também politicamente. Mohammad Raad, líder do bloco parlamentar do grupo, classificou os ataques como “confirmação da ameaça sionista contínua” e defendeu o legítimo “direito sagrado de confrontar a ocupação”. Já o deputado Ihab Hamadeh foi mais direto: “Nossa única opção é a Resistência Armada”.
O governo libanês, por sua vez, tenta equilibrar denúncias internacionais e pressão interna, capitulando parcialmente perante o inimigo sionista, mas reconhecendo o valor da resistência. O primeiro-ministro Najib Mikati condenou os ataques como “violação flagrante do acordo” e acionou o major-general Jasper Jeffers, chefe do comitê de monitoramento da ONU, exigindo ação concreta. O Ministério das Relações Exteriores libanês destacou em comunicado que o país cumpriu “integralmente” o cessar-fogo, ao contrário de “Israel”, que mantém tropas em pelo menos oito vilarejos fronteiriços.
Das 18 mil pessoas deslocadas durante a guerra dos sionistas contra o povo libanês, apenas 32% conseguiram retornar – muitos encontram casas reduzidas a escombros e terras agrícolas minadas. Em Majdal Selem, um ataque de drone deixou dois civis em estado crítico, sobrecarregando hospitais já sem insumos básicos. A ONU estima que 40% das fontes de água potável na região foram destruídas ou contaminadas por resíduos explosivos.
Em Quifar Quila, onde um jipe militar israelense vigiava manifestantes na tarde de 29 de janeiro, a frase de um ancião resume o sentimento local: “Eles pensam que tanques apagam memórias. Mas nossas crianças desenham mapas da aldeia na areia, marcando cada casa destruída“. Enquanto a comunidade internacional debate cláusulas em salas refrigeradas, no sul do Líbano, a resistência – armada ou não – escreve seu capítulo mais sangrento desde a guerra de 2006, podendo ser, também, o mais heroico.